Como saber quando reclamar e quando deixar passar 

Como saber quando reclamar e quando deixar passar 
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 02 abril, 2020

A agressividade é um dos instintos menos compreendidos e piores administrados. Tem, no geral, uma conotação negativa. No entanto, faz parte da “equipe” de sobrevivência, por isso é fundamental. Uma das situações nas quais esse dilema de apreciação surge é ao decidirmos quando reclamar e quando deixar passar.

Muitas vezes ficamos em dúvida se, ao reclamar, estaremos sendo hipersensíveis com algo que não vale a pena, ou se realmente trata-se de algo importante que não podemos deixar passar. Não é fácil chegar a uma conclusão, pois depende de uma avaliação subjetiva que, por sua vez, depende muitas vezes do nosso humor, e não da realidade objetiva.

“Sem razão, o mar reclama novamente sobre a navegação.”
– Sêneca-

O dilema de quando reclamar ou não pode ser mais relevante do que parece à primeira vista. Quando é necessário formular uma reclamação e isso não é feito, damos abertura para que as pessoas passem por cima de nós. E quando reclamamos de algo que não tem mérito, podemos dar abertura a um conflito desnecessário. Ambos os fatos poderiam ser decisivos se envolvessem uma situação de importância.

Pistas para saber quando reclamar

A pergunta é: Quais são os critérios que devemos aplicar para saber se o adequado é reclamar diante de uma situação que causa raiva, incômodo ou frustração? A primeira coisa que deve ser levada em conta é algo que está implícito na pergunta feita acima: nem sempre é válido começar uma reclamação, seja ela pessoal ou corporativa. 

Mulher e lupa mostrando borboleta

A princípio, podemos afirmar que reclamar é inquestionável quando:

  • Afeta um direito básico ou fundamental. Nunca se deve fazer silêncio em casos assim. Não reclamar sob estas circunstâncias abre espaço para falta de respeito e consideração.
  • Quando um dano causado tem efeitos que não são apenas imediatos, mas que condicionam seu bem-estar a médio e longo prazo. Neste caso, não reclamar significa prolongar um efeito adverso sobre nós mesmos.
  • Se um acordo ou pacto for deliberadamente violado. Se um acordo estabelecido for rompido, isso inclui um motivo válido para reclamar. Supõe uma mudança nas regras do jogo. Se a reclamação não for feita, novas normas serão aceitas, inclusive se forem prejudiciais para nós mesmos.
  • Quando é um atentado à dignidade. Isso pode acontecer de forma verbal, física ou simbólica. Não deve ser aceito em nenhum destes casos. Calar-se ou manter-se inativo equivale a legitimar a ação.

Quando não reclamar?

Assim como existem critérios que orientam à reclamação, também há outros que nos dão pistas sobre as situações nas quais não é necessário reclamar. A primeira delas é quando alguém nos causa incômodo ou desconforto involuntariamente. Não houve intenção de fazer mal, mas devido a alguma circunstância, a vítima acabou sendo afetada sem querer. Então, por que reclamar?

Também não é adequado reclamar quando o que acaba sendo afetado é o nosso ego ou a nossa vaidade. Por exemplo, quando não somos convidados para participar de uma atividade em grupo para a qual esperávamos ser convidados. Ou quando não somos tratados como reis, mas não há nenhum tipo de maus-tratos. Nestes casos, o desconforto surge através de uma ferida narcisista que temos que superar, em vez de reivindicar.

Homem e mulher distantes

Um dos casos nos quais nunca sabemos se devemos reclamar é naquelas ocasiões em que fizemos um favor para alguém e esperamos que esta pessoa nos devolva o favor de alguma forma, sendo que ela nunca nos prometeu isso. Se não houver um acordo prévio, cada um tem o direito de devolver o favor ou não. Também depende de você resolver fazer o favor para a pessoa ou não.

Reclamar também é uma arte

Quando decidimos que o mais adequado é reclamar, isso não quer dizer que queremos iniciar um conflito. O conflito existe, pois chegou-se à situação na qual uma das partes age em detrimento da outra. O que não deve ser feito é partir para a agressão para solucionar o problema. 

É sempre melhor fazer qualquer reclamação quando o desconforto não estiver à flor da pele. Se nos fizeram algum mal, isso vai gerar frustração. Ao mesmo tempo, dá espaço para uma raiva que pode ser muito injusta, mas que muitas vezes não podemos dimensionar, nem administrar a situação adequadamente. Por isso, o melhor a se fazer é tentar se acalmar antes de reclamar. 

O seguinte passo é expor claramente a reclamação. Indicar qual é o aspecto que incomoda e o motivo. Indicar de que maneira os nossos direitos ou acordos foram vulnerados. Pedir ou exigir uma explicação e, se for o caso, um pedido de desculpas ou uma compensação pelo mal causado. Tudo isso pode ser feito sem passar raiva. Nada como a serenidade para solucionar este tipo de dificuldade. 


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.