Pessoas que fazem uso do pensamento mágico: como elas são?

Há pessoas que, diante de qualquer problema, em vez de se concentrar em suas habilidades, limitam-se a usar o pensamento mágico, invocando a sorte sem fazer mais nada. Por que elas agem assim?
Pessoas que fazem uso do pensamento mágico: como elas são?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Embora não acreditem na magia como tal, há muitas pessoas que fazem uso do pensamento mágico. Além disso, muitos de nós podem ter pecado mais de uma vez com esse tipo de abordagem. Aquele em que você formula um desejo ou uma idéia, a joga no ar e espera que o destino a concretize, para torná-la realidade. Um exemplo disso ocorre nos rituais de aniversário.

Acendemos as velas do bolo e o próximo passo é apagá-las, enquanto pensamos no que gostaríamos que acontecesse. Há também aqueles que batem na madeira esperando que, com esse gesto, as coisas acabem bem para eles. E outros, claro, expressam exigências a entidades invisíveis, aplicando assim algo tão recorrente quanto o pensamento místico-espiritual.

Agora, há algo de errado com isso? Obviamente não. Nem sempre. Porque em muitos casos falamos de tradições socioculturais.

O problema vem com aqueles homens e mulheres que usam o raciocínio mágico constantemente, quase obsessivamente. O aplicam quando têm um desafio pela frente e, em vez de usar estratégias específicas, limitam-se a formular desejos e invocar a sorte…

Por mais impressionante que nos pareça, vários distúrbios psicológicos podem ser encontrados por trás desse comportamento.

Mulher pensante olhando para cima simbolizando pessoas que fazem uso do pensamento mágico
Por trás de quem aplica constantemente o pensamento mágico está a ansiedade.

Pessoas que fazem uso do pensamento mágico: características e causas

O pensamento mágico faz parte do passado de todos os tipos de cultura. Nesse crisol da humanidade, quando ainda não tínhamos o conhecimento e a ciência atuais, costumávamos recorrer a todos os tipos de feitiços, práticas espirituais e desejos lançados ao céu estrelado para alcançar o que queríamos. Quando o senso de controle falha, recorremos à magia.

Os amuletos eram esses recursos para promover a cura, se apaixonar e até mesmo para a proteção em momentos de medo e escuridão. No entanto, à medida que a civilização avançava, encontramos a resposta para muitos enigmas médicos e astronômicos, por exemplo, deixamos de lado a superstição, para nos amarrarmos ao objetivo, ao científico e ao racional.

Isso não significa que ocasionalmente não podamos recorrer a esse universo mágico. No entanto, como apontamos, existem pessoas que usam o pensamento mágico quase obsessivamente. Para fazer um exame, elas têm seu lápis da sorte. Antes de sair de casa, devem desligar a luz três vezes para que tudo corra bem. E se acontecer uma fatalidade, a origem está nos fios cósmicos do destino.

Todos podemos ser um pouco supersticiosos sem que essa característica afete nossas vidas. Por outro lado, outros têm seu dia a dia limitado por esses medos fantasiosos.

Amadurecemos quando paramos de acreditar em magia

Toda criança abriga em seus olhos a capacidade de ver a fantasia onde os adultos só veem o ordinário. A infância é definida justamente por aquele pensamento mágico em que a imaginação governa tudo. Elas são capazes de acreditar em fadas, em Papai Noel e até no monstro que vive debaixo da cama.

Agora, à medida que crescem, essas perspectivas perdem força. Seu cobertor da sorte é esquecido. O urso que vigiava seus sonhos não é mais útil. Crescer é substituir o pensamento mágico pelo pensamento racional, como explica um projeto de pesquisa da Cidade do Cabo, África do Sul.

Como são as pessoas que usam o pensamento mágico e como elas agem?

As pessoas que fazem uso do pensamento mágico procuram ter uma certa sensação de controle sobre a realidade. Usar esse foco mental permite que elas reduzam o medo e ganhem confiança. Da mesma forma, é interessante saber sobretudo como esse aspecto mais problemático/patológico se manifesta:

  • Fusão de pensamento-ação: é aplicada quando alguém assume que basta pensar intensamente certas coisas para que elas aconteçam.
  • Idealização mágica. Nesse caso, muitas pessoas acreditam que certos eventos são o efeito de uma causa externa altamente poderosa. Por exemplo, se duas pessoas se apaixonam é porque foram predestinadas pelo universo. Se cair da escada, é porque uma presença negativa causou isso.
  • Rituais. Um exemplo disso é realizar uma série de ações repetitivas que garantirão que tudo corra bem, como bater na madeira, ligar e desligar as luzes 6 vezes…
  • Superstições. Evitar gatos pretos, o número 13, certas cores, etc.
  • Associações sobrenaturais. Por exemplo, pensar que hoje fui demitido porque derramei sal na mesa naquela manhã.
Mulher preocupada em terapia simbolizando Pessoas que fazem uso do pensamento mágico
O pensamento mágico também tem sido associado a transtornos do espectro da esquizofrenia.

O que está por trás daqueles que aplicam essa abordagem continuamente?

A Universidade de Cambridge publicou um estudo explicando que, embora o raciocínio mágico seja comum em alguns transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, também é um elemento central do transtorno obsessivo-compulsivo. Em outras palavras, por trás das pessoas que usam o pensamento mágico muitas vezes está a ansiedade.

Sabemos que a fusão pensamento-ação é muito recorrente na ansiedade generalizada . Um exemplo disso é supor que se você tiver pensamentos negativos, ficará doente ou que basta ter um mau pressentimento sobre algo para que a pior catástrofe aconteça.

Pense que no momento em que nosso pensamento se torna perturbador ou angustiante, devemos pedir ajuda especializada. Enquanto isso, podemos fazer um registro dessas ideias mágicas tentando deduzir o que as motiva ou em que situações elas aparecem. Em geral, são aquelas com as quais sentimos que não temos controle sobre nossa realidade, sendo precisamente a variável na qual teremos que trabalhar.

Abordagens terapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental, podem nos ajudar. Da mesma forma, insistimos mais uma vez que os pensamentos mágicos pontuais não são negativos ou problemáticos. Como disse Walt Whitman, “às vezes confiamos mais em nós mesmos quando usamos nosso chapéu da sorte”.


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