Síndrome do objeto brilhante: em que consiste?

Você já se deslumbrou com alguém e depois experimentou uma profunda decepção? Você já seguiu cegamente um objetivo que não o levou a lugar nenhum? Esses fenômenos têm um nome e uma explicação. Descubra!
Síndrome do objeto brilhante: em que consiste?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 21 novembro, 2022

Cegos, hipnotizados e até obnubilados. É assim que às vezes nos sentimos quando algo se torna moda em nossa sociedade. Pode ser uma nova tecnologia, um livro que nos vende a felicidade eterna ou mesmo um político que nos promete mundos e fundos As pessoas muitas vezes são como crianças perseguindo luzes coloridas pensando que ao tocá-las fará com que os seus desejos se tornem realidade.

O ser humano é um eterno sonhador e se ilude facilmente, principalmente se algo ou alguém muito atraente aparece em seu caminho para chamar sua atenção. Esse fenômeno não surge apenas no nível individual, muitas empresas também caem nessa armadilha. Iniciam um projeto deixando-se levar por uma tendência de mercado sem avaliar nenhuma variável.

Às vezes ficamos tão obcecados com uma ideia, conceito ou desejo que todo o resto desaparece do nosso campo de visão. É como alguém que fica cativado por uma luz no escuro sem saber que na verdade é a luz de um trem que se aproxima. Todos nós, em algum momento, já experimentamos aquela sensação de que algo nos chamou tanto a atenção que não conseguimos ver que era tudo falso, uma mera miragem no horizonte…

A síndrome do objeto brilhante aparece agora mais do que nunca devido às múltiplas fontes de atração que nos cercam. Não temos tempo para analisar tudo o que nos chega.

Mulher com uma luz na mente e os olhos fechados pensando na síndrome do objeto brilhante
Às vezes somos como criancinhas deixando-nos levar por nossas emoções sem analisar o que está diante de nós.

O que é a síndrome do objeto brilhante?

A síndrome do objeto brilhante define uma experiência em que nos sentimos cativados por um fenômeno que está na moda. Por um tempo, ficamos obcecados com isso a ponto de não prestar atenção em mais nada. Mais tarde, descobrimos que essa ideia, conceito ou pessoa não era tão incrível quanto pensávamos. Depois vem a decepção.

Também pode ser o caso de outro “objeto brilhante” aparecer e então o primeiro perder o interesse. Afinal, neste presente tão variado de estímulos, ideias e conceitos, é fácil sentir-se atraído por um e depois por outro. Isso não seria um problema se, de vez em quando, essas fascinações temporárias não nos custassem tanto emocional quanto financeiramente.

Assim, em um estudo da Dra. Teresa Pearson, da Stony Brook University, em Nova York, algo interessante é destacado sobre esse assunto. Não deixa de ser paradoxal como em nossa sociedade algumas ideias são instantaneamente popularizadas e outras, por outro lado, mal chegam ao grande público. Isso é muito comum no campo científico.

Muitas das mensagens que a ciência tenta difundir nem sempre chegam às pessoas ou são validadas. Por outro lado, outras mensagens que não são úteis nem verdadeirss podem se tornar virais. A que se deve esse fenômeno?

Se brilha e soa bem, é útil e é verdade

No mundo empresarial, a síndrome do objeto brilhante aparece com alta frequência. Dá forma àquela tendência em que um empreendedor inicia projetos deixando-se levar por uma ideia sem avaliar riscos, viabilidade e sustentabilidade. Às vezes, essa ideia parece brilhante para eles, apenas porque está na moda e muitos estão falando sobre isso. Então é validada. Ele pensa que tem um grande negócio em suas mãos e então surge o fracasso.

A mesma coisa acontece na esfera pessoal. Quantas vezes encontramos alguém que nos deslumbrou com seu jeito de ser e depois de algum tempo descobrimos sua falsidade? Muitas. De fato, nossa realidade é habitada por infinitos objetos brilhantes (conceitos e pessoas) que nos cegam com seu encanto e acabam sendo completamente inúteis e decepcionantes.

O complicado de tudo isso é que se perde dinheiro, tempo e se arrastam mil e uma frustrações por não ter sido mais prudente, ponderado e analítico.

O que está por trás da síndrome do objeto brilhante?

É importante notar que a síndrome do objeto brilhante não é um transtorno psicológico descrito no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5). Estamos diante de um comportamento bastante comum que foi rotulado sob essa designação não clínica e, portanto, não patológica.

Agora, embora não estejamos enfrentando nenhum problema psicológico, é evidente que é um fenômeno incômodo. Em geral, por trás daqueles que se deixam levar por ideias que não dão certo, está a impulsividade, a tendência a agir sem previsão ou reflexão. Às vezes, algo pequeno obscurece tanto nosso julgamento que perdemos de vista o quadro geral.

Da mesma forma, a síndrome do objeto brilhante é mais frequente do que nunca diante dessa situação atual, tão dominada por estímulos e distração. Tantas ideias nos chegam ao mesmo tempo que não somos capazes de analisá-las com calma, medida e objetividade.

Mulher digitando no celular para representar a síndrome do objeto brilhante
Muitas das notícias, ideias e mensagens que chegam até nós através das redes sociais podem nos ofuscar e acabam sendo totalmente enganosas.

Quando nem tudo que reluz é ouro: como podemos nos proteger da falsidade?

Nesta realidade dominada pelas redes sociais e pela informação constante, nem tudo o que reluz é ouro. Pelo contrário, é latão. Deixar-se ofuscar por influenciadores e suas mensagens, por fake news e tendências que estão na moda, é algo completamente normal. No entanto, nem tudo que chega até nós nos beneficia, mas pode nos prejudicar de infinitas maneiras.

Há quem siga dietas que acabam afetando sua saúde. Muitos se deixam levar por aquela psicologia pop sem comprovação científica que promete nos ensinar como alcançar o que queremos. Outros conhecem pessoas que não são quem dizem ser e alguns iniciam projetos deixando-se levar por tendências que mal duram dois dias. Como nos proteger da síndrome do objeto brilhante?

O pensamento crítico é nossa tábua de salvação em um ambiente cada vez mais difuso, complexo e habitado por luzes que nos cegam. É necessário mais do que nunca desenvolver uma abordagem cognitiva capaz de analisar e avaliar a consistência e validade do que chega até você. Isso requer o controle da mente acelerada, aquela que está ciente de todos os estímulos e que não gasta tempo em reflexão.

Está nas nossas mãos que não continuem a cativar-nos com luzes de neon. Sejamos cautelosos, analíticos e pacientes, pois em meio a toda essa densidade de informações, sempre há fatos interessantes e até pessoas que merecem atenção. Vamos treinar nossa atenção e olhar crítico.


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