Por que choramos de alegria?

Chorar de alegria, sorrir de tristeza, rir de nervoso... Você sabe qual é o motivo dessas curiosas reações tão “contraintuitivas”? Continue lendo para descobrir.
Por que choramos de alegria?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Geralmente, o choro está associado a sentimentos de perda, tristeza, decepção ou melancolia. As lágrimas servem para exteriorizar a dor, a frustração ou a angústia. Emoções negativas, todas elas. No entanto, também existem situações em que choramos de alegria, de emoção, de esperança ou de alívio. Nelas, somos movidos por sentimentos positivos e agradáveis.

Como é possível que ocorra tal contradição? Como uma expressão negativa pode se relacionar com um estado interno de plenitude? Neste artigo, você vai descobrir a resposta que várias pesquisas forneceram para a existência desse curioso fenômeno.

Lágrimas de tristeza

Emoções cruzadas

Choramos quando recebemos uma boa notícia que estávamos esperando há tempo, quando alguém nos abre seu coração ou quando temos uma surpresa. São muitas as ocasiões em que um acontecimento feliz nos leva a reagir dessa maneira aparentemente contraditória. 

No entanto, o choro não é a única expressão externa envolvida nesse tipo de acontecimento. Podemos ter vontade de apertar as bochechas de uma criança que achamos muito fofa ou de morder (suavemente) a pessoa que amamos. O contrário também acontece. Às vezes, diante de uma tristeza extrema, soltamos, sem querer, um sorriso ou um riso nervoso.

São reações automáticas e sem uma lógica aparente. No entanto, a associação entre emoções positivas e expressões negativas (e vice-versa) tem uma importante função.

Por que choramos de alegria?

Restabelecer o equilíbrio

Oriana Aragón, psicóloga da Universidade de Yale, realizou várias pesquisas em relação a esse tema. Usando o nome de “expressões dimórficas”, seus estudos analisam a presença dessas manifestações incompatíveis com o sentimento que a pessoa está experimentando.

Não se trata de estados nos quais uma emoção positiva e outra negativa (expressões mistas) convivem. Falamos de uma emoção com valência puramente positiva que adota uma expressão “negativa” para se manifestar. No estudo realizado, foram apresentados estímulos positivos aos participantes e suas formas de reagir foram analisadas.

Os resultados mostraram que as pessoas que utilizaram reações negativas para se expressar conseguiam moderar a intensidade de suas emoções com maior facilidade. Ou seja, as lágrimas de alegria são uma maneira de restabelecer o equilíbrio diante de uma emoção que transborda. É como se a expressão negativa compensasse a intensidade da emoção positiva, conseguindo alcançar um equilíbrio.

A pergunta que surge é: por que limitar ou compensar um sentimento de plenitude? Pois bem, diante de uma alegria extrema a pessoa transborda suas emoções e, assim, sua capacidade de tomar decisões fica ofuscada. Restaurar o equilíbrio emocional é necessário para poder continuar funcionando adequadamente.

Comunicar-se

As lágrimas de felicidade não têm apenas o propósito de manter a homeostase interna; elas também são uma importante forma de comunicação. Um estudo descobriu que a resposta que oferecemos a uma pessoa que expressa sua alegria sorrindo ou chorando é significativamente diferente. No primeiro caso, tendemos a nos juntar à comemoração e compartilhar a exaltação, com o objetivo de prolongar a emoção dessa pessoa.

No entanto, diante das lágrimas de alegria, tendemos a reagir de forma a ajudar o indivíduo a regular e diminuir o nível de intensidade emocional que está sentindo. De maneira mais ou menos direta, percebemos sua exaltação emocional e agimos em conformidade com a situação, contribuindo para sua regulação.

Mulher sorrindo melancólica

Choramos de alegria, mordemos de amor

Muitos dos comportamentos inexplicáveis que nós, seres humanos, temos parecem fazer sentido à luz dessas descobertas. Quando sentimos uma emoção positiva (seja ela qual for) em uma magnitude extrema, somos levados a reagir de forma contrária para restabelecer os níveis prévios.

Assim, quando vemos nosso(a) parceiro(a), podemos sentir uma inundação tamanha de amor, esperança e gratidão que sentimos a necessidade de morder seu braço, seu ombro ou sua bochecha. Dessa forma, conseguimos compensar, de alguma maneira, essa enxurrada emocional.

Portanto, quando você estiver reagindo com agressividade ou tristeza diante de acontecimentos altamente positivos, não se assuste. É um mecanismo necessário e completamente normal. Da mesma forma, quando você vir alguém chorar de alegria, saiba que a felicidade que ela está sentindo é tamanha que excede a expressão mais natural da emoção.

As lágrimas não revelam fraqueza ou drama. Pelo contrário, são uma expressão direta da grande capacidade da pessoa de sentir e da emoção que as circunstâncias estão provocando em seu organismo.


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  • Aragón, O. R., Clark, M. S., Dyer, R. L., & Bargh, J. A. (2015). Dimorphous expressions of positive emotion: Displays of both care and aggression in response to cute stimuli. Psychological science26(3), 259-273.
  • Aragón, O. R., & Clark, M. S. (2018). “Tears of joy” & “smiles of joy” prompt distinct patterns of interpersonal emotion regulation. Cognition and Emotion32(5), 913-940.

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