Procure o que lhe emocione e você viverá melhor

O que faz você se emocionar? O que faz seu coração vibrar e encher sua mente de ilusões, projetos e sonhos para realizar? As pessoas precisam dessas pequenas “elevações” diárias de dopamina para se sentirem vivas e seguirem em frente.
Procure o que lhe emocione e você viverá melhor
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 10 janeiro, 2023

Dizem que um dos maiores hobbies de Miguel de Unamuno (além da escrita e da docência) era fazer origamis e, especificamente, fazer passarinhos de papel. Embora ele o chamasse de cocotologia, daí seu curioso livro Apuntes para un tratado de cocotología. Também se diz que a poeta Emily Dickinson tinha paixão por assar pães.

Ela adorava o aroma da massa recém feita e, depois das várias receitas que inventava, ia também tecendo os seus primeiros versos. Uma das paixões de Agatha Christie também foi marcante: a arqueologia. Em criança teve um sonho revelador, viu-se escavando cidades antigas e vestígios artísticos de tempos remotos. A partir desse momento, ele sempre teve um fascínio por esse mundo.

Embora sua vida tenha tomado outros rumos, aos 40 anos viajou para a antiga cidade de Ur, no Iraque, importante núcleo da antiga Mesopotâmia. Ela queria passar um tempo naquele mundo de areia, pedras e mistérios sob a terra. Foi lá que conheceu o amor de sua vida, o renomado arqueólogo Max Mallowan.

De alguma forma, muitas dessas pequenas coisas que nos fascinam, nos emocionam e se tornam pequenas obsessões, acabam dando lugar a grandes acontecimentos em nossas vidas. Encontrar o que nos faz pulsar é o que nos permite seguir em frente e até nos sentirmos autorrealizados.

As pessoas estão programadas para buscar experiências gratificantes. Isso nos permite encontrar significado, motivação e prazer em nossa existência.

Menina comendo chocolate simbolizando a importância de procurar o que te excita
Uma refeição, um hobby, uma pessoa ou um sonho. As pessoas precisam se sentir motivadas no dia a dia.

Nosso sorvete de chocolate diário

A pessoa com depressão carrega consigo algo mais do que uma simples tristeza: ela está presa em uma anedonia constante. Ou seja, não é capaz de sentir prazer, curiosidade, gozo ou satisfação. Nada a motiva, inclusive tudo aquilo que antes a apaixonava e divertia deixa de fazer sentido. Poucas sensações podem ser mais devastadoras.

Em primeiro lugar, porque os seres humanos são programados para buscar sensações gratificantes e fugir das desagradáveis. As emoções de valência positiva são as que nos dão aquelas contribuições estimulantes de dopamina, serotonina e adrenalina, tão necessárias para o nosso bem-estar, motivação e aprendizagem. Se esses neurotransmissores não estiverem presentes, algo acontece em nós.

O psicólogo Silvan Tomkins explicou com sua teoria do afeto uma ideia que vale a pena ter em mente. A saúde mental depende, em grande medida, da capacidade de maximizar experiências gratificantes. Encontrar o que te emociona será sua linha de vida diária, por mais insignificante que seja, como presentear-se com um momento de calma enquanto saboreia um sorvete de chocolate.

Um cérebro motivado, uma mente capaz de encontrar motivadores regularmente, desenvolve uma abordagem cognitiva mais flexível e orientada para a mudança para alcançar o bem-estar e novos objetivos.

Ficar animado favorece sua flexibilidade cognitiva

Muitas vezes as coisas que nos emocionam são as mais elementares e inconsequentes. Emily Dickinson era obcecada pelo cheiro de pão recém-assado, mas também alimentou sua inspiração para compor poemas. Agatha Christie sempre teve um fascínio pela arqueologia, e isso a ajudou a desenvolver o estranho romance. Também para encontrar o amor da sua vida.

Encontrar o que nos excita abre a mente, amplia as perspectivas e quebra os padrões de pensamento negativo. A pesquisa destaca que as emoções com valência positiva favorecem a flexibilidade cognitiva.

Ou seja, facilitam a adaptação do cérebro a situações inesperadas e mutáveis por meio de novas ideias e comportamentos. Por outro lado, quem está dentro da prisão da ansiedade, do desânimo e da angústia, é incapaz de reagir aos desafios ou de trazer ideias inovadoras para os problemas mais simples. Há apenas medo, evitação e desânimo.

