Pessoas com déficit de autocontrole, o que podem fazer para melhorá-lo?

A ausência de limites durante a infância pode ser um fator chave que explicaria, potencialmente, o déficit de autocontrole na idade adulta. Vamos descobrir o que mais há por trás desse tema.
Pessoas com déficit de autocontrole, o que podem fazer para melhorá-lo?
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 02 abril, 2023

Como está sua capacidade de autocontrole? Você abandona rapidamente os projetos que realiza? Você tem dificuldade em tolerar a frustração? Para Jeffrey Young, o déficit de autocontrole pode ser decorrente de como nos relacionamos com os limites que impomos a nós mesmos.

Mais especificamente, Young refere-se a dificuldades relacionadas ao “auto-registro”, “estabelecimento de metas” e capacidade de auto-reforço. Esses são alguns dos aspectos que a intervenção através da terapia do esquema tenta promover. Agora, o que é um esquema?

“O objetivo da terapia do esquema é um processo de autodescoberta e transformação no qual os pacientes aprendem a identificar e lidar com padrões disfuncionais que estão afetando suas vidas.”

-Jeffrey Young-

Os esquemas

Um esquema é um ‘modo de vida aprendido’ e seria o resultado da história biográfica única e idiossincrática de uma pessoa. Especificamente, Young identifica 18 esquemas; entre eles podemos citar o do autossacrifício, o do fracasso ou o da subjugação.

São pacotes de dados que indicam, inconsciente ou automaticamente, como reagir aos acontecimentos da vida. Ou seja, como e o que pensar, o que sentir e como enfrentar as vicissitudes. Os esquemas são veículos de sobrevivência; no passado tinham uma função: apoiar e proteger a pessoa.

Por exemplo, Luísa é uma paciente que vem ao consultório e, após avaliação pelo Questionário de Esquemas de Young, obteve pontuação significativa no esquema “autocontrole insuficiente”. Na gênese disso, identificamos o seguinte:

  • A mãe aparecia para ela como “desamparada” e frequentemente pedia que a ajudasse nas tarefas diárias. Portanto, quem atendia às necessidades emocionais da mãe era a própria Luísa. Consequentemente, as necessidades de Luísa não foram atendidas.
  • O pai de Luísa era frequentemente irascível e irritado e era comum ele dizer a Luísa, em tom hostil: “Não sei porque você protege tanto a sua mãe.”
  • Luísa viveu uma infância com poucos limites. Como estava encarregada de “cuidar da mãe”, assumiu desde muito cedo o papel de adulta. Ela poderia fazer o que quisesse, desde que cuidasse de sua mãe.
  • Seus pais nunca compartilharam seus problemas, nem um com o outro nem com Luisa.

Luísa, para sobreviver durante toda a infância, “fazia o que queria”. Serviu para ela. No presente afirma que “tudo lhe parece entediante” e que “não consegue focar-se em nada, porque tudo o que começa, ela abandona quando perde o encanto”.

O resultado é que os esquemas num momento inicial são muito adaptativos, pois promovem a sobrevivência. No entanto, com o tempo, eles podem se tornar aversivos e desadaptativos. Se os esquemas exercem controle excessivo sobre a pessoa, eles se tornam esquemas de autossabotagem (Young, 2015),

“Os esquemas se originam a partir de representações baseadas na realidade e podem inicialmente gerar respostas adaptadas a elas.”

-Jeffrey Young-

Mulher com sua mãe apontando para uma janela
Prestar atenção aos outros e negligenciar as próprias necessidades leva a esquemas aversivos.

O esquema de autocontrole insuficiente

O “esquema de autocontrole insuficiente” caracteriza pessoas que estão longe de conseguir se disciplinar. Isso se traduz no fato de o paciente achar difícil ou se recusar a usar o autocontrole. Conseqüentemente, ele sucumbe à emoção da incerteza, pois acha difícil ou não consegue limitar seus impulsos.

A pessoa, pela frustração que experimenta, conclui que é útil restringir a influência de seu mundo emocional. Em outras palavras, ele se recusa a expressar suas emoções e impulsos. Assim, estes se intensificam e o ciclo de autocontrole insuficiente e falta de autodisciplina se reinicia (Young, 2015).

Esse esquema está relacionado com um défice de autonomia. Quando a pessoa é adulta e se “separa” de sua família, é difícil para ela funcionar de forma independente como o resto da população.

