Para situações confusas, uma dose de mudança de foco três vezes ao dia
“Escreve sobre outra coisa, muda o foco, não fala de você, se coloque um pouco de lado, se preserve, escreva sobre a vida de outras pessoas”.
Bem, obviamente o fato de eu estar transcrevendo uma conversa comigo evidencia que eu não sou plenamente capaz de não escrever sobre mim, ou coisas que circundam a minha vida. Mas eu prometo que vou me controlar muito e tentar… Mudar o foco!
Quando eu tinha saudosos 11 anos, estava meio cabisbaixa por conta de um garoto da escola de quem eu gostava, mas que gostava de outra. Tá, tudo bem, não interessa que eu era muito nova, eu estava sentindo isso, então, o que se há de fazer?! Quisera que todos os meus sofrimentos amorosos tivessem sido como esse!
O ponto em questão é que na ocasião minha irmã tinha um namorado que me deu o seguinte conselho: “Faça o que for, não ouça música”. Conselho, claro, que ignorei totalmente, dada a minha mais completa ignorância nas questões do coração. Ouvi música (possivelmente da Xuxa, já que eu tinha 11 anos!) e chorei olhando para o espelho, imaginando que nunca me amariam. Hahaha, estou me sentindo bem ridícula agora.
Mas o ponto em questão ainda não é esse, hehe. Sabe o que é? A gente potencializa o sofrimento. Uma dor dói 100 vezes mais porque vamos lá ouvir a maldita “nossa música”, porque nos identificamos nos refrões que combinam perfeitamente para outras 100 mil pessoas sofrendo por amor ou qualquer outra coisa naquele exato momento, porque dramatizamos (eu, leonina, especialmente) a vida.
A gente vai buscar no tarô, nos búzios, no horóscopo dos classificados, vai conversar com gente que diz exatamente aquela coisa consoladora e altamente suicida que precisamos ouvir, assistimos aqueles filmes de encharcar o lençol e tomamos várias outras medidas sadomasoquistas que fazem com que nos sintamos, como é que se diz mesmo? “O cocô do cavalo do bandido”.
Por isso, dessa vez abracei com muito carinho (e me sentindo a pessoa mais sábia do mundo) o conselho para mudar o foco e não pensar no meu problema no momento, uma vez que no meio da turbulência é impossível tomar uma decisão sensata.
A gente precisa ficar de fora um pouco, observar a poeira assentar e ver onde os parafusos precisam ser apertados depois do furacão. Às vezes funcionam bem pra mim algumas estratégias… Vai que funcionem para você também?
Não ouço músicas. Nem me arrisco a escolher uma playlist neutra, porque no meio dela sempre vai ter uma estrofe gatilho para aquela dorzinha latente no peito. Não converso com outras pessoas sobre o problema. Conversar revive a dor, revive as mágoas, revive as lembranças, potencializa a saudade e coloca tudo por água abaixo. A decisão foi minha, devo arcar com as consequências de bico calado e só abri-lo quando os sentimentos estiverem maduros o suficiente para serem expostos.
Tento não reviver lembranças. Lugares, fotos, comida, nada que me remeta propositalmente a aquilo que precisa ficar no cantinho do pensamento. Ouço coisas que remetam para outras dimensões. Descobri que essa é uma ótima maneira de não pensar em nada além daquilo que está acontecendo naquele momento. Tomei gosto por ouvir reflexões do Zen Budismo (que serve muito para mim), o que tem me ajudado muito a manter uma visão serena sobre a minha própria vida.
Presto atenção na vida alheia. Não, não, não! Não sou fofoqueira. Mas se estou no ônibus, por exemplo, naquele tumulto apertado, olhando pela janela, eu vou pensar em mim mesma. Portanto, aguço os ouvidos para prestar atenção a qualquer diálogo, receitas de xarope, desabafos sobre o namorado e qualquer outra coisa que, naquele momento, me leve para fora de mim.
Me dedico as outras vidas que me cercam. Meus filhos, meus parentes, amigos, colegas de trabalho, são tantas vidas em torno da minha que estar ocupada com elas me ajuda a desanuviar a minha.
Leio. A leitura tem em mim o poder de me transportar para aquele mundo dentro das páginas. Não tem como focar em outra coisa que não seja a leitura, se quiser realmente compreender o texto.
Fico longe de potenciais consoladores. Se a dor é de amor, dizem por aí que com outro amor a gente cura. Talvez. Mas talvez você se ferre ainda mais e, pior, magoe alguém que chegou cheio de amor pra dar. Ou se torne presa fácil de lobos devoradores. Na dúvida, fique com seu travesseiro, mansinho, inofensivo e que ainda seca suas lágrimas. Além do mais, nem sempre a gente quer outro amor, só aprende a administrar esses com os quais a vida nos surpreende.
Não ouço (mais) conselhos. Quer uma coisa para confundir a mente da gente, é o tal do conselho. Se você conversar com 10 pessoas diferentes, as 10 vão te dar argumentos convincentes e que acabarão te levando a um psiquiatra.
Mas eu confesso que tinha o péssimo hábito de abrir a minha vida para quem quisesse me ouvir. Até outro dia, por sinal. Isso dá a liberdade de outras pessoas interferirem nas suas decisões, já que você as inseriu no problema. E não existe pessoa no mundo que saiba melhor do que você aquilo que está passando. Então por que cargas d’água abrimos a boca e o coração por aí?
Por fim, serena… Eu reflito sobre a minha vida, é claro. E de fora eu consigo observar que não existe problema. Existe uma vida acontecendo, escolhas, consequências, coisas que posso resolver e nas quais devo me empenhar, coisas que estão fora da minha alçada e são um desperdício de energia.
Mude o foco, saia de cena, pense em outras coisas…
E cá estou eu pensando nas coisas que eu faço para não pensar nas minhas coisas. Não te parece um paradoxo?
Mas vai por mim, pode funcionar… Não é deixar de sentir ou resolver. Só adiar um pouco o que no auge da inflamação não pode ser curado.
Aaahh, e eu escrevo. Porque quando as palavras me sobram… Escrevo! Às vezes a gente precisa transbordar!