Quando o medo é do amor
“Deprimir-se, atrever-se, estar furioso,
áspero, tenro, liberal, esquivo,
animado, mortal, defunto, vivo,
leal, traidor, covarde e corajoso;
não achar fora do bem centro e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
zangado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receoso;
fugir o rosto ao claro desengano,
beber veneno por licor suave,
esquecer o proveito, amar o dano;
acreditar que um céu em um inferno cabe,
dar a vida e a alma a um desengano;
isso é amor, quem o provou sabe”
– Lope de Vega –
Lope da Vega descreveu o amor em seu poema titulado “Vários Efeitos do Amor“, contraditório e belo ao mesmo tempo. Mas, o que aconteceria se não fôssemos capazes de demonstrar amor?
A filofobia é o medo de se apaixonar, de se deixar levar
Ela se manifesta, sobretudo, nos primeiros meses de relação, quando experimentamos aquela maravilhosa sensação que nos empurra a idealizar nosso par, a acreditar que ele é perfeito, a sentir um forte desejo de passar o máximo de tempo possível juntos.
Além dessas sensações idílicas, apaixonar-se significa também adaptar nossa vida ao outro, suavizar parte do nosso caráter e modificar alguns comportamentos para nos adaptarmos e vivermos uma história de amor juntos. Uma mudança que se produz naturalmente e que o frenesi inicial nos impede de ver.
Mas a filofobia não nos permite participar de forma ativa nestas situações: não nos envolvemos e não nos mostramos como somos, não nos permitimos compartilhar nossa vida de forma autêntica e profunda.
Quais são as causas da filofobia?
Uma terapia com um psicólogo pode nos ajudar a descobrir as causas desse medo, que são diferentes para cada pessoa e dependem de suas experiências pessoais.
Mas existe um elo comum: a filofobia é uma forma de se defender da parte escura do amor; não amamos para não sofrer.
Se o amor não entra em nossa vida, é porque não permitimos que ele entre.
As motivações podem ser várias: as cicatrizes de uma desilusão sentimental anterior que nos impede de voltar a tentar, a incapacidade de ser sincero com o outro, o costume e o egoísmo de não abandonar um estilo de vida, a liberdade que se sente ao estar solteiro, etc.
Frequentemente as causas se escondem na infância: crescer em uma família em que a pessoa não se acostuma a amar ou reconhecer, a se deixar levar pela afetividade, a falar de sentimentos. Outra influência são as necessidades de afeto não correspondidas por parte dos progenitores.
Nessas situações, as respostas obtidas e a desilusão experimentada se unem e se tornam o único modo conhecido de se relacionar.
Isso é o mas perigoso: as pessoas entendem que, ao demonstrarem amor, só poderão receber negações e humilhações, e acreditam que as relações só podem ser superficiais.
Quem é o filofóbico?
Quem vive esse bloqueio sente uma grande insegurança, uma notável incapacidade para se tranquilizar. A pessoa tem medo de experimentar o amor e uma relação de casal profunda e sincera.
Com frequência, trata-se de um medo inconsciente que somos incapazes de explicar ou admitir, mas que é a base de muitos comportamentos que nos impedem de fazer crescer uma relação.
É uma fobia em todos os efeitos, portanto, se experimentam exatamente os mesmos sintomas que podem ser apresentados em uma fobia.
Alguns deles podem ser:
- Medo persistente, excessivo ou irracional. Resposta ansiosa frente ao estímulo fóbico.
- Ataques de pânico.
- Problemas de sono.
Esses estados de ânimo levam o filofóbico a evitar a situação fóbica, a sentir ansiedade ou mal-estar se está vivendo uma relação.
O resultado é a incapacidade de instaurar uma relação de casal empática e profunda, privando-nos de uma das jóias da vida: amar e sermos amados.
Como superar a filofobia?
Sempre vale a pena arriscar, se o que estiver em jogo for o amor.
O primeiro passo, como sempre, é admitir o problema. Devemos nos dar conta de que nossas escolhas na vida estão condicionadas por esse medo incontrolável.
Ir a um psicólogo pode ajudar a compreender as motivações e a forma mais apropriada de superar esse bloqueio.
É importante repetir algumas coisas:
- Não rejeitemos a possibilidade de nos apaixonarmos e de vivermos uma relação estável e duradoura.
- Não temos uma bola de cristal, não podemos saber como terminará uma história, portanto não faz sentido assumir que tudo dará errado.
- Evitemos as comparações com os amores passados; cada história é diferente porque cada casal é diferente.
- Não esperemos da vida uma relação perfeita, porque a perfeição não existe. Até as relações que já acabaram, embora tenham doído, nos deixaram alguma coisa, nos ensinaram alguma coisa e nos fazem ser quem somos agora.