Por que o silêncio nos assusta?

O silêncio evoca o vazio, a solidão, os medos e as feridas do passado que preferimos continuar cobrindo com ruídos externos. No entanto, você sabe tudo que o silêncio pode nos oferecer?
Por que o silêncio nos assusta?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Você entra no carro e liga o rádio. Chega em casa e liga a televisão. Coloca música no telefone enquanto toma banho, canta ou pensa. O silêncio nos assusta e nós demonstramos isso de mil maneiras. O vazio que a ausência de ruído sugere nos atormenta, e com esse medo perdemos oportunidades importantes. A questão é que, talvez, se soubéssemos o valor do silêncio, deixaríamos de fugir dele como se fosse um inimigo.

Quando foi a última vez em que você ficou em silêncio? Quando sentiu a completa ausência de estímulos externos e internos? Para a maioria das pessoas, isso é quase uma utopia, um estado impossível de alcançar e manter. Também pode parecer algo perigoso e perturbador. Entretanto, por que isso acontece conosco? O que podemos fazer em relação a isso?

Homem preocupado

O silêncio nos assusta

Talvez você já tenha percebido que existe essa tendência generalizada em nossa sociedade, ou talvez não. Você pode até ter detectado esse medo do silêncio em si mesmo, mesmo que não saiba qual é o motivo. A realidade é que mostramos sinais desse fenômeno todos os dias.

Nós nos rodeamos de todos os tipos de dispositivos tecnológicos que nos fornecem estimulação visual e auditiva. E não fazemos isso apenas como uma forma de entretenimento nos momentos de lazer, pois também os utilizamos em qualquer atividade diária. Enquanto cozinhamos, limpamos ou praticamos esportes, o ruído externo nos acompanha.

O mesmo acontece quando passamos tempo com colegas, amigos ou familiares. Mesmo se encontrarmos um vizinho no elevador, preferimos iniciar uma conversa banal e condescendente do que permanecer em silêncio. Muitas vezes não temos nada a dizer, mas mesmo assim fazemos um esforço para preencher essas lacunas aterrorizantes com palavras.

Entretanto, mesmo quando estamos em um silêncio aparente, sem nenhum ruído externo que invada nossos sentidos, recorremos aos nossos recursos internos para fugir. Já aconteceu com você de, ao se deitar, no silêncio da noite, sua mente acelerar, levando-o do passado ao futuro em uma ruminação constante? Estes nada mais são do que mecanismos para evitar o silêncio do presente.

Por que o silêncio nos assusta?

Porque não nos conhecemos

O silêncio nos assusta porque implica entrar em contato conosco. Nós fugimos dele porque fugimos de nós mesmos. É o medo de ficar a sós com uma parte do nosso ser que nos recusamos a ver, com os medos e as feridas que temos ignorado. Ficamos apavorados ao ouvir nossa própria voz, um grito interior que enterramos por anos sob vozes alheias e ruídos externos.

Não nos conhecemos porque nunca ficamos sozinhos. Não nos conhecemos e isso nos assusta. Quando o silêncio aparece, ele traz consigo os sons das nossas sombras, daquelas partes escuras que não reconhecemos como nossas. De onde vem essa ansiedade, esse sentimento de solidão e vazio, essa raiva contida que surge quando ficamos em silêncio? Tudo isso somos nós, embora tenhamos nos recusado a nos enxergar por décadas.

Porque não estamos acostumados

Nem toda a culpa é nossa. Nascemos e vivemos imersos em uma sociedade que não nos ensina a nos conectar ou ouvir a nós mesmos, mas que nos ocupa e nos distrai constantemente.

O autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal, a meditação… todas essas práticas parecem reservadas a uma minoria que sofre e precisa se recuperar, quando na realidade todos deveríamos praticá-las.

O silêncio é estigmatizado e somos ensinados a vê-lo como algo negativo, como um sinal de que a pessoa calada está com raiva, ofendida, triste ou ausente. O silêncio evoca solidão e vazio, timidez e emoções negativas, quando não deveria ser assim.

Meditação na natureza

Comece a praticar o silêncio

Praticar o silêncio nos ajuda a nos conectar com nossos medos, feridas e desejos. Permite que nos conheçamos, nos curemos e voltemos a nós mesmos. Oferece a nós a oportunidade de descobrir os nossos anseios e opiniões, de recuperar as nossas forças e a nossa voz. Quando você se conhece e se aceita, quando aprende a amar e a estar consigo mesmo, não há outro lugar comparável no mundo.

Só você pode preencher seus vazios, curar suas feridas e superar seus medos. Só você pode trabalhar pelos seus sonhos e objetivos. Então, por que você tem medo de ficar consigo mesmo? Dê-se uma chance e você descobrirá o quanto perdeu todo esse tempo.


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  • Le Breton, D. (2006). El silencio. Madrid: Sequitur.
  • Hanh, N. T. (2016). Silencio: el poder de la quietud en un mundo ruidoso. Barcelona, España: Urano.

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