O sonho de Wegner: o efeito da supressão dos pensamentos

A supressão de pensamentos produz um rebote dos mesmos, de forma que eles se tornam impossíveis de eliminar.
O sonho de Wegner: o efeito da supressão dos pensamentos
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Nos anos 80, a Universidade de Harvard realizou um experimento com o objetivo de averiguar o efeito da supressão dos pensamentos. Quem liderou esse experimento foi o psicólogo social americano e professor Daniel Wegner. Ele fez isso com base em uma anedota contada por Leon Tolstói no final do século 19.

Os resultados dessa experiência mostraram que a supressão de pensamentos – ou melhor dizendo, as tentativas de supressão direta dos pensamentos – é improdutiva. Os pensamentos sempre voltam à nossa mente de forma consciente, mas também através dos sonhos.

Acontece um rebote do pensamento ou lembrança reprimida. Wegner deu a este fato o nome de mecanismo de controle irônico bimodal.

Tolstói e a supressão de pensamentos

O experimento de Wegner sobre a supressão de pensamentos foi realizado com base em uma anedota muito conhecida do escritor Leon Tolstói.

Tolstói dizia que teve que passar por um teste para poder entrar no círculo de amigos de seu irmão mais velho. Eles disseram que ele teria que se sentar em um canto e não podia sair de lá até que parasse de pensar em um urso polar.

O pobre Tolstói não conseguiu e ficou lá por horas. Quanto mais tentava suprimir os pensamentos relacionados a um urso polar, mais a sua mente voltava a visualizar o urso. A imagem do urso sempre voltava à sua mente.

Quanto mais ele lutava para tentar reprimir esse pensamento, o urso polar lutava ainda mais para voltar a aparecer.

“Tente impor a si mesmo a tarefa de não pensar em um urso polar e você verá o maldito animal toda hora”.
– Leon Tolstói –

Urso polar

O experimento

O experimento de Daniel Wegner baseado neste acontecimento contou com várias etapas. Na primeira, informou aos participantes que durante os próximos cinco minutos eles eram livres para pensar no que quisessem. Só tinham uma limitação: não pensar em um urso polar.

Ele pediu que, durante esse tempo, tocassem uma campainha se o urso polar aparecesse em seus pensamentos, mesmo que tentassem não pensar nele. Os participantes tocaram a campainha durante os cinco minutos do experimento.

Eles tocaram a campainha repetidamente em intervalos de menos de um minuto. Ou seja, quanto mais tentavam não pensar no urso polar, mais a sua visualização voltava com intensidade à sua mente.

Em uma segunda etapa, pediu que os participantes escrevessem seus pensamentos antes de ir dormir. Pediu que a metade do grupo escrevesse todos os pensamentos, exceto aqueles que tivessem a ver com uma determinada pessoa de quem eles gostassem muito.

Deu-lhes instruções precisas para que, inclusive, reprimissem os pensamentos sobre essa pessoa. Também pediu para que a outra metade incluísse uma pessoa de quem gostasse muito, escrevendo suas iniciais.

Mais tarde, analisou os sonhos dos participantes, sendo um total de 295 estudantes participando no experimento. As pessoas que reprimiram – tentaram evitar – o pensamento sobre uma pessoa específica sonharam com ela quase duas vezes mais que os que incluíram a pessoa em seus pensamentos.

Os resultados do experimento de supressão de pensamentos

As conclusões tiradas do experimento de Wegner foram replicadas em outros estudos similares com resultados idênticos. A supressão de pensamentos produz um retorno mental aos mesmos.

Dessa forma, falamos de uma estratégia que não só é ineficaz para eliminar pensamentos, mas também é improdutiva.

Wegner chamou esse efeito de Mecanismo de Controle Irônico Bimodal. Posteriormente, na psicologia, recebeu a denominação de Efeito rebote pós-supressão.

Parece que uma parte do nosso cérebro trabalha de forma intencional e consciente, enquanto a outra o faz sob processos de supervisão involuntária a partir do subconsciente.

A parte vigilante inconsciente devolve para a parte intencional o pensamento vigiado, e produz o paradoxo da visualização constante do objeto não pensado.

Confusão de pensamentos

Um melhor uso do urso polar

Os resultados do experimento de Wegner ajudaram a introduzir o conceito de urso polar em um sentido diferente e muito mais prático. O fato de tentar mover o foco de consciência para outro interesse é muito eficiente para lidar com pensamentos intrusivos de qualquer natureza.

Assim, comprovou-se que o pensamento não tende a retornar ao foco de consciência, porque não se suprime, só é substituído por outro. Sendo assim, quando pensamentos recorrentes acontecerem, não devemos reprimi-los.

Saber que isso não funciona é muito importante na hora de lidar com pensamentos intrusivos. Na próxima vez que você tiver um pensamento recorrente, tente substituí-lo, por exemplo, por um urso polar.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.