O que significa "normalidade"?

O que significa "normalidade"?
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O conceito de “normalidade” é usado com frequência e indiscriminadamente em nossa sociedade. Em muitas ocasiões ouvimos que certas coisas ou comportamentos são ou não são normais. Agora, quando tentamos definir a ideia de normalidade, a questão fica complicada. É difícil definir o que é normal e o que é patológico, estranho ou raro.

Um aspecto realmente perigoso do conceito de normalidade são as conotações associadas, já que é usado em muitas ocasiões como um medidor do que é ou não é correto. Quando classificamos uma conduta ou uma coisa como anormal, ela é freqüentemente seguida por preconceitos negativos. Isso, em certa medida se deve a uma concepção errada de normalidade, ignorância da profundidade do termo. Por essa razão, é importante entender o que significa “normal”.

Uma maneira simples de se aproximar do termo é através do oposto da normalidade, isto é, o patológico. Entender esses processos e comportamentos que não são normais nos ajudará a compor sua definição. Por este motivo, a primeira definição que vamos abordar é a definição do patológico.

Balão de cor diferente se destacando

Definição de patológico ou anormal

Definir o patológico sempre foi complicado para a Psicologia pela complexidade de definir os critérios do mesmo. Além disso, tem a dificuldade adicional de o que fazer com o estranho ou anormal. Um debate ainda em formação na psicologia é o que se deve considerar suscetível ao diagnóstico ou terapia. Falamos sobre a questão de quais comportamentos patológicos devem ser tratados e quais não, que critérios devem ser seguidos?

Na hora de definir a patologia ou o que é anormal em psicologia, geralmente se recorre a quatro critérios diferentes. Um aspecto importante é que não é preciso cumprir todos os critérios para algo ser considerado anormal. A coisa certa a fazer é entendê-lo como 4 dimensões que pontuam de maneira qualitativamente distintas.

Os 4 critérios são:

  • O critério estatístico. Baseia-se na ideia de que a normalidade é o que é mais provável. É um critério matemático baseado em dados; os comportamentos mais repetidos serão os normais, enquanto aqueles que mal ocorrem serão patológicos ou anormais. Tem grande força ao supor um método objetivo para medir a normalidade, mas perde a eficácia quando há muita variabilidade; e há também o problema de definir o limite percentual que implica a mudança de anormal para normal.
  • O critério biológico. Aqui nós levamos em conta os processos e as leis biológicas naturais para determinar a normalidade. Os comportamentos ou processos que seguem a normalidade biológica não serão considerados patológicos. O problema com esse critério é que as leis biológicas são modelos científicos que podem ser incompletos e errôneos; além disso, um novo dado pode ser interpretado como uma patologia, ao invés de parte do processo normal.
  • O critério social. Baseia-se na ideia de que a normalidade é o que a sociedade aceita como normal. A sociedade, através da intersubjetividade e do conhecimento social, estabelece as características que a normalidade deve preencher. Podemos atribuir a essa concepção um forte viés histórico e cultural; Dependendo do tempo e da cultura, o conceito irá variar.
  • O critério subjetivo. Segundo este critério, os comportamentos patológicos seriam aqueles que o sujeito que realiza os comportamentos vê como tal. Este critério é muito deficiente em muitas ocasiões, pois mostra grande subjetividade e é altamente enviesado, porque tendemos a avaliar todos os nossos comportamentos como normais.

Os critérios que discutimos acima são úteis ao diagnosticar e tratar transtornos em psicologia clínica. No entanto, podemos ver que eles são de pouca utilidade para realmente aprofundar o significado de normalidade, embora sejam úteis para entendermos ou nos aproximarmos da noção que temos do que é estranho ou anormal.

Pensamento diferente em relação ao grupo

A normalidade a partir do socioconstrutivismo

socioconstrutivismo pode nos ajudar a entender o conceito de normalidade. A partir deste prisma entende-se que todo conhecimento é construído através da interação do indivíduo com a sociedade e seu ambiente. A normalidade seria outra ideia construída dentro da estrutura dessa interação.

Isso significa que o normal nunca poderá ser tratado com uma objetividade descontextualizada da intersubjetividade social. Ou seja, não poderemos falar de uma normalidade no geral, mas de uma normalidade dentro de uma sociedade específica. Por sua vez, isso implica que não faz diferença que critérios usamos para definir o patológico, já que todos recaem sob o conceito social do que é estranho ou anormal. O ponto de vista que descrevemos nos dá uma visão interessante e curiosa diante do estudo do normal e pode envolver algum debate ético-moral.

Tudo o que vemos como estranho e anormal não precisa estar associado a uma disposição problemática ou negativa do indivíduo que realiza esse comportamento anormal. Na realidade, a sociedade seria aquela que excluiria comportamentos, idéias ou características, classificando-as como estranhas ou anormais. Em grande medida, isso explica, por exemplo, a grande variabilidade registrada nos comportamentos, atos e sentimentos na gaveta da normalidade e da anormalidade ao longo da história. Por exemplo, séculos atrás era normal e legítimo matar uma pessoa se seu orgulho fosse ferido, hoje em dia consideramos isso estranho e imoral.

Assim, poderíamos dizer que a normalidade é um construto social que engloba comportamentos, ideias e características que se adaptam à vida em sociedade. É um modo de autorregulação com o qual a sociedade conta. Por essa razão, a psicologia está adotando paradigmas sobre transtornos e deficiências com base na diversidade funcional; pensemos que a anormalidade é gerada pela sociedade, e não é uma característica do indivíduo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.