Emoções como alegria, curiosidade, paixão ou prazer nos tornam mais propensos à ação e à mudança.

pés andando
Procure o que te inspira, porque às vezes quando você descobre algo diferente que desperta seu interesse, sua realidade muda.

Ouse, procure o que lhe emocione

Às vezes, depois de um dia ruim, tudo fica melhor caminhando enquanto se saboreia um bom sorvete de chocolate. Há momentos em que a música nos salva, bons livros se tornam refúgios e encontrar um novo hobby de repente implica uma mudança que nos abre novos horizontes. Existem estados emocionais que triunfam sobre o luto, fazendo com que nossos pensamentos e crenças limitantes se reformulem.

Então vá em frente, encontre o que te excita. Procure o que desperta em você essa palavra mágica chamada entusiasmo e verá como, pouco a pouco, seus esquemas mentais se flexibilizam. Para isso, vale fomentar aqueles estados que a psicóloga Barbara Fredrickson define como “emoções estelares”, ou seja, aqueles estados gratificantes que têm o poder de mediar seu bem-estar, sucesso e felicidade. Nós os analisamos.

1. Procure o que lhe dá alegria

Alegria é mais do que rir, é sentir efusividade e positividade de forma intensa. Às vezes basta estar com alguém que sempre tira o melhor de você com suas ideias e sacadas, para ver a vida de uma forma mais brilhante e esperançosa.

2. Serenidade, o que lhe dá calma

Um passeio, uma leitura, uma sesta, meditar… Todos podemos encontrar a serenidade das formas mais simples possíveis. São aqueles momentos em que você se sente grato, seguro e em paz.

3. Interesse, a mente curiosa

O bem-estar psicológico e mental exige que nunca abandonemos aquele olhar infantil que deseja saber tudo. Pessoas curiosas são seres despertos, conectados com seu entorno e sempre têm algo novo para aprender.

4. Mantenha a esperança

Procure o que o entusiasme e o que lhe permita manter a esperança em qualquer circunstância. Às vezes, quando descobrimos algo que nos dá sentido e nos apaixona, nos sentimos mais ligados ao presente, unidos à vida e ao futuro.

5. Sinta-se orgulhoso de si mesmo

Certamente isso já aconteceu com você em algum momento. Às vezes encontramos um novo hobby, algo em que somos particularmente bons e que de repente abre novas perspectivas. Perceber que somos competentes em alguma área também reverte em bem-estar psicológico, pois nos ajuda a elevar nossa autoestima.

6. Divirta-se, não abra mão de sua criança interior

Quando foi a última vez que você se divertiu? Quando você curtiu e riu como quando era criança? Nunca deixe de desfrutar desses momentos na companhia de pessoas especiais com quem não ver o tempo passar, com quem ser feliz.

7. Procure o que te inspire

A inspiração é aquela força a meio caminho entre o emocional e o cognitivo que expande a mente, que nos eleva e nos orienta para novos comportamentos. É fundamental que em nossa vida encontremos áreas, disciplinas ou práticas que gerem essa sensação.

Porque quando há inspiração na mente e no coração, a tristeza se esvai e o desejo de se mover, de buscar mais estímulos, de alcançar determinados objetivos é aceso. A inspiração é prazer e é uma chama que devemos manter sempre viva.

Para concluir, se você está passando por um momento de tons de cinza e pouca energia, faça isso, procure o que o emocione. Não importa que você não tenha vontade, o desejo aparecerá apenas quando você se tornar ativo, quando ultrapassar seus limiares cotidianos e encontrar algo desafiador, novo. Algo que, talvez, possa mudar tudo.


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  • Benjamin, J. & Atlas, G. (2015). The ‘too muchness’ of excitement: Sexuality in light of excess, attachment and affect regulation. International Journal of Psychoanalysis, 96, 39-63.
  • Tomkins, S.S. (1995). Script Theory. In V. Demos (Ed.), Exploring Affect: The Selected Writings of Silvan S. Tomkins (pp. 312-410), New York: Cambridge University Press.
  • Tomkins, S.S. (1962/2008). Affect Imagery Consciousness. New York: Springer.

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