Que tipos de sede existem e como funcionam

A sede é um mecanismo autorregulador do corpo que nos ajuda a equilibrar os níveis de água e sais no corpo e nas células. Conheça os dois tipos de sede que existem e qual estímulo desencadeia cada uma.
Que tipos de sede existem e como funcionam
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por a psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 19 outubro, 2022

A sede é um recurso autorregulador da homeostase (estado de equilíbrio) do corpo. Encontramos dois tipos de sede, que acarretam uma sensação de secura na boca e na faringe, bem como um desejo urgente de beber água ou outros líquidos.

Embora a sede seja saciada com água, existem diferentes tipos. Neste artigo, falaremos sobre suas características, os estímulos que desencadeiam e o que acontece no nível químico em nosso corpo quando a sentimos.

As funções da água no organismo

Aproximadamente dois terços do corpo é constituído por água, a maior parte da qual se encontra no interior das células. E é que o corpo precisa de água para desenvolver diferentes funções, como:

  • Circulação sanguínea.
  • Regulação da temperatura.
  • Digestão.
  • Eliminação de substâncias residuais.

É importante manter a hidratação adequada do corpo, pois se a desidratação for crescente e contínua, podemos sofrer um grande número de problemas; os mais frequentes, associados ao funcionamento dos neurônios e dos rins. Mas que tipos de sede existem?

Menino bebendo água da garrafa
Quando sentimos sede osmótica, as células do corpo perdem água (desidratação celular).

Tipos de sede

A sede é definida como ‘o desejo de beber líquidos’. É um processo fisiológico básico, um instinto natural que nós seres humanos temos. Graças a esse mecanismo, regulamos o teor de água do nosso corpo e das nossas células, evitando a desidratação.

Principalmente, a sede é causada pela falta de hidratação ou pelo aumento da concentração de sais minerais. Falamos sobre os dois tipos de sede que existem: a sede osmótica e a sede volêmica, e como elas funcionam.

1. Sede osmótica

A sede osmótica é produzida pela evaporação ou pela ingestão de uma grande quantidade de sal através dos alimentos. As células então perdem água para compensar o aumento da concentração de sais no corpo, o que faz com que o cérebro induza a sede.

Dessa forma, o estímulo que ativa esse tipo de sede é a desidratação celular. Comer alimentos salgados aumenta a tonicidade (ou seja, a concentração de soluto) do líquido intersticial. Assim, quando comemos uma refeição salgada, sentimos uma sede puramente osmótica.

O sal é absorvido pelo sistema digestivo e incorporado ao plasma sanguíneo. Ele se torna hipertônico, o que faz com que a água seja expelida do compartimento intersticial para o intravascular. O comportamento intersticial torna-se então hipertônico, o que provoca a saída de água do interior das células em direção ao espaço intersticial.

Finalmente, o excesso de sódio é excretado pelos rins, juntamente com a água obtida dos líquidos intersticiais e intracelulares. O resultado final é que nossas células perdem água (em nenhum momento o volume de plasma sanguíneo diminui).

A química da sede osmótica

Em um nível químico, quando experimentamos a sede osmótica, uma série de osmorreceptores (aglomerados de células no hipotálamo) são ativados, que, por sua vez, estimulam os neurônios no núcleo pré-óptico mediano do hipotálamo. E os neurônios desse núcleo ativam outras estruturas do hipotálamo que vão provocar a secreção de uma substância, a vasopressina, pela neurohipófise.

Tudo isso leva à retenção de água e à estimulação do comportamento de beber (sentimos vontade de beber). Assim, esse núcleo pré-óptico mediano localizado no hipotálamo é o centro de integração das sensações relacionadas aos dois tipos de sede, a osmótica e a volêmica (sobre as quais aprenderemos a seguir).

O núcleo pré-óptico mediano localizado no hipotálamo é o centro de integração das sensações relacionadas aos dois tipos de sede: sede osmótica e volêmica.

2. Sede volêmica

O segundo tipo de sede é a sede volêmica (também chamada de sede hipovolêmica). Nesse caso, o estímulo que o ativa é a diminuição do fluxo sanguíneo. Pode ser produzida por evaporação, como no caso da sede osmótica, mas também pode ser causada por outros fatores, como:

  • Perda de sangue.
  • Vômito.
  • Diarréia.

Os receptores para a sede volêmica estão localizados nos rins, no coração e nos grandes vasos sanguíneos (os chamados “barorreceptores”, que enviam informações para uma estrutura cerebral, o núcleo do trato solitário, localizado na medula oblonga).

A química da sede volêmica

Assim, nesse tipo de sede, há uma diminuição do fluxo sanguíneo nos rins, o que provoca a ativação de um sistema, denominado sistema renina-angiotensina. Os rins secretam renina, enzima que catalisa a transformação da globulina plasmática a2 em angiotensina I; esta é hidrolisada para se tornar angiotensina II; a angiotensina II é detectada por células do órgão subfornical que ativa o núcleo pré-óptico mediano do hipotálamo.

E essa ativação está relacionada à retenção hídrica e ao comportamento de beber, mas também à ativação do sistema nervoso autônomo (SNA) para produzir vasoconstrição, e assim conseguir manter uma pressão arterial funcional e adequada, compensando a diminuição do fluxo intravascular.

Homem bebendo água após o exercício
A sede osmótica é causada por um déficit de líquido intracelular e a sede volêmica, por um déficit de líquido intravascular (sangue).

Os dois tipos de sede e como aliviá-los

A regulação dos tipos de sede permite regular os sais e a quantidade de água no nosso corpo, o que favorece a homeostase adequada (que se traduz em saúde e boa condição física).

Por sua vez, a sede osmótica ocorre após uma refeição com alto teor de sal, quando as células do nosso corpo pedem água para compensar esse aumento na concentração de sais no corpo. Para aliviá-lo, devemos beber água.

Por outro lado, a sede volêmica ou hipovolêmica aparece quando fazemos exercícios intensos e perdemos água e sais minerais pelo suor (embora também surja por diarreia, vômito ou perda de sangue). O que está acontecendo nesse caso é que o nível de volume sanguíneo do nosso corpo está diminuindo. Essa sede é aliviada pela ingestão de água e também pela ingestão de sais devido à perda de íons produzidos.

Em suma, o déficit de líquido intracelular (dentro das células) causa sede osmótica, enquanto o déficit de líquido intravascular (sangue) leva à sede volêmica. Embora ambos os tipos de sede estimulem o comportamento de beber, a verdade é que a sede osmótica é a mais poderosa das duas, a que mais provavelmente nos induz a beber.

E você, conhecia os dois tipos de sede que os humanos sentem? Qual você acha que experimenta com mais frequência?


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Carlson, N. R. (2005). Foundations of Physiological Psychology: Custom edition for SUNY Buffalo. Boston, MA: Pearson Custom Publishing.
  • Monckeberg, F. (2012). La sal es indispensable para la vida, ¿pero cuánta? Rev chil nutr, 39(4), 192-195. http://dx.doi.org/10.4067/S0717-75182012000400013
  • Sánchez, A. y Del Sagrario, M. (2011). Equilibrio Hidroelectrolítico y Trastornos Osmóticos. El Laboratorio Clínico III: Análisis de las Muestras de Orina. Tema 12.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.