Pessoas intransigentes: o custo das mentes fechadas

Cuidado com as pessoas intransigentes. Elas vão fazer você perder a calma e confrontar tudo o que você disser. Via de regra, a sua rigidez as impede de levar em consideração as opiniões e pontos de vista diferentes daqueles que elas sustentam a princípio.
Pessoas intransigentes: o custo das mentes fechadas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Teimosa, cabeça-dura… Poderíamos definir uma pessoa intransigente de várias maneiras, e talvez na maioria delas poderíamos classificá-la como uma pessoa de mente fechada. É muito difícil conviver e até mesmo dividir espaços com quem se apega ao seu próprio ponto de vista como regra e é incapaz de ouvir ou levar os outros em consideração.

Estamos diante de uma doença? Obviamente não. Será algum transtorno mental? Também não. Afinal, não podemos rotular simples traços de personalidade como condições clínicas.

Há jeitos de ser, de conceber o mundo e de se comportar que podem ser problemáticos e é aí onde sempre está o  desafio: na dificuldade de viver a vida com alguém que tem uma personalidade com muitas arestas.

O curioso é que não há muitos estudos sobre esse tipo de perfil; poderíamos dizer que há muita boataria para pouca informação. Assim, torna-se interessante entrar no labirinto peculiar daqueles que se definem por um conservadorismo cognitivo tão marcante. Vamos analisar.

Mulher chefe irritada com seus funcionários representando pessoas intransigentes

Como são as pessoas intransigentes?

Há algo essencial que é importante deixar claro. Todos nós temos o pleno direito de nos mostrarmos intransigentes com o que não gostamos ou com o que não está em sintonia com nossos valores. Fazer isso com respeito e assertividade faz parte do repertório mais básico de habilidades sociais. Porém, também é importante não fazer desse exercício defensivo uma constante no próprio comportamento.

É esta última característica que define as pessoas intransigentes. Uma prática e uma atitude persistente na oposição, no gosto pelo conflito, na obsessão pelo desagrado constante e na arte da teimosia.

Por outro lado, embora tenhamos apontado há pouco que não há muitos estudos sobre esse traço no campo da psicologia da personalidade, houve sim um campo que mostrou interesse por essa característica.

A psicologia social sempre quis conhecer e se aprofundar nos processos de resistência à mudança (Zuwerink e Devine, 1996). Por exemplo, o que faz uma pessoa se recusar a mudar de posição para chegar a um acordo? Por que alguém não é capaz de levar em conta outros argumentos que não os seus, ainda que sejam válidos? Diretamente da Universidade Rey Juan Carlos de Madrid (Espanha) chegam algumas pistas a partir de um dos seus estudos.

Características que definem as pessoas intransigentes

Todos conhecemos alguém com quem é muito difícil conversar ou chegar a acordos. Colegas de trabalho, amigos, vizinhos ou até mesmo parentes. Qual é a razão dessa teimosia que se combina com o egoísmo ? Vamos analisar.

  • Inflexibilidade cognitiva, definida pela incapacidade de mudar de ideia. Esta competência é básica para nos permitir aprender, para melhorar ao integrar novos conhecimentos.
  • A reatância psicológica é outro fator muito interessante. Essa teoria enunciada por Brehm define aquelas situações em que normas, sugestões ou afirmações alheias às próprias são automaticamente rejeitadas porque essas dinâmicas são interpretadas como desafios à própria liberdade.
  • As pessoas intransigentes sempre estão em alerta. Além disso, elas também são muito suscetíveis aos comentários ou comportamentos dos outros. Geralmente costumam interpretar qualquer coisa como uma ameaça à sua dignidade.
  • O conservadorismo cognitivo, por sua vez, perfila aquelas mentes que se recusam a mudar de ideia, a pensar de forma diferente. Além disso, também demonstram uma clara incapacidade de agir com flexibilidade quando as circunstâncias exigem mudanças necessárias.
  • Persistência pouco racional em certos pensamentos para aumentar a sensação de controle e ganhar segurança. Ou seja, esse fator aparece naquelas situações em que a pessoa se apega às suas ideias, preconceitos e estereótipos porque precisa que o mundo permaneça previsível. Assim, tudo o que é diferente do que eu penso, que desafia o meu mundo quadrado, é visto como uma ameaça, gerando uma reação contrária.
Casal discutindo representando pessoas intransigentes

Como lidar com esse perfil de personalidade?

De que forma podemos viver com alguém que não consegue conversar? Como trabalhar ou chegar a acordos com pessoas intransigentes? Parece difícil, mas já temos algo a nosso favor: conhecemos a origem do seu comportamento. Afinal, nada é tão decisivo quanto saber o que move esses tipos de perfis tão problemáticos.

A seguir, vamos refletir sobre uma série de estratégias que podem ser úteis.

Como sobreviver com sucesso à intransigência crônica

Para conviver diariamente com a intransigência crônica é preciso, em primeiro lugar, paciência e calma. Afinal, se perdermos a cabeça, entraremos totalmente no terreno dos intransigentes e nele teremos tudo a perder.

Assim, é conveniente estar sempre acima dessa personalidade e uma maneira de conseguir que isso aconteça é manter esse equilíbrio mental do qual carecem. Essas dicas podem nos ajudar.

  • Use o respeito pessoal em todos os momentos. Não importa como o outro responda; é essencial mostrar respeito.
  • Quando você tiver uma discussão ou um diálogo com essas pessoas, aceite que na maioria dos casos você não conseguirá nada. Portanto, não fique obcecado em convencê-las.
  • Em vez de discutir com elas, deixe que te deem todos os argumentos possíveis sobre o assunto do qual você está falando. Geralmente, o intransigente sempre apresenta argumentos muito fracos, com base apenas nas suas próprias crenças. Assim, mais cedo ou mais tarde, será fácil contradizê-los.
  • Evite se colocar no mesmo nível. É importante que você tenha um bom controle sobre as suas emoções.
  • Estabeleça limites e fronteiras. Diante do desrespeito, reaja com assertividade: “por favor, peço que não levante a voz para mim”.
  • Explique de forma simples os efeitos que o comportamento intransigente pode ter. Qualquer pessoa que se recusa a chegar a acordos ou a respeitar os outros, mais cedo ou mais tarde, sofrerá consequências. Assim, é apropriado que isso seja informado.

Para concluir, todos nós, embora alguns mais do que outros, convivemos com alguém com uma personalidade propensa a esse comportamento. Afinal, aprendemos a sobreviver a todos os tipos de “fauna” comportamental e esta não é uma exceção.


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