Professores, o conteúdo da matéria não é a única coisa importante
Com certeza, em alguma ocasião, todos já conhecemos um professor que consegue se indispor, discutir e, inclusive, deixar de falar com um de seus alunos. Uma atitude que deixa muito a desejar. Também existem aqueles que entram na sala de aula e leem o programa de um livro sem explicar nada, ou aqueles que parecem estar sempre com pressa e não deixam de dizer “Não vai dar tempo de ver todo o conteúdo da matéria”.
A dinâmica é a mesma. Um professor pode se relacionar melhor ou pior com os alunos, o seu único dever é cumprir a programação didática, dar o conteúdo da matéria, se concentrar nas notas que os alunos obtêm e enviar uma quantidade excessiva de exercícios como tarefa de casa, com o objetivo de que os alunos consolidem os seus conhecimentos e aprendam. Não está faltando alguma coisa nisso tudo?
“Diga-me e eu esqueço, ensina-me e eu lembro, envolva-me e eu aprendo”.
– Anônimo –
O conteúdo da matéria não é a única coisa importante
Esta ansiedade por dar o conteúdo da matéria, por cumprir com os objetivos, ou por “terminar” o livro acaba arruinando toda a criatividade dos jovens que, ao invés de aprender, tentam entender como podem lidar com toda essa quantidade de informação que recebem. O problema é que, no ano seguinte, eles não vão se lembrar de nada ou quase nada.
Isso é algo de que muitos professores reclamam. No entanto, poucos se animam a comprovar se a sua maneira de proceder é a correta. A importância que as notas têm, a pouca empatia oferecida ao aluno, especialmente ao adolescente, e o quanto o professor influencia o aprendizado são temas que, aparentemente, quase ninguém quer questionar.
Parece que, quando entram na sala de aula, alguns professores se esquecem da parte mais humana de todo esse processo. Especialmente se eles lidam com idades delicadas como a adolescência. Não é de se estranhar que, quando aparece um caso de bullying, os professores se assustem e exclamem com surpresa: “Nós não tínhamos percebido!”. Isso é totalmente natural, principalmente quando os alunos são indiferentes para eles.
No entanto, apesar de existir uma certa quantidade de professores que não são capazes de inspirar e transmitir essa paixão que deveriam sentir pelo seu trabalho aos seus alunos, existem muitos que conseguem fazer isso.
Um aluno pode ter um interesse em matemática e acabar odiando ou amando essa matéria dependendo do professor que tiver. Outro aluno pode desistir do seu sonho de ser escritor, algo que o apaixona, porque teve um professor de Literatura que criticava negativamente os seus textos. Os professores influenciam a autoestima de seus alunos.
Um professor pode gerar mudanças nos seus alunos
Do mesmo jeito que a escolha de um reforço positivo ou negativo influencia o comportamento dos filhos em casa, na sala de aula acontece a mesma coisa. Se um professor não acredita em seus alunos e transmite isso, se não é capaz de motivá-los, está claro que a situação não vai melhorar sozinha. Então, não adianta reclamar. O educador tem um poder que não quer utilizar ou, simplesmente, desconhece.
Tudo isso eu posso afirmar me baseando na minha própria experiência pessoal. Eu não só fui aluna (algo que muitos professores se esquecem), mas também fui professora de adolescentes durante um estágio. Com os meus próprios olhos, eu vi o meu mentor de estágio se indispor e me dizer as seguintes palavras sobre um aluno: “Com esse não há nada a fazer, ele não abre nem o livro”.
Meu mentor só enxergava adolescentes rebeldes, alguns melhores que outros, mas a grande maioria era distraída e uns “moleques”. Essa visão não coincidia em nada com a minha, porque, sem nem mesmo conhecê-los, eu observava como a maioria deles se sentia insegura, desmotivada, com falta de autoestima e, sem nem sequer perguntar a eles, eu presumia que tinham problemas em casa.
Curiosamente, quando eu assumi a direção das aulas ao longo de 2 meses, esse aluno em especial, que não queria nem abrir o livro, acabou fazendo isso. Em nenhum momento eu o ignorei, nem falei nada de ruim para ele. Também não pedi que ele fizesse algo que não queria; simplesmente, alguma coisa aconteceu.
A maneira de dar aula, a paixão que eu transmitia e que fazia com que os alunos quisessem vir, inclusive, escrever na lousa e falar diante da turma, fizeram com que esse aluno observasse como os seus colegas trabalhavam com prazer. Então, ele abriu o seu livro e o seu caderno por vontade própria, e fez o exercício que eu havia pedido: uma redação.
Meu mentor ficou boquiaberto. Disse que eu havia conseguido algo impossível. No entanto, eu só pensava nesse aluno, em cuja redação pude comprovar o que eu supunha: ele vivia em uma família com problemas.
Infelizmente eu não pude continuar porque o meu período de estágio terminou. Porém, percebi que é o professor que gera uma mudança na atitude do aluno.
“O professor medíocre fala. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira”.
– William A. Ward –
Meu mentor me disse que permitir que os alunos escrevessem na lousa e fizessem alguns exercícios em grupo era positivo. No entanto, a largo prazo, isso ocupava uma grande quantidade de tempo para dar o conteúdo da matéria. Eu me perguntei: “O que é mais importante? Que o aluno aprenda se divertindo, se expressando, se expondo diante dos seus colegas e fazendo uma atividade didática, ou reprimir isso só para dar mais conteúdo que apenas uma pequena parte deles vai entender?”
É necessária uma mudança nas salas de aula. Apesar de já existirem escolas que implantam o método Montessori, e outras onde não existem mesas individuais e o foco é alimentar o aprendizado colaborativo e a educação emocional, social e filosófica, a maioria das instituições ainda é regida pelo modelo tradicional. Um modelo que não funciona para todos. Porque, apesar do conteúdo da matéria ser uma parte importante, ele não é tudo.