As expectativas que têm sobre si mesmos e sobre o contexto que os cerca interferem na diferenciação da relação que tiveram na infância com os pais. No caso de Luísa, agora que “já não tem de cuidar da mãe” mas “de si mesma”, já não sabe como o fazer.

“Na forma mais branda desse esquema, os pacientes têm uma ênfase exagerada em evitar o desconforto. Por exemplo, eles evitam a maior parte do conflito ou desconforto.”

-Jeffrey Young-

O que as pessoas com déficit de autocontrole podem fazer?

Considerar ir a um psicólogo ou psicóloga pode ser uma alternativa útil para quem tem déficit de autocontrole, porque as pessoas com esses esquemas geralmente carecem de duas habilidades específicas: “autocontrole” ou “capacidade de conter experiências e impulsos emocionais” e “autodisciplina” ou “capacidade de lidar bem com o que é chato e frustrante durante o tempo que dura determinada tarefa”.

O objetivo da intervenção será ajudar a reconhecer o valor intrínseco da espera, ou seja, de prescindir do reforço imediato para atingir objetivos maiores a médio e longo prazo.

Para isso, é fundamental facilitar a expressão do universo das emoções que a pessoa possa sentir, bem como estimular pensamentos e comportamentos contrários aos ditados pelo esquema. Algumas das técnicas utilizadas são as que listamos abaixo (Young, 2015):

Mulher vestida de branco deitada em sua cama abraça um travesseiro
Pessoas com autocontrole insuficiente carecem da capacidade de se disciplinar.
  • Realizar uma reestruturação cognitiva, para que a pessoa aprenda as consequências de ceder ao impulso antes que ele a “abduza”. Por outras palavras, Luísa, entre a emoção de frustração que você sente e o impulso de abandonar tudo e fazer outra coisa (que depois abandonará), que pensamentos há?
  • Tarefas entre as sessões. Por exemplo, organizar-se e “obrigar-se” a realizar uma tarefa, mesmo que seja monótona e cause tédio. Também o fato de ser pontual ou de estruturar o dia a dia de acordo com determinadas atividades. O objetivo é tolerar a frustração e, para isso, é preciso entrar em contato com essa emoção.
  • As estratégias de meditação, que nos permitem alcançar estados agradáveis e relaxantes, são úteis para nos distrair e são recomendadas na terapia de esquema.
  • Às vezes, o terapeuta pode fazer cartões com pequenos lembretes que apontam as razões “por que o autocontrole é importante”, bem como os métodos (reestruturação, relaxamento ou tolerância à frustração) que foram ensinados.
  • A capacidade de recompensar realizações de atuação também é instruída. Em outras palavras, quando a pessoa é capaz de autocontrole, ela deve se dar um pequeno presente. Pode ser uma atividade, um reconhecimento verbal ou algo material.

Como vimos, o déficit de autocontrole poderia potencialmente ter sua origem em uma infância caracterizada pela ausência de limites. Consequentemente, quando a pessoa se torna adulta e se torna um “ser humano independente de seus pais”, ela descobre que está longe de saber o que fazer, como se organizar, como estruturar seus dias e sente uma grande frustração por isso. Nesses casos, a terapia baseada em esquemas pode ser de grande ajuda.

Esquemas disfuncionais geralmente se originam de experiências iniciais de abandono, negligência ou abuso emocional. E eles podem ser tratados por meio da terapia do esquema.”

-Jeffrey Young-


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  • Herrera Palacios, A., García Cruz, R., Higareda Sánchez, J. J., Romero Palencia, A., & Castillo Arreola, A. D. (2021). Validación del Cuestionario de Esquemas de Young (YSQ-S3) en Jóvenes Mexicanos. Acta de investigación psicológica, 11(2), 105-118. https://doi.org/10.22201/fpsi.20074719e.2021.2.386
  • López Pell, A. F., Cid Colom, J., Obst Camerini, J., Rondón, J. M., Alfano, S. M., & Cellerino, C. (2011). Guías esquematizadas de tratamiento de los trastornos de la personalidad para profesionales, desde el modelo de Young, Klosko y Wheishar (2003). Ciencias psicológicas, 5(1), 83-115. http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1688-42212011000100008&lng=es&tlng=es.
  • Young, J. E. (2015). Terapia de esquemas. Desclée de Brouwer.

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