Por que acreditamos em notícias falsas?

Por que acreditamos em notícias falsas?
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Nos dias de hoje vivemos uma epidemia de notícias falsas ou meias verdades (meias notícias). A desinformação é a ordem do dia e não sabemos mais em quais notícias acreditar e em quais não . Mas o motivo não é que as pessoas queiram ler informações falsas e que, por isso, a demanda aumentou. As pessoas querem informações reais, especialmente se estas correspondem às suas crenças. Mesmo assim, o consumo de notícias falsas aumentou e muito.

Para entender esse fenômeno, temos que ir à psicologia da motivação. Além de ter o desejo consciente de obter informações verdadeiras, temos outras motivações inconscientes que nos levam a tentar (no mínimo) confirmar nossas crenças . Desta forma, as mensagens que satisfaçam essas motivações serão aceitas como verdadeiras, mesmo quando forem falsas (o contrário também pode acontecer).

Homem lendo um jornal

Necessidade de fechamento cognitivo

Uma das motivações de que falávamos é a necessidade de fechamento cognitivo, que está relacionado à incerteza. Quando essa necessidade é ativada, as pessoas são atraídas por mensagens simplistas que afirmam verdades absolutas . Como se isso não bastasse, todos nós temos essa necessidade em maior ou menor grau, inclusive situações que envolvam desordem e gerem incertezas podem aumentar a necessidade de encerramento daquele assunto.

Um exemplo de uma mensagem simplista é fornecido pela notícia de que os imigrantes são responsáveis ​​por todos os problemas sociais que temos. Esta mensagem é simplista porque divide o mundo entre os bons e o maus, nós somos bons e os imigrantes são maus. Além disso, fornece um “bode expiatório” para nossos problemas, dando-nos uma causa, ou melhor, um causador. Sendo assim, as mensagens simplistas são mais passíveis de acreditar e aceitar sem muito exame minucioso.

Necessidade de resultados específicos

Da mesma forma, as mensagens que afirmam um resultado específico, seja falso ou verdadeiro, podem ser facilmente aceitas se forem coerentes com o que as pessoas querem acreditar. No entanto, não vamos acreditar em qualquer coisa somente porque pensamos de forma semelhante.

Quando a falsa notícia é muito escandalosa, como a de que Barack Obama era membro do Ku Klux Klan, e isso contradiz o que sabemos ou o que acreditamos estar dentro do razoável, é mais provável que seja rejeitado, mesmo que essa falsa notícia possa satisfazer nossa motivação por resultados específicos.

Apesar do que foi visto, a falta de conhecimento pode fazer com que as notícias mais extravagantes sejam aceitas como verdadeiras. Diversos estudos mostraram que pessoas mais cultas e de maior idade (relacionadas a mais experiência) são menos vulneráveis ​​a notícias falsas. Isso ocorre porque elas têm mais recursos, em termos de capacidade crítica, quando se trata de classificar uma notícia como falsa ou verdadeira.

Jornal e revistas

Peritos de notícias falsas

Nestes casos em que a falta de conhecimento predomina, o que geralmente fazemos é confiar em pessoas que consideramos especialistas. Quando um carro quebra,  chamamos um mecânico de confiança. Quando você fica doente, visita aquele médico em quem você confia.

No passado, para a maioria das questões informativas e notícias sobre a sociedade, a política e o mundo, recorríamos a instituições sociais respeitáveis, como uma agência governamental, um representante do Congresso, o presidente do país ou fontes de mídia de massa. Naquela época, o governo e a mídia esbanjavam o controle sobre a confiabilidade das pessoas, e eles possuíam a ampla confiança da maioria.

Mas esses tempos mudaram, e nem o governo nem a mídia desfrutam da confiança de antigamente. A recente crise e os casos de corrupção contribuíram para o fato de que confiamos cada vez menos neles. Diante dessa falta de confiança na mídia “tradicional”, as pessoas estão buscando outros meios de informação que satisfaçam a motivação do encerramento de suas dúvidas e dos resultados específicos.

Ícones de redes sociais

Intoxicação das notícias falsas

Os avanços da Internet e o surgimento das redes sociais também contribuíram para a falta de confiança nos especialistas e o aumento de notícias falsas. O momento de confusão em que vivemos, caracterizado por mudanças rápidas e crescente agitação (por exemplo, a ascensão e o crescimento das potências asiáticas, como a China e a Índia, o terrorismo islâmico, a instabilidade econômica, a crise dos refugiados, etc.) nos levou a buscar informações atualizadas, Queremos saber das notícias no momento em que elas acontecem.

Essa demanda, juntamente com o vácuo criado pela desconfiança das fontes de informação tradicionais, abriu uma porta para novas fontes de notícias, particularmente na Internet e nas redes sociais. Estas novas fontes, sobre as quais há pouco ou nenhum controle, muitas vezes são motivadas ou tentadas a mudar opiniões políticas das pessoas na direção desejada, em outras palavras, manipular.

Seja qual for o remédio, a atual praga da desinformação é motivo de preocupação, exigindo e justificando um esforço por parte das instituições sociais envolvidas em restaurar sua credibilidade manchada.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.