O sono recarrega o nosso cérebro
A importância de ter um sono reparador é bem conhecida por todos, e sabemos que sofrer de insônia é uma ameaça para o bem-estar. Isto implica diversos mecanismos cerebrais, por isso, é importante manter uma boa higiene do sono.
Depois de uma noite sem pregar o olho, podemos sofrer diversas consequências adversas durante o dia, como fadiga, sonolência, dor de cabeça, déficit de atenção… Assim, é evidente que a sua função vai mais além da de nos permitir um simples descanso físico. Por outro lado, devido aos efeitos da falta de sono, é notável a sua complexa função e a necessidade que os seres humanos têm de dormir.
Mas o que acontece enquanto dormirmos? Quais funções têm o sono? Como posso melhorar a sua qualidade? Todas estas perguntas e mais algumas serão respondidas a seguir.
Mecanismos e fases do sono
Enquanto dormirmos, acontecem determinados processos neurológicos fundamentais para os mecanismos de aprendizagem e a consolidação da memória. Recordemos que o sono é uma necessidade básica do ser humano, e a sua privação acarreta consequências graves, tanto físicas quanto mentais.
Uma vez iniciado o sono, podemos identificar um ciclo de 70-100 minutos que se repete de 4 a 5 vezes por noite. O ciclo começa quando estamos caindo no sono. Neste instante, começa o sono não REM, primeiro na fase inicial e depois na fase profunda. Quando estamos dormindo há cerca de 90 minutos, começa a fase REM, que é onde acontecem os sonhos.
À medida que se vão passando as horas, a duração da fase REM é maior, por isso o sono é mais leve no início da noite. A duração das fases também muda de acordo com a idade. Por exemplo, os recém-nascidos dormem durante 20 horas, e em grande parte na fase REM, o que faz pensar na implicação da fase REM no desenvolvimento neurocognitivo.
Fatores que regulam o sono
A necessidade de sono se modifica em função da atividade diurna de cada um. Assim, as pessoas que não acumulam cansaço físico não precisam da “reparação física” que é realizada durante o sono. Por isso as pessoas sedentárias têm muitas dificuldades para dormir, porque o organismo não identifica a necessidade de descansar.
Existe um ciclo endógeno de sono e vigília de 25 horas que se sincroniza com o ciclo de luz e escuridão de 24 horas. Este é o fator que será influente. Esta sincronização está desajustada em algumas pessoas, que sofrem com um transtorno no ciclo circadiano. A melatonina está envolvida neste processo.
A síntese deste hormônio neuronal varia durante o ciclo de 24 horas, e responde às mudanças da iluminação ambiental. Normalmente, a secreção de melatonina pela glândula pineal é inibida pela luz e estimulada pela escuridão. A secreção desta alcança o seu pico no meio da noite e vai diminuindo gradualmente.
A importância da higiene do sono
Uma em cada 3 pessoas sofrerá ao longo do seu ciclo de vida de algum transtorno do sono, com consequências graves. Isso pode afetar o rendimento acadêmico ou profissional, já que provoca alterações cognitivas; assim como mudanças emocionais que irão repercutir nas relações interpessoais ou no humor da pessoa.
Existem algumas normas básicas para resolver estes transtornos ou evitá-los. Essas diretrizes fazem parte da higiene do sono, o que pode nos garantir que será reparador. A seguir estão algumas normas:
- O quarto onde dormimos tem que ser um lugar agradável. Sem ruídos, com temperatura estável e sem estímulo de luz em excesso.
- A rotina prévia tem que ir sendo rebaixada ao nosso nível de atividade física e mental de forma progressiva. Tomar um banho relaxante, escutar músicas calmas ou realizar exercícios de relaxamento podem ser bons exemplos.
- É importante estabelecer um horário fixo, como uma hora para se deitar e para se levantar. Também há que evitar dormir demais pela manhã e se levantar na hora previamente estabelecida.
- Evitar sonecas durante o dia, pois podem fazer com que seja difícil conseguir dormir durante a noite.
- Diminuir o consumo de café e tabaco e todo tipo de substâncias estimulantes que possam interferir.
- Não comer excessivamente antes de se deitar, mas também não ir para a cama com fome.
Função do sono
Atualmente a função do sono não está totalmente clara, mesmo que existam diversas hipóteses. Uma das teorias é a da conservação da energia. A nossa temperatura corporal baixa durante o sono e reduz o consumo de oxigênio. Digamos que é uma espécie de poupança de energia para conservá-la depois das tarefas realizadas durante o dia.
Outra hipótese é a de ter uma função reparadora. O sono tem o objetivo de reabilitar o nosso organismo depois do esforço realizado. Assim, iria combater o cansaço produzido pelo estado diurno de vigília, restaurando fisiologicamente o nosso organismo.
Também há estudos sobre a consolidação da memória. Dormir depois de treinar qualquer área cognitiva, como estudar para uma prova ou tocar um instrumento, aumenta significativamente o rendimento. A presença de padrões de atividade semelhantes aos da vigília nas regiões cerebrais sugere que estes padrões de atividade são repassados no nosso cérebro, favorecendo a aprendizagem.