Por que às vezes nos sentimos mais à vontade ao conversar com estranhos?

Por que às vezes nos sentimos mais à vontade ao conversar com estranhos?
Fátima Servián Franco

Escrito e verificado por a psicóloga Fátima Servián Franco.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Às vezes, conversar com estranhos pode nos fazer sentir muito mais à vontade do que conversar com a nossa família ou com amigos de toda uma vida. A razão pode ser que um estranho nos vê como somos, livre de idealizações e ilusões, não como quer acreditar que somos, e isso é algo muito libertador para nos relacionarmos e sermos capazes de nos expressar.

O pesquisador canadense John Helliwell afirma que não há situação que gere mais gratificação do que falar com estranhos, pois isso aumenta os níveis de felicidade. Conversar com estranhos nos faz sentir melhor sobre nós mesmos, considerando essa ação como um sinal de humildade e bondade.

Desde a nossa infância ouvimos a frase “não fale com estranhos”, e ela faz sentido até que tenhamos uma certa idade. Recebíamos este conselho principalmente com o objetivo de evitar alguns perigos. No entanto, de acordo com um estudo publicado no Journal of the Mental Environment , conversar com um estranho produz uma sensação semelhante ao bem-estar.

Mulheres conversando

Outro estudo publicado na revista Psychological Science indica que as crianças a partir de três anos de idade podem distinguir por conta própria se as pessoas que as abordam são confiáveis ou se devem se afastar delas, e aos sete podem fazê-lo com a mesmo precisão que os adultos.

Como vemos, interagir com estranhos tem efeitos psicológicos benéficos, diferentes dos proporcionados por falar com pessoas que pertencem ao nosso círculo social.

“A justiça está na imparcialidade, e somente os estranhos podem ser imparciais”.
-George Bernard Shaw-

Conversar com estranhos nos torna mais produtivos

Sheen S. Levine, professor da Singapore Management University, aponta que o que frequentemente fornece às empresas sua vantagem competitiva não é apenas o acúmulo de conhecimento, mas o uso de vínculos de performance. Isto é, comunicações espontâneas entre colegas que não se conhecem, nas quais compartilham conhecimentos fundamentais sem que ninguém espere nada em troca.

Para Elizabeth Dunn, psicóloga da University of British Columbia, conversar com estranhos aumenta nosso bem-estar subjetivo e isso tem um impacto direto em nossa produtividade. Falar com estranhos e ser ouvido contribui para o fortalecimento da nossa identidade. Faz-nos sentir que podemos contribuir com algo, que somos levados em consideração e valorizados.  

“Tudo será produzido em maior quantidade e qualidade, e mais facilmente, quando cada homem trabalhar em uma única ocupação, de acordo com seus dons naturais, e no momento adequado, sem se envolver em qualquer outra coisa.”
-Platão-

Preferimos conversar com estranhos porque eles não esperam nada de nós

Pode ser que, às vezes, nossa preferência seja conversar com um estranho porque ele nos vê como somos, não como quer acreditar que somos. Conversar com pessoas com quem temos um relacionamento pessoal saudável influencia positivamente o nosso estado de ânimo, mas para controlar a raiva e/ou os problemas, falar com estranhos parece ser mais eficaz.

A maioria de nós age de duas maneiras quando estamos de mau humor. Com as pessoas do nosso círculo íntimo, desabafamos nossa raiva porque sabemos que podemos fazê-lo e também sabemos onde está o limite; por outro lado, quando interagimos com um estranho na rua, tendemos a ser mais amigáveis e educados.

Dois estranhos com seus cachorros conversando

De acordo com um artigo da CBS News, intitulado Talking to strangers can boost your happiness level, Elizabeth Dunn, professora de psicologia da University of British Columbia (Canadá), conduziu um experimento para confirmar esse fato. Ela descobriu que, quando as pessoas interagiam com estranhos, se comportavam de maneira muito mais agradável do que com as pessoas em quem confiavam, o que contribuía para melhorar ou aumentar seu humor. Isso também as ajudava a se sentir parte da comunidade.

Assim, conversar com estranhos atua como um interruptor emocional. Isso nos ajuda a tomar distância emocional suficiente para regular a forma como nos sentimos e observar a situação a partir de outra perspectiva.

Como vemos, conversar com estranhos é benéfico para a nossa saúde psicológica. Isso não apenas nos proporciona envolvimento social e nos faz sentir melhores e mais valiosos, mas também é uma boa oportunidade para desenvolver nossas habilidades sociais, nos conectar com os outros e nos sentir parte da comunidade.

“Amigos são aqueles seres estranhos que nos perguntam como estamos e esperam para ouvir a resposta.”
-Edd Cunningham-


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.