Síndrome de referência olfativa: quando a crença de exalar um odor desagradável invade o dia a dia

Síndrome de referência olfativa: quando a crença de exalar um odor desagradável invade o dia a dia
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Alguns transtornos mentais são bastante conhecidos e, portanto, menos complicados de detectar. Entretanto, há outros transtornos que, por não terem grande visibilidade na sociedade, podem ser sentidos durante muito tempo sem que a pessoa possa reconhecer os seus sintomas. É, por exemplo, o caso da síndrome de referência olfativa, um curioso transtorno psicológico do qual pouca gente ouviu falar.

A síndrome de referência olfativa é um transtorno mental que se caracteriza pela crença infundada de estar exalando um odor desagradável e incomodando as pessoas ao redor. Devido a esta preocupação, a pessoa interpreta de forma equivocada as ações dos demais e procura sinais de que os outros estejam realmente incomodados com seu cheiro.

Em casos extremos, esta síndrome pode chegar a causar problemas como vergonha extrema, ansiedade e evitação de situações sociais. Este último sintoma pode contribuir para o desenvolvimento da fobia social e padrões de isolamento, principalmente se a síndrome não for detectada a tempo. Assim, é importante aprender a reconhecê-la para que possa ser tratada adequadamente.

Síndrome de referência olfativa: sintomas mais comuns

O neurologista Pryse-Phillips relatou esta síndrome pela primeira vez em 1971, ao descrever um grupo de pacientes que acreditavam exalar um odor desagradável que seria percebido da mesma maneira pelas pessoas ao seu redor. Além disso, autores como Bishop e Davidson a consideram como uma ideia delirante do tipo olfativa, enquanto outros a classificam como um transtorno obsessivo-compulsivo de tipo específico.

Pessoa com síndrome de referência olfativa

Apesar de ainda não existir uma classificação oficial para este transtorno na última edição do DSM (o manual de diagnóstico mais utilizado pelos psicólogos), algumas associações de psicologia já descreveram vários dos sintomas mais comuns deste transtorno. Graças a estes esforços, ficou mais simples diagnosticar a síndrome de referência olfativa e tratá-la adequadamente.

Alguns dos sintomas mais comuns são os seguintes:

  • Reclamações sobre o próprio cheiro.
  • Interpretação equivocada do comportamento dos demais.
  • Comportamentos repetitivos.
  • Problemas para se desenvolver no dia a dia.
  • Comorbidade com outros transtornos.

1. Reclamações sobre o próprio cheiro

O principal componente da síndrome de referência olfativa é a crença infundada de estar exalando um odor especialmente desagradável. Cada pessoa fica obcecada com origens distintas para este suposto odor desagradável, e inclusive podem mudar de ideia com o tempo, mas algumas das mais comuns são o mau hálito, o odor das axilas ou os pés.

Por outro lado, algumas pessoas não tem certeza da origem do odor desagradável que acreditam estar sentindo, mas ainda assim têm convicção de que ele existe.

Às vezes a preocupação surge a partir da crença de que algum tipo de secreção corporal tenha um cheiro particularmente forte, como o suor, a urina ou as fezes.

Em casos mais extremos, a pessoa pode acreditar que está exalando um odor pouco natural, como por exemplo o de cebolas podres, peixe estragado ou queijos fortes. Em geral, estes pacientes são os que têm maior probabilidade de apresentar comorbidade com outros transtornos.

2. Interpretação equivocada do comportamento dos demais

As pessoas que sofrem da síndrome de referência olfativa interpretam mal os comportamentos inocentes dos demais e os relacionam com seu suposto odor desagradável. Por exemplo, acreditam que a distância com que uma pessoa se posiciona em relação a elas, assim como seus gestos, espirros ou ações como abrir uma porta ou uma janela, estejam relacionados ao seu cheiro.

Dependendo da gravidade do transtorno, a pessoa afetada pela síndrome de referência olfativa pode ser acometida por muitas crenças deste tipo em sua vida cotidiana. Por isso, muitas vezes a síndrome é mal diagnosticada.

3. Comportamentos repetitivos

A maioria das pessoas com a síndrome de referência olfativa apresenta comportamentos obsessivos em relação à higiene pessoal, em uma tentativa de mascarar o cheiro que lhes preocupa. Estes comportamentos repetitivos costumam alimentar o desenvolvimento de uma ansiedade extrema e causam problemas em sua vida cotidiana.

Alguns dos mais típicos comportamentos das pessoas com esta síndrome são: tomar banho em excesso, cheirar constantemente as partes do corpo com as quais se preocupam, escovar os dentes a toda hora ou utilizar perfume e desodorante em excesso para evitar o mau cheiro. A princípio estes comportamentos não parecem tão prejudiciais, mas fazê-los o tempo todo pode chegar a perturbar a rotina diária.

Pessoa com síndrome de referência olfativa

4. Problemas para se desenvolver no dia a dia

Nos estágios mais avançados do transtorno, as pessoas que sofrem da síndrome de referência olfativa podem chegar a evitar situações sociais para não incomodarem as pessoas ao seu redor e para não sentirem vergonha. As consequências, em geral, podem incluir a perda do emprego, o divórcio ou, inclusive, a impossibilidade de sair de casa.

5. Comorbidade com outros transtornos

A síndrome de referência olfativa pode acabar provocando todo tipo de transtornos na pessoa afetada, desde transtornos de personalidade até o abuso de certas substâncias. Detectar esta síndrome a tempo é fundamental para evitar que leve a doenças mentais mais graves.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.