Quando a nostalgia se esquece do presente

Quando a nostalgia se esquece do presente

Última atualização: 09 dezembro, 2016

O filme “Meia-Noite em Paris”, de Woody Allen, explica a nostalgia como sendo a negação do presente através da vida do seu personagem principal. O nome deste distúrbio é conhecido como “síndrome da era de ouro”, e trata-se da ideia equivocada de que um período diferente é melhor do que o que vivemos atualmente. Este engano da imaginação romântica costuma acontecer com as pessoas que têm dificuldade para lidar com o presente.

‘Meia-Noite em Paris’ é uma comédia cinematográfica que mostra a vida como uma coisa que não é tão mágica quanto os nossos próprios sonhos, mas onde podemos ser donos de nossas próprias decisões.

A realidade do personagem principal no seu presente não é agradável, é menosprezado pela sua namorada e pela família dela. Sente-se sozinho quando, no seu passado, a imagem que projetava era muito diferente: alegre, respeitado, com muitos amigos e um novo amor que o faz sentir vontade de ficar e abandonar tudo.

O seu desejo de ficar preso a uma época passada é uma forma de negar o seu presente. Um presente cheio de compromissos que, longe de preenchê-lo, o chateiam. Por causa da sua covardia e da sua falta de determinação, em vez de encarar esse presente, ele foge para um passado fictício onde encontra tudo que não tem no momento atual. No final, a realidade se impõe e terá que tomar uma decisão complicada.

“A nostalgia é uma forma romântica de estar triste.”
-Mario Quintana-

A síndrome da era de ouro

A ‘síndrome da era de ouro’ é uma síndrome cinematográfica retratada por Woody Allen. Uma versão atenuada desse complexo com tons de realidade ocorre no pensamento melancólico, quando consideramos que um tempo passado foi melhor que o que vivemos. Tudo gira ao redor desse tempo, os passatempos, as obsessões, os comportamentos, procurando recuperar esse momento.

Quando vêm à mente as lembranças da infância ou momentos passados que consideramos que são melhores que os atuais, pensando que as coisas diferentes sempre implicam um retrocesso, de certa forma estamos beirando a síndrome da era de ouro. Este complexo também nos levará inevitavelmente a viver abraçados ao passado, e consequentemente nunca estaremos satisfeitos com o que temos.

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Nos relacionamentos amorosos também costumam surgir estes padrões. Isto acontece quando pensamos que um certo relacionamento que tivemos no passado foi perfeito, e que se tivermos outro no futuro, sempre estará abaixo daquele. Pensar desta forma nos levará inevitavelmente a procurar o que já tivemos com uma pessoa totalmente diferente, o que nos levará a comparações e a não valorizar o que temos no momento presente.

“Inclusive o passado pode ser modificado, os historiadores mostram isto o tempo todo.”
-Jean Paul Sartre-

A nostalgia como negação do presente

A nostalgia é definida como o sofrimento de pensar em alguma coisa que tivemos ou vivemos e que agora não existe mais ou mudou. As pesquisas mostram que a nostalgia nos torna mais empáticos e sociais. Quando ficamos nostálgicos, relembramos um passado refletido em uma combinação de muitas lembranças diferentes, todas integradas, em cujo processo estão infiltradas todas as emoções negativas.

O neurologista e psiquiatra Alan R. Hirsch aponta que a nostalgia favorece a tendência de esquecer com mais facilidade as coisas negativas, e ficamos com os aspectos positivos das lembranças. Por isso lembramos das boas experiências da infância, os amigos, o recreio, os brinquedos, e esquecemos os momentos não tão bons, as suspensões, os castigos, as horas chatas de aula.

São experiências sem dúvida gratificantes, provas de que as nossas vidas têm um sentido que, na sua maior parte, é feito por nós mesmos. Portanto, a memória é a encarregada de nos dizer quem somos, sem que isto perca sentido com quem fomos. Entender esta evolução é justamente o que nos faz voltar ao passado, sem ficarmos presos a ele.

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Não existe nostalgia pior do que desejar o que nunca existiu.


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