Por que o bocejo é contagioso?

Você sabia que 60% das pessoas bocejam ao ver alguém bocejar? Por que o bocejo é contagioso? O que a ciência diz sobre isso?
Por que o bocejo é contagioso?

Última atualização: 29 outubro, 2020

Você já ouviu falar dos ecofenômenos? Eles envolvem a repetição automática de palavras ou ações de outras pessoas. Um exemplo de ecofenômeno seria quando vemos alguém bocejar e logo o imitamos. Mas por que o bocejo é contagioso? Existe uma base neural que explica esse fenômeno?

O psicólogo Robert Provine (1986) nos deixou esta frase: “O bocejo pode ter a honra duvidosa de ser, entre os comportamentos humanos mais comuns, o menos compreendido.” Anos mais tarde, conseguimos resolver essa questão através da neurociência? Existe uma única explicação, ou mais de uma? Vamos descobrir.

Por que o bocejo é contagioso?

De acordo com um estudo de Romero et al. (2014), embora muitos animais bocejem, apenas pessoas, chimpanzés, cães e lobos se contagiam com o bocejo. Mas por que o bocejo é contagioso? Vamos explicar o que dizem algumas das explicações mais relevantes:

Por que o bocejo é contagioso?

Ativação da zona motora

Um grupo de cientistas da Universidade de Nottingham (Inglaterra) conduziu uma pesquisa em 2017, publicada na Current Biology, na qual tentava encontrar uma resposta para a questão de por que o bocejo é contagioso.

Segundo os pesquisadores ingleses, essa ação consistiria em um reflexo cerebral, que é ativado justo na área responsável pelo controle da função motora. Assim, de acordo com o estudo, a propensão a se contagiar com os bocejos de outras pessoas teria origem no córtex motor primário do cérebro. Esta área é responsável pela execução do movimento através de impulsos neuronais.

Em que consistiu o experimento?

A pesquisa ensinou um total de 36 voluntários adultos a conter o contágio enquanto assistiam a videoclipes de pessoas bocejando. Posteriormente, todos os bocejos emitidos (inclusive os reprimidos) foram contados.

Através de técnicas de estimulação magnética transcraniana (EMT), os pesquisadores analisaram a possível relação entre a base neural do bocejo e a excitabilidade motora.

Dessa forma, o grupo descobriu que ser mais ou menos propenso ao bocejo contagioso depende da excitabilidade cortical e da inibição fisiológica do córtex motor primário de cada pessoa. Isso explicaria por que há pessoas que bocejam mais e outras menos, e por que há pessoas que se contagiam mais com os bocejos do que outras.

Podemos reprimir o bocejo?

Nós sempre vamos bocejar quando virmos alguém bocejar ou, em vez disso, esse reflexo poderia ser controlado? Segundo os mesmos pesquisadores ingleses, a capacidade de resistir a esse contágio é limitada. Além disso, eles acrescentam que tentar suprimir o bocejo pode aumentar a vontade de bocejar.

Na verdade, através da estimulação elétrica durante o experimento, eles foram capazes de ver como, ao aumentar a excitabilidade motora, a tendência a se contagiar com o bocejo aumentava. Portanto, a resposta é não; não podemos controlar esse contágio porque temos uma predisposição inata para isso.

Compreendendo as causas de certos transtornos

O estudo mencionado pode levar os pesquisadores a determinar com mais precisão as causas de certos transtornos que apresentam aumento da excitabilidade cortical ou diminuição da inibição fisiológica.

Nestes tipos de transtornos – demência, autismo, epilepsia ou síndrome de Tourette… – os pacientes não podem evitar a apresentação de certos ecofenômenos (como o contágio de bocejos), ecolalia (repetição de palavras ou frases do interlocutor) ou ecopraxia (repetição automática das ações do interlocutor).

Em relação a isso, a diretora do estudo, Georgina Jackson, professora de Neuropsicologia Cognitiva do Instituto de Saúde Mental de Nottingham, explica o seguinte:

“Acreditamos que essas descobertas podem ser particularmente importantes para entender melhor a associação entre a excitabilidade motora e o aparecimento de ecofenômenos em uma ampla gama de patologias clínicas relacionadas ao aumento da excitabilidade cortical e/ou diminuição da inibição fisiológica.”
-Georgina Jackson, diretora do estudo-

Além disso, Jackson acrescenta que isso pode ajudar os pacientes com síndrome de Tourette, reduzindo a excitabilidade motora para reduzir os tiques.

Mulher bocejando

Outras explicações: empatia, genética e sincronização

Antes deste estudo, outros cientistas tentaram responder a esta pergunta; muitos deles falaram do contágio da empatia como uma possível explicação. Assim, quando vemos uma pessoa bocejar, inconscientemente sentimos empatia por ela e fazemos o mesmo gesto sem conseguir evitar, como se fôssemos o seu reflexo no espelho.

Essa teoria tem muitos adeptos. Sugere que a capacidade de interpretar como os outros se sentem nos levaria a nos colocarmos no lugar deles ou a nos sentirmos iguais, em um ato tão “primário” quanto este. Isso, por sua vez, nos levaria à tentação de bocejar.

Alguns estudos – que procuram explicar por que o bocejo é contagioso – referem-se à ativação de certos circuitos cerebrais típicos da empatia, que incluem os famosos neurônios-espelho. Esses neurônios atuariam como um reflexo interno dos movimentos que observamos em outras pessoas.

Outra possível explicação para esse fenômeno tem a ver com a comunicação e a sincronização. Em relação a isso, o pesquisador e professor de psicologia Matthew Campbell afirma o seguinte:

“Uma possibilidade é que, em espécies sociais que coordenam seus níveis de atividade, copiar os bocejos pode ajudar a sincronizar o grupo.”
-Matthew Campbell-

Ou seja, a explicação teria sua origem em uma ação imitativa; assim, a cópia do bocejo colocaria o grupo em sincronia. Segundo Campbell, na hora de comer, todo mundo come (comer também seria contagioso), e o mesmo aconteceria com outras funções, como movimentos ou posturas.


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  • Georgina, M. Jackson et al. (2017). A neural basis for contagious yawning. Current Biology. DOI: 10.1016/j.cub.2017.07.062.
  • Romero T, Ito M, Saito A, Hasegawa T (2014). Social Modulation of Contagious Yawning in Wolves. PLoS ONE 9(8): e105963. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0105963

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