Roubo de identidade em redes sociais, uma dor psicológica real
Ana tem uma conta no Instagram com muitos seguidores. Graças a esta rede social poderá manter o seu negócio de papelaria. Um belo dia, ao tentar acessá-la, descobre que não consegue. Ela foi hackeada e é solicitado que ela pague para recuperá-la.
Algo semelhante aconteceu com João, ele é jornalista e costuma usar o Twitter no seu dia a dia para publicar seus artigos. Em certo momento, ele percebe que alguém usurpou seu nome de usuário e senhas e está publicando tópicos sobre criptomoedas e pornografia em seu nome.
Essas experiências acontecem todos os dias com milhares de pessoas ao redor do mundo. O roubo de identidade nas redes sociais é vivenciado de forma angustiante e, em muitos casos, causa grande sofrimento psíquico.
Além da extorsão econômica que pode estar por trás ou da deterioração da imagem pública, há danos mentais. Por um lado, é compreensível sentir raiva e frustração por ser vítima de tal roubo. Nem sempre entendemos como isso foi realizado e é comum nos culparmos por não termos protegido suficientemente nossos dados pessoais.
Por outro lado, há todo aquele amálgama de emoções por ver como outra pessoa assume o controle de algo que é nosso. Porque atualmente as redes sociais são a nossa imagem pública e, por isso, mais um território da nossa personalidade e identidade.
As redes sociais são para muitas pessoas muito mais que uma ferramenta de trabalho: fazem parte de suas vidas e de seu sentido de projeção social.
Roubo de identidade de mídia social, por que eu?
Os dados de cada um de nós enquanto utilizadores das redes sociais são o petróleo do século XXI. Eles são comprados, vendidos e usurpados. Este universo paralelo online anseia por saber tudo sobre o nosso comportamento. Todos os aplicativos móveis que usamos nos espionam e armazenam informações sobre o que fazemos e gostamos. Sabemos disso e até damos o nosso consentimento.
Agora, além das grandes empresas de tecnologia, estão os cibercriminosos, que não apenas nos espionam, mas também podem se passar por nossa identidade criando contas idênticas ou roubando nossas contas nos hackeando. Não ficaremos surpresos ao saber que esse marketing pode ser muito lucrativo e que existem verdadeiras máfias voltadas para esse fim. Agora, por que eles fazem isso?
- O roubo de identidade nas redes sociais é realizado para fins econômicos. Eles podem nos chantagear para recuperar nossa conta, pedir dinheiro a outras pessoas ou abrir negócios fingindo que somos nós.
- Para roubar informações pessoais de nós.
- Outra opção é espalhar malware (programas de computador maliciosos).
- Com o objetivo de postar em nosso nome e direcionar tráfego para suas próprias contas.
- Outro propósito muito comum é prejudicar nossa reputação: minar e destruir nossa imagem pública.
A primeira coisa que nos perguntamos quando nossas contas de mídia social são roubadas é: por que eu? Esse sentimento de desamparo pode ser muito perturbador e até dificultar que a pessoa funcione normalmente em suas vidas.
Minha conta foi hackeada: um sequestro psicológico de alto impacto
Todos os anos, o Identity Theft Resource Center (ITRC) publica um relatório sobre roubo de identidade em todo o mundo. A do ano passado revela que 4 em cada 10 consumidores de mídia social sofreram um roubo de suas contas. 85% daqueles que passaram por essa situação estavam na plataforma do Instagram.
Da mesma forma, o roubo de identidade nas redes sociais é vivido de forma angustiante porque os desenvolvedores não facilitam na hora de devolver a conta roubada ao usuário. O processo é lento e trabalhoso.
Por outro lado, é importante ressaltar que, conforme apontado em outro trabalho realizado na Wollongong University of Dubai, precisamos de mais pesquisas para entender o impacto psicológico dessas experiências.
Agora, sem dúvida, podemos delimitar uma série de experiências com as quais muitos afetados estarão familiarizados:
Porque eu? Incompreensão e frustração
O roubo de identidade nas redes sociais não afeta exclusivamente influenciadores ou pessoas com muitos seguidores. Todos, independentemente do público, nicho ou se somos completamente desconhecidos, somos um alvo para os cibercriminosos. Portanto, a primeira coisa que experimentaremos é incompreensão, raiva e frustração.
Eles roubaram uma parte de mim
A experiência desse tipo de usurpação virtual não é comparável a quando um objeto nos é roubado; é muito mais. Representa a perda de uma área da nossa identidade.
As redes sociais são a nossa voz, uma ferramenta de trabalho e a nossa imagem pública. Isso faz com que muitas pessoas sintam essa experiência como uma agressão física e, como tal, é recorrente perceber dores emocionais e até desconfortos psicossomáticos.
Incapacidade de voltar ao normal
Perder nossa identidade no Facebook, Twitter ou Instagram pode fazer com que não possamos recuperar a normalidade de nossas vidas. Especialmente, se é uma ferramenta de trabalho ou se você passar horas procurando reforços, interagindo e publicando posts. As rotinas são interrompidas e muitas vezes a pessoa não se sente compreendida pelo seu ambiente.
Ansiedade e alterações nos nossos hábitos
Aparecem a raiva, indignação, sensação de injustiça e o demônio da ansiedade. A mente não para de pensar e aquele desordem mental persistente pode traduzir-se em insónias e até distúrbios alimentares. O comportamento também é alterado, falta paciência e até a motivação pode faltar na hora de cumprir as tarefas e obrigações do dia a dia.
Embora cada pessoa possa experimentar algumas mudanças como resultado do roubo de identidade nas redes sociais, aqueles que a usam como ferramenta de trabalho, para interação ou como mecanismo para obter reforço social, se sentirão mais afetados.
O que podemos fazer para prevenir esta situação?
Quando se trata de prevenir o roubo de identidade nas redes sociais, devemos pensar nesses canais como se fossem nossas casas. Mecanismos de proteção devem ser buscados para que ninguém viole nossos espaços pessoais e o que nos pertence, o que nos define. Assim, será sempre oportuno ter em conta a seguinte informação:
- Vamos revisar as configurações de segurança e privacidade em nossas contas.
- Vamos aplicar a autenticação multifator (MFA).
- Vamos criar senhas fortes.
- Estejamos atualizados e conheçamos todas as informações relacionadas ao phishing (técnicas para roubar nossa identidade).
- Vamos evitar dar informações pessoais nas redes sociais.
- Não aceitamos pedidos de amizade de pessoas que não conhecemos.
- Vamos evitar clicar em links de pessoas desconhecidas.
- Não respondemos a mensagens que solicitam informações pessoais de figuras que não conhecemos.
Para concluir, lembremos que qualquer um de nós pode sofrer esse tipo de experiência. A dor e a angústia são reais e se precisarmos não hesitamos em solicitar ajuda especializada.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
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- Informe de Impacto al Consumidor de 2022: https://www.idtheftcenter.org/post/identity-theft-resource-center-2022-consumer-impact-report-reveals-effects-social-media-account-takeover/
- Khan, Zeenath and Rakhman, Salma and Bangera, Arohi, Who Stole Me? Identity Theft on Social Media in the UAE (January 11, 2017). Journal of Management and Marketing Review (JMMR), Vol. 2(1), p. 79 – 86, 2017, Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=3017638