Relações e tensões durante o confinamento

É normal surgirem tensões na convivência durante o confinamento, especialmente quando o espaço é limitado ou quando há conflitos prévios não resolvidos. É importante conversar e desatar esses nós para que a convivência não se torne um pesadelo.
Relações e tensões durante o confinamento
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

Inicialmente, a quarentena não tinha motivo para se tornar um problema sério para a maioria de nós. No entanto, as restrições impostas acabaram criando tensões nas relações durante o confinamento. Nesse sentido, vale a pena examinar qual é a origem do problema, para poder intervir de maneira precisa.

No começo, ficar em casa com o parceiro ou com a família envolvia apenas um certo ajuste de hábitos e uma renovação das relações. O que acontece, porém, é que muitas das tensões que surgem durante o confinamento já existiam antes, mas a força da convivência acaba tornando a coisa mais forte e clara.

A situação atual é produto de uma mudança repentina, que exigiu adaptações rápidas. Além disso, o contexto é de incerteza, e por isso é de se esperar que fiquemos angustiados.

Tanta pressão torna as pessoas mais irritáveis e mais difíceis. No entanto, não é preciso chegar a um ponto de conflitos graves no qual as relações se perdem no meio de brigas e tensões.

“Não há nada a se temer na vida, só é necessário entender. Agora é o momento de entender mais, para que possamos temer menos”.
-Marie Curie-

Casal brigando na quarentena

Tensões nas relações durante o confinamento

A quarentena intensifica o contato entre as pessoas que vivem na mesma casa e, além disso, impõe restrições. Com certeza toda família e todo casal tinha, antes desse momento, muitos hábitos e determinações relacionadas aos espaços e aos recursos disponíveis dentro de uma rotina em comum. Com o confinamento, a primeira coisa que muda é exatamente essa.

O espaço que antes era compartilhado apenas parcialmente agora se torna um cenário constante, no qual há uma convivência intensa. A mesma coisa acontece com os recursos disponíveis, como computador, televisão e inclusive os espaços sociais.

Se as duas partes têm disposição para conversar e se adaptar, as tensões durante o confinamento conseguem ser resolvidas de forma relativamente rápida. É preciso chegar a acordos razoáveis, nos quais cada parte cede em algo para o bem comum. A ajuda mútua é imposta sobre o interesse individual, porque estamos falando de um casal ou de uma família.

Tensões crescentes

É claro que nem sempre as conversas e negociações produzem os melhores resultados e chegam a um acordo satisfatório. Em vários países, especialmente da América Latina, os índices de violência intrafamiliar aumentaram durante o confinamento.

Muitas vezes, os maus-tratos acontecem entre os membros do casal, mas também podem cair sobre as crianças. Em muitos casos, a quarentena não é a responsável por algo assim ocorrer. Geralmente, as relações já possuíam problemas do tipo antes dessa situação.

As tensões durante o confinamento se intensificam e, ao mesmo tempo, os recursos para geri-las se tornam mais escassos. Nesses casos, os conflitos latentes se tornam mais perigosos do que nunca, já que podem explodir a qualquer momento, tornando a convivência até mesmo insuportável.

Antes, as pressões podiam ser um pouco aliviadas ao nos afastarmos fisicamente. O confinamento destrói essa estratégia de evasão, o que, por sua vez, aumenta as pressões. Adicionalmente, os conflitos só são assumidos quando as pessoas estão prontas para fazer isso, e não quando são obrigadas a encará-los. O que fazer nessa situação?

Mãe e filha brigando na quarentena

Ganhar terreno

As tensões que surgem nas relações durante o confinamento não vão desaparecer como num passe de mágica. Tudo depende do tipo de conflito e da intensidade do mesmo.

Uma coisa é lidar com a incompatibilidade de uma característica e outra, por exemplo, é lidar com uma pessoa viciada o dia todo ao seu lado. Do mesmo modo, uma coisa é tolerar a indiferença ou a indolência de outras pessoas, e outra é lidar com a agressividade e a violência.

Em situações nas quais há possibilidade da integridade física de uma pessoa estar em risco, a melhor opção é pedir ajuda externa ou buscar uma maneira de se mudar, pelo menos de forma temporária. Não é necessário esperar que as coisas cheguem a algum ponto extremo para tomar uma decisão.

Se o conflito não chega a esse extremo, a melhor solução é começar a delimitar e respeitar espaços. Isso supõe elaborar horários para o uso de espaços comuns e dos recursos disponíveis. Se é muito difícil conviver, a ideia de criar uma rotina que permita administrar o está disponível sem precisar interagir constantemente também é boa.

Há muitos psicólogos que estão oferecendo seus serviços, inclusive de maneira gratuita e virtual. Diante de uma tensão coletiva difícil de superar, pode ser uma boa ideia consultar um desses profissionais e tirar proveito das suas indicações. Para algumas pessoas, inclusive, esta pode ser uma oportunidade de solucionar os problemas que estão pendentes.


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  • Valdés, T., Valdés, X., Ambrosio, V., Arriagada, I., Jelin, E., García, B., … & Saavedra, R. (2005). Familia y vida privada:¿ Transformaciones, tensiones, resistencias o nuevos sentidos?. FLASCO-Chile.


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