Segundo a ciência, nos tornamos mais introvertidos com a idade
Stephen Hawking costumava dizer que “pessoas quietas têm as mentes mais barulhentas”. É verdade que aqueles que orbitam um universo pessoal mais introvertido se deliciam com um cosmos desprovido de pensamentos mais profundos, talvez mais imaginativos. No entanto, nem todos nós somos totalmente introvertidos ou extrovertidos.
Embora cada um de nós tenha uma personalidade e um estilo de comportamento, é comum apresentar nuances de ambos os polos em determinados momentos. Estamos, portanto, dentro de um espectro, muitas vezes oscilando naquele ponto intermediário em que manifestamos ambas as características dependendo das circunstâncias. E que seja assim é bastante normal.
Agora, a ciência e os especialistas nesse campo, como a psicóloga Susan Cain, nos apontam um fato muito interessante. À medida que amadurecemos e os anos passam, os fatores associados à introversão permanecem conosco. Ela chamou esse fenômeno de “maturação intrínseca”. Vejamos em que consiste.
“Sua visão ficará clara somente quando você puder olhar para dentro do seu próprio coração.”
-Carl Jung-
Por que nos tornamos mais introvertidos com a idade?
Poderíamos dizer que é uma percepção quase geral. À medida que apagamos nossas velas de aniversário, aspectos de nós mesmos mudam. As nuances são suavizadas, a impulsividade é diminuída, abrimos espaços para reflexão e até deixamos de olhar tão constantemente para o nosso exterior. Importa mais o que acontece dentro, também em nossas esferas sociais mais íntimas.
Afinal, os jovens, introvertidos ou não, quase sempre voltam sua atenção para o convívio, para a construção de relacionamentos, para o acúmulo de experiências. Como os introvertidos não são tímidos ou antissociais, eles também gostam desses momentos específicos de efervescência e conexão com os outros.
Em nossas primeiras décadas de vida abrimos demais nossos filtros, deixando entrar todo tipo de gente. Crescer, amadurecer, também nos torna figuras mais seletivas que cuidam de quem permite entrar no limiar de nossos corações. Voltamos um pouco mais para dentro das voltas de nossa solidão para descobrir que esse é um espaço muito gratificante…
“Altos níveis de extroversão provavelmente ajudam no acasalamento, e é por isso que a maioria de nós é mais social durante a adolescência e juventude.”
-Susan Cain-
Estabilidade emocional e amadurecimento intrínseco
Susan Cain é uma conhecida escritora e palestrante que popularizou o que é chamado de “revolução silenciosa”. Livros como O poder dos introvertidos destacam o valor dessa personalidade em meio a uma sociedade que, tradicionalmente, sempre valorizou mais o caráter extrovertido.
Há alguns anos, ela publicou um artigo argumentando por que nos tornamos mais introvertidos com a idade. Envelhecer nos permite, em média, ganhar estabilidade emocional. Não precisamos mais daquelas doses de dopamina e adrenalina com as quais nos “sentimos vivos”. Deixamos de depender desses disparos emocionais para apreciar mais a calma e a serenidade.
O National Institute on Aging, de Baltimore, também destacou esse fato em uma investigação. Por exemplo, chegar à meia-idade nos aproxima do que em psicologia definimos como amadurecimento intrínseco. Ou seja, bondade, consciência, equilíbrio e introspecção aumentam. Muitas dessas tendências mais impulsivas, por exemplo, se dissolvem para dar lugar à temperança.
A introversão na vida adulta faz sentido evolutivo
As pessoas não são entidades invariáveis. A ciência já nos mostrou que podemos mudar, que certos elementos da nossa personalidade podem dar lugar a novos e assim evoluir. É verdade que nem todos o fazem, ou seja, nem todos atingem essa maturidade intrínseca, permanecendo nessa fase imatura e muitas vezes disfuncional.
O que a Dra. Susan Cain nos aponta é que, se nos tornamos introvertidos com a idade, é por causa de um fato muito específico. Desenvolver uma maior introversão tem um significado evolutivo que é alcançar um significado em nossas vidas. Enquanto no primeiro tempo somos como exploradores em busca de experiências e aprendizados, a maturidade nos promove a outros comportamentos.
Não sentimos mais o desejo quase constante de participar de eventos sociais. Há uma necessidade maior de estar em casa, com os filhos e o companheiro (se o tivermos). A impulsividade é reduzida para dar lugar àquela introspecção a partir da qual se encontram significados vitais mais profundos e se favorece uma maturidade e um envelhecimento mais satisfatórios.
“Se a tarefa da primeira metade da vida é se expor, a tarefa da segunda metade é entender onde você esteve.”
-Susan Cain-
A personalidade pode mudar, o temperamento não
A maioria de nós se torna mais introvertida com a idade, é verdade. Se já éramos, essas nuances apenas se cristalizam, estabelecendo aquela forma de ver o mundo, de direcionar nossa energia, de nos relacionarmos e nos adaptarmos ao nosso meio. No caso de sermos extrovertidos, essa essência não muda, mas acrescentam-se aquelas nuances que, como novos ingredientes, irão enriquecer a nossa existência.
Isso porque, embora nossa personalidade possa variar, o temperamento não. Lembremo-nos de que o temperamento é aquela predisposição emocional congênita que orquestra nosso humor e motivação. Portanto, o perfil extrovertido continuará sendo alguém muito sociável e muito habilidoso em sua interação com o meio.
No entanto, você notará como, aos poucos, não tem mais tanto interesse em conhecer novas pessoas. Você vai se deliciar com os momentos de solidão e sua energia, sua motivação, não estará mais tão voltada para o externo, mas sim para os espaços mais íntimos de você e das pessoas que fazem parte da sua vida. É um processo de grande interesse e que não deixa de trazer benefícios para a nossa saúde mental.
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