O que aconteceu com os eufemismos?

O uso de eufemismos está associado aos tabus do ser humano, como questões sexuais, fisiológicas, escatológicas e realidades vulgares, e também ao discurso do que é politicamente correto.
O que aconteceu com os eufemismos?
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Quando uma companhia demite funcionários, ouvimos falar de “cortes estratégicos no planejamento da empresa”. Se há um aumento absurdo no preço da gasolina, ficamos sabendo que “houve um ajuste no preço do combustível”. Estes são exemplos que mostram como estamos cercados de termos – eufemismos – que acobertam realidades sociais às quais é melhor não chamar pelo nome original.

Dessa forma, cruzamos com diferentes conceitos que tentamos evitar. Palavras que podem provocar feridas, que são inadequadas ou soam mal, que fazem com que o nosso vocabulário esteja repleto de termos eufemísticos dos quais, muitas vezes, sequer estamos conscientes.

Este artigo vai estudar os eufemismos: o que são, qual é a sua origem, seus usos e utilidades.

Qual é a origem do termo eufemismos?

A palavra eufemismo provém do verbo grego εὐφημίζομαι: “dizer boas palavras” –εὐ, em grego, significa “bem”, e φημί, “falar”.

Assim, os eufemismos são termos usados para substituir algo que queremos dizer, mas que pode ser duro ou soar mal. Estas palavras são utilizadas para suavizar ou reduzir as conotações negativas, depreciativas ou ofensivas.

O uso dos eufemismos está ligado aos temas tabu,  como as questões sexuais, fisiológicas, escatológicas e realidades vulgares, e ao discurso do que é politicamente correto, como questões raciais ou étnicas, etárias, sociais ou deficiências. Resumindo, engloba o conceito de falar bem.

Características dos eufemismos

Para que uma palavra funcione como eufemismo, sua interpretação deve permanecer ambígua para o ouvinte, que vai interpretá-la em seu sentido literal ou eufemisticamente.

Além disso, um eufemismo não pode ser substituído por outro termo e conservar integralmente os mesmos efeitos cognitivos, sociais e estilísticos.

À medida que o uso do eufemismo se espalha, ele passa a se comportar mais como um sinônimo do termo original do que como um eufemismo. São os conhecimentos, usos sociais e crenças dos interlocutores que determinam o uso adequado do eufemismo dentro de cada contexto.

O que são os disfemismos?

O disfemismo é o antônimo do eufemismo. É um tipo de sarcasmo no qual são utilizadas expressões pejorativas e negativas para descrever objetos, acontecimentos ou pessoas.

Tanto o disfemismo quanto o eufemismo são figuras de linguagem, um tipo especial de metáfora estudada na análise do discurso.

A linguagem pode mudar a realidade?

O filólogo e diretor da Real Academia Española, Lázaro Carreter, afirma que “O eufemismo sempre denuncia um medo da realidade, um vergonhoso desejo de escondê-lo, uma máscara de linguagem imposta em seu verdadeiro rosto e, em suma, a vontade de aniquilá-la. Mas o que existe não é apagado com palavras. Eu gostaria que isso fosse possível no caso de ações abomináveis, o terrorismo, por exemplo, disfarçado pelos assassinos e porta-vozes como uma luta armada”.

Uma visão com a qual pode-se não estar de acordo e que renega o uso dos eufemismos, já que os eufemismos não podem mudar a realidade à qual nos referimos.

Por outro lado, encontramos aqueles que argumentam que, embora seja evidente que o emprego de outros termos não vai modificar o ponto de referência, o uso de eufemismos é necessário.

Por exemplo, embora evitar chamar alguém de “gordo” não vá transformar a pessoa em magra, essa é uma forma de demonstrar um certo respeito, cortesia e decoro. Defende-se, assim, que o uso de eufemismos é parte da linguagem, já que este é uma atividade social.

Os eufemismos e a política

A política é um dos espaços nos quais os eufemismos são mais comuns. Ao utilizar um eufemismo, um político pode, por exemplo, ocultar uma decisão pouco popular e apresentar suas propostas como algo mais tolerável para a sociedade.

Diante do aumento dos impostos para combater a crise, por exemplo, podemos ouvir a respeito da necessidade de “fazer um ajuste impositivo para garantir o crescimento”.

Outro exemplo muito comum na política acontece nos conflitos bélicos, como o uso de “danos colaterais” para suavizar a ideia de mortes de inocentes. Ou o termo “operação”, quando nos referimos a uma “invasão” durante uma crise internacional.


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