Resignação: impotência ou atitude positiva?

Resignação: impotência ou atitude positiva?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

A vida, às vezes, não é como imaginávamos. Nem sempre alcançamos os sonhos que planejamos, tornar-se adulto significa, às vezes, ceder a uma dura realidade à qual nos resignamos para enfrentá-la com um pouco mais de facilidade.

Honoré de Balzac disse que “a resignação é algo como um suicídio diário”. Aceitar o que temos agora sem promover mudanças, ou mesmo protestar, seria algo como desistir e entregar nossas forças ao que a vida, o destino ou o acaso nos trouxe. Agora, isso é sempre assim? Devemos ver a resignação como uma dimensão puramente negativa?

Em absoluto. Às vezes a resignação é uma espécie de resiliência passiva, e podemos até assumir um aprendizado positivo nela. Digamos que você acabou de sair de um relacionamento bastante complicado. Você pôs fim a isso e supõe que uma etapa de sua vida acaba de terminar e que agora começa outra muito diferente, nos resignamos positivamente às novas circunstâncias, conscientes de nossa situação.

Assim, a resignação tem duas abordagens interessantes com as quais sempre podemos aprender. Vamos falar sobre isso hoje.

Quando a resignação se torna um conforto perigoso

“E o que vou fazer se a situação for o que é e eu não puder fazer nada para mudar isso?”

Certamente em mais de uma ocasião você já ouviu essa mesma expressão de alguém ao seu redor, ou você mesmo pode ter pensado nisso. Explicamos quais dimensões estão escondidas por trás desse ponto de vista.

– 1. A resignação que se aceita, que se assume e não se questiona, acaba por tornar-se uma “crosta” que nos imobilizará ainda mais. É possível que alguns de nós tenham uma história pessoal na qual, diante de cada tentativa de alcançar algo certo, apenas o fracasso tenha sido encontrado. Neste caso estaríamos falando quase de um desamparo aprendido. Por que tentar de novo se vou sentir a dor do erro ou a humilhação de novo?

– 2. Wilhelm Reich, médico, psiquiatra e eminente membro da escola psicanalítica de Viena, explica que o conceito de “resignação” pode tornar-se o pior inimigo da humanidade. Ataca nossa vida social, afetiva e até física, transformando-nos em criaturas que deixam de se responsabilizar por si mesmas, deixando o poder de decisão nas mãos dos outros. E é um risco, um perigo contra nossa autoestima e nosso próprio senso de “humanidade”.

– 3. A vida às vezes dói. Nada parece dar certo, principalmente quando nos decepcionamos ou percebemos que por mais que tentemos, não vamos conseguir o que tanto sonhamos. O que fazer então? Recorremos ao mais fácil, à resignação e a jogar a toalha. Nesses casos, tal atitude seria um suicídio pessoal, como nos disse Balzac.

Não deixe isso acontecer. Nunca. Nunca se deixe levar por esse tipo de resignação extrema ou terá perdido tudo.

Resignação positiva

Agora vamos falar do outro lado da moeda, sabendo que este conceito pode surpreendê-lo. A resignação positiva realmente existe?

Certamente. Há momentos em que a vida nos traz certas situações diante das quais não temos escolha a não ser aceitar, assumir e nos resignar da maneira mais positiva possível. Uma forma de resiliência passiva em que, em vez de enfrentar as adversidades, as assumimos com integridade, sabendo que nada podemos fazer.

E em que casos devemos supor que “realmente não podemos fazer nada” ? É difícil precisar, pois são inúmeras as situações em que não podemos dizer outra coisa senão “de fato, as coisas são assim”.

Se você não for aceito naquele emprego que tanto desejava, você terá que aceitá-lo. Se a pessoa por quem você está apaixonado lhe disser que não te ama, você também terá que aceitar. Se hoje o voo da sua viagem foi cancelado devido a problemas climáticos, você também terá que se resignar. E você terá que fazê-lo de uma forma positiva.

Às vezes há guerras que não valem mais a pena lutar. Agora, isso significa que vamos desistir? Em absoluto. A resignação fecha portas para nós que não valem mais a pena reabrir, mas nos faz focar em outros caminhos. “Sei que meu relacionamento já terminou. Aceito, respiro, assumo, entendo e me resigno da melhor forma possível, para não acumular mais tensão, raiva ou frustração. Aceito e solto.”

Mas saiba que a vida não acaba aí. Sua autoestima ainda está de pé e você estará pronto para alimentar novas esperanças.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.