Psicose: o que é, qual é a causa e como se trata?

Psicose: o que é, qual é a causa e como se trata?

Última atualização: 16 julho, 2017

A psicose pode ser definida, de modo geral, como “uma desordem mental grave, com ou sem um dano orgânico, caracterizada pela perda do contato com a realidade e por causar complicações no funcionamento social normal (Dicionário Médico KMLE – Definição de psicose).

Quando prestamos atenção a essa definição, nos vêm à mente várias doenças que podem causar psicose ou sintomas psicóticos, como a esquizofrenia, o transtorno esquizotípico de personalidade, os transtornos psicóticos induzidos por medicamentos ou drogas e os transtornos psicóticos provocados por outros problemas de saúde.

O que é a psicose?

“Os transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos se definem por anomalias em um ou mais dos cinco seguintes domínios: delírios, alucinações, pensamento (discurso) desorganizado, comportamento motor muito desorganizado ou anômalo (incluída a catatonia) e sintomas negativos (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, DSM-5, 2014, p.87). A seguir, vamos ver as características desses sintomas de psicose.

Delírios

Os delírios são crenças fixas que não são suscetíveis à mudança, inclusive à luz de provas irrefutáveis contra. Seu conteúdo pode incluir vários temas (por exemplo, persecutórios, referenciais, somáticos, religiosos, de grandeza). Simplificando e assumindo o erro que isso pressupõe, poderíamos dizer que são algo como “histórias inventadas” pelas pessoas afetadas pela doença sem que elas estejam conscientes de que são inventadas. Assim, a pessoa expressa o que realmente pensa e age em consequência disso, mesmo que não corresponda à realidade.

Os delírios são considerados extravagantes quando são claramente inverossímeis, incompreensíveis e não procedem de experiências da vida cotidiana. Um exemplo de delírio extravagante é a crença de que uma força externa retirou de um indivíduo seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra pessoa sem deixar feridas nem cicatrizes. Um exemplo de delírio não extravagante é a crença de que se está sendo vigiado pela polícia apesar da ausência de provas convincentes.

Psicose

Alucinações

As alucinações são percepções que acontecem sem a presença de um estímulo externo. São vívidas e claras, com toda a força e o impacto das percepções normais, e não estão sujeitas ao controle voluntário. Podem acontecer com base em qualquer modalidade sensorial, mas as alucinações auditivas são as mais comuns na esquizofrenia e nos transtornos relacionados.

“As alucinações auditivas habitualmente se manifestam em forma de vozes, conhecidas ou desconhecidas, que são percebidas como diferentes do próprio pensamento” (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, DSM-5, 2014, p.87). Também existem alucinações táteis, olfativas e visuais.

Os transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos se definem por anomalias em um ou mais dos cinco seguintes domínios: delírios, alucinações, pensamento (discurso) desorganizado, comportamento motor muito desorganizado ou anômalo (incluída a catatonia) e sintomas negativos.

Pensamento (discurso) desorganizado

O pensamento desorganizado (transtorno formal do pensamento) habitualmente é inferido a partir do discurso ou da fala do indivíduo. É muito complicado manter uma conversa com alguns pacientes afetados pela psicoses já que eles podem mudar de um tema para o outro. Suas respostas podem não estar relacionadas com as nossas perguntas ou o discurso pode estar tão desorganizado que se torna praticamente incompreensível.

Comportamento motor muito desorganizado ou anômalo (incluída a catatonia)

O comportamento motor muito desorganizado ou anômalo pode se manifestar de diferentes maneiras, desde “tolices” de criança até agitações imprevisíveis. Podem ser identificados problemas para realizar qualquer tipo de comportamento dirigido a um objetivo, com as consequentes dificuldades para realizar as atividades cotidianas.

O comportamento catatônico se manifesta por uma diminuição da capacidade de reação em relação ao ambiente. Oscila entre a resistência para cumprir instruções, a adoção de uma postura rígida, inapropriada ou peculiar e a ausência total de respostas verbais ou motoras.

Outras características são os movimentos estereotipados repetidos, o olhar fixo, as caretas, o silêncio e a ecolalia (repetição de sílabas ou palavras).

Sintomas negativos

Dois dos sintomas negativos especialmente importantes na esquizofrenia são a expressão emotiva reduzida e a abulia. A expressão emotiva reduzida consiste em uma diminuição da expressão das emoções mediante a expressão facial, o contato ocular, a entonação da fala e os movimentos das mãos, da cabeça e do rosto que geralmente proporcionam ênfase emotivo ao discurso.

A abulia é uma diminuição das atividades, realizada por iniciativa própria e motivada por um propósito. O indivíduo pode permanecer sentado durante longos períodos de tempo e mostrar pouquíssimo interesse em participar de atividades profissionais ou sociais.

Psicose

Qual é a causa da psicose?

Essa é uma pergunta difícil de responder: não existe apenas uma causa, mas sim uma grande quantidade de fatores ou causas que podem desencadear uma psicose. Vamos tentar responder a essa pergunta tratando sobre as diferentes “doenças” que podem causar sintomas psicóticos.

Esquizofrenia

Existe uma importante contribuição dos fatores genéticos na hora de determinar o risco de apresentar esquizofrenia, apesar da maioria dos indivíduos diagnosticados com esquizofrenia não apresentarem antecedentes familiares de psicose. A pré-disposição para sofrer do transtorno é provocada por um leque de alelos de risco, comuns e raros. Cada alelo contribui apenas para uma pequena fração do total da população.

As complicações decorrentes da gravidez e o parto com hipóxia (falta de oxigênio), além de casos de pessoas que se tornam pais em idade mais avançada, são fatores associados a um maior risco de sofrer de esquizofrenia. Outras situações adversas durante a gravidez, como o estresse, as infecções, a desnutrição, a diabetes materna e outros problemas de saúde também podem influenciar.

A estação do ano no momento do nascimento também está relacionada com a incidência da esquizofrenia: por exemplo, no final do inverno/começo da primavera em algumas regiões. Além disso, a incidência da esquizofrenia e de transtornos relacionados é maior em crianças que crescem em um meio urbano e em alguns grupos étnicos minoritários.

Transtorno esquizoafetivo

É definido como um período ininterrupto da doença durante o qual existe um episódio maior do estado emocional (maníaco ou depressivo maior) e delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento muito desorganizado ou sintomas negativos.

Podem ter maior risco de apresentar transtorno esquizoafetivo familiares de primeiro grau de indivíduos com esquizofrenia, transtorno bipolar ou transtorno esquizoafetivo.

Não existe uma causa única, mas uma grande quantidade de fatores e desencadeadores que podem fazer com que se desencadeie uma psicose.

Como lidar com a psicose

Transtorno psicótico breve

Os fatores de risco para esse transtorno são os transtornos e características pré-existentes da personalidade, como o transtorno da personalidade esquizotípica, o transtorno da personalidade limítrofe ou determinadas características, como desconfiança. O transtorno psicótico breve costuma ser desencadeado por um acontecimento estressante, mas isso não quer dizer que todos os acontecimentos estressantes desencadeiem um transtorno psicótico breve.

Outros transtornos psicóticos

Em geral, podemos afirmar que a psicose não vai se desenvolver em um indivíduo que não tem as “peças” necessárias para isso. O maior fator de risco é de ordem biológica e o fator que age como propulsor da doença costuma ser alguma situação de estresse agudo na vida da pessoa ou o consumo de determinadas substâncias (drogas).

Nem todos os episódios psicóticos são produzidos pelo consumo de drogas, mas o consumo aumenta as chances de apresentar a doença. Algumas drogas, como a cannabis, podem desencadear um episódio psicótico e as pessoas que sofreram um episódio assim são especialmente sensíveis aos efeitos nocivos das drogas, sobretudo se tal episódio teve relação com seu consumo.

As possíveis causas estão sendo pesquisadas e, apesar de não se conhecer com certeza os mecanismos implicados no aparecimento e na evolução dos sintomas, o modelo de vulnerabilidade-estresse é o que tem apresentado maior aceitação nas pesquisas mais recentes. Segundo esse modelo, a pessoa que apresenta esses sintomas psicóticos é mais vulnerável que outras para sofrer dessa doença, o que pode ser ocasionado por um aspecto biológico ou ainda por algum acontecimento na vida que precipitou seu desenvolvimento.

Tratamento da psicose

O plano de tratamento de um transtorno psicótico deve ser multidisciplinar, coordenado e integrado, já que normalmente a intervenção é realizada por vários profissionais. As recomendações para um plano terapêutico adequado são as seguintes:

  • Avaliação e diagnóstico dos sintomas.
  • Desenvolvimento do plano de tratamento. O tratamento de escolha é o farmacológico, mas pode ser potencializado por tratamentos psicológicos, que têm maior impacto sobre os sintomas negativos, o funcionamento psicossocial, as funções cognitivas e, definitivamente, sobre a qualidade de vida das pessoas com psicose.
  • Conseguir uma relação médico/psicólogo-paciente adequada e que este último se envolva ativamente no tratamento.
  • Educação sobre a doença para o paciente e seus familiares.
  • Intervenção sobre outras alterações comórbidas.
  • Intervenção em relação ao funcionamento social do paciente.
  • Integração dos diferentes tratamentos aos quais o paciente está submetido.
  • Relatório dos tratamentos realizados.

Tratamento farmacológico

A administração de fármacos é sempre o tratamento de escolha para indivíduos com psicose, mas esse tratamento é mais eficaz se combinado com intervenção psicológica. Os fármacos administrados a esses pacientes são os antipsicóticos ou neurolépticos. Também se costuma administrar ansiolíticos e antidepressivos com o fim de tratar a sintomatologia ansiosa e/ou depressiva.

Psicose

Tratamentos psicológicos

Intervenções familiares psicoeducativas

É fundamental realizar uma intervenção no âmbito familiar com o objetivo de que a própria família esteja consciente da sintomatologia para poder realizar um controle adequado dos sintomas do paciente. Alguns dos objetivos da psicoeducação consistem em fornecer uma explicação adequada sobre o transtorno, reduzir a carga familiar, desenvolver um clima familiar aconchegante, melhorar a comunicação, etc.

A administração de fármacos é sempre o tratamento de escolha para indivíduos com psicose, mas esse tratamento é mais eficaz se combinado com intervenção psicológica.

Treinamento em habilidades sociais

As pessoas com psicose têm, em sua maioria, um déficit em habilidades sociais que repercute em um aumento das recaídas e da sintomatologia, assim como em um funcionamento social muito pobre. Com esses pacientes, trabalha-se gestos, fluidez verbal, tom de voz, velocidade da linguagem, postura, expressão e percepção emocional e social, etc.

Terapia psicológica integrada (IPT) de Roder e Brenner (2007)

A ITP é um programa de tratamento comportamental para a esquizofrenia, grupal (5-7 pacientes), que é realizada três vezes por semana, com uma duração mínima de três meses. É composta por 5 módulos, nos quais se inclui a reabilitação cognitiva (diferenciação cognitiva, percepção social e comunicação verbal) e o treinamento em competência social (treinamento em habilidades sociais e solução de problemas interpessoais).

Definitivamente, como dissemos anteriormente, o tratamento dos transtornos psicóticos é fundamentalmente farmacológico e apoiado por intervenções psicológicas para aumentar sua eficácia. Nesse sentido, o tratamento farmacológico é muito importante: ele reduz a sintomatologia da pessoa afetada e contribui para que ela se mantenha equilibrada. Ou seja, ajuda a gerar boas condições para trabalhar com essa pessoa na terapia.

Bibliografia:

American Psychiatry Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), 5ª Ed. Madrid: Editorial Médica Panamericana, 2014.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.