5 técnicas de distanciamento da terapia do esquema

O seu diálogo interno destá ficando cada vez mais tirânico e exigente? Você não sabe como sair desses loops de pensamentos tão negativos e debilitantes? Se é assim, o seguinte conjunto de ferramentes lhe poderá ser muito útil.
5 técnicas de distanciamento da terapia do esquema
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 11 maio, 2023

Somos o que sentimos, as pessoas com as quais nos rodeamos e, sobretudo, o que pensamos. Para o bem ou para o mal, toda ideia, raciocínio e reflexão produzidos no tecido de nossa mente nos condicionam. E convenhamos, há momentos em que a contaminação que ela gera com sua negatividade é tanta que todo o nosso universo psicológico sofre e adoece.

É muito difícil tomar decisões e resolver problemas se nosso diálogo interno só enxergar dificuldades em cada circunstância. É impossível dar o melhor de si a quem amamos, quando somos nossos piores inimigos e só ouvimos o eco da insegurança. A fala do nosso Eu e a qualidade dele determina completamente o bem-estar.

O que fazer nesses casos? Uma das figuras que mais estudou esse fenômeno é Ethan Kross, neurocientista da Universidade de Michigan. Em seu livro A voz na sua cabeça (2022), nos dá uma visão muito valiosa: pensamentos caóticos e distorcidos devem ser educados e um primeiro passo para realizá-lo é nos distanciarmos um pouco deles. Nós explicamos como fazer.

“A mente é flexível, se soubermos dobrá-la. Se estiver com febre, pode tomar algo para baixá-la. Da mesma forma, nossa mente tem um sistema imunológico psicológico: podemos usar nossos pensamentos para mudar a negatividade, colocando uma distância.”

-Ethan Kross-

mulher aplicando técnicas de distanciamento
As técnicas de distanciamento nos permitem aliviar o fardo dos pensamentos negativos para melhor administrá-los.

O que é a terapia do esquema?

A terapia do esquema é um modelo que integra técnicas da abordagem cognitivo-comportamental, com recursos da psicologia interpessoal, psicodinâmica e experiencial. Foi desenvolvido por Jeffrey E. Young na década de 1990; seu objetivo é detectar e trabalhar esses padrões de pensamento desadaptativos que causam desconforto e comportamentos pouco saudáveis.

A maioria de nós abriga uma série de padrões de pensamento pouco úteis que se desenvolvem na infância ou em algum momento de nossas vidas. Esses padrões de raciocínio automático e inconsciente costumam integrar, além de ideias distorcidas, emoções difíceis e certas sensações corporais.

É interessante saber que a terapia do esquema foi inicialmente desenvolvida para tratar o transtorno de personalidade limítrofe. Depois de verificada a sua eficácia nessa condição, estendeu-se a outros problemas de saúde mental com boa eficácia. Por exemplo, pesquisas como as realizadas na Faculdade de Medicina de Atenas e na Universidade de Maastricht, na Holanda, destacam sua utilidade no tratamento da depressão crônica.

Existem pensamentos que nos causam grande sofrimento intrapsíquico e que ativamos sem perceber.

Como isso pode nos ajudar a lidar com a voz interior negativa?

O livro de Ethan Kross para entender e administrar melhor nosso diálogo interno apóia a utilidade da terapia do esquema nesses casos. Com essa técnica, reconhecemos aqueles tipos de pensamento que são autodestrutivos para nós. Perceber que eles estão ali e proceder à sua transformação medeia diretamente o nosso bem-estar.

Em geral, esse diálogo interno negativo costuma ser patrocinado pelas cinco categorias a seguir, de acordo com esse modelo:

  • Má gestão dos limites pessoais.
  • Priorizar as necessidades dos outros antes das nossas
  • A desconexão de nós mesmos e de nossas necessidades.
  • Achar que estamos fadados ao fracasso, que não temos controle sobre nossa realidade.
  • Hipervigilância e inibição. Estar muito pendente de todos os estímulos, antecipando o pior e também realizando grande contenção emocional.

Falar sozinho na terceira pessoa é uma técnica de distanciamento muito eficaz, a fim de assumir o controle de nossos pensamentos.

Técnicas de distanciamento para o diálogo negativo

As técnicas de distanciamento na terapia do esquema visam promover um melhor controle sobre o diálogo interno. Para entendê-lo, vamos dar um exemplo. Imagine que de repente você está preso em um grupo de pessoas que estão discutindo e brigando umas com as outras. Elas falam muito alto, se mexem muito e quase não entendemos o que está acontecendo.

Para saber o que está acontecendo, escolhemos nos afastar, subir para uma posição de onde tenhamos uma melhor perspectiva das coisas. É dessa posição distante e elevada que compreendemos a dinâmica daquele episódio.

Com essas ferramentas que descreveremos agora, também conseguiremos algo melhor: a compreensão para gerenciar adequadamente esse diálogo interno que às vezes nos atormenta. Anote.

1. Diálogo interno na terceira pessoa

O diálogo interno na terceira pessoa nos permite adotar uma distância adequada de nossa mente e, além disso, assumir uma posição de poder. Raciocínios como os seguintes servem de orientação: “Elena deve agir. Agora ela acha que não será chamada naquela entrevista de emprego. Mas ela deve fazer isso e confiar um pouco mais em si mesma. Ela merece ser corajosa e correr riscos. Ela não vai perder nada”.

2. Técnica tela de cinema

Com o que você está preocupado agora? Que frases seu diálogo interno lhe diz agora? Outra das técnicas de distanciamento mais interessantes é o recurso “tela de cinema”. Para realizá-lo, você deve visualizar uma sala de cinema e uma grande tela ao fundo onde suas preocupações aparecem em forma de imagem.

Olhe para elas à distância e acalme-se. Você acha que essas ansiedades têm base na realidade? Elas são úteis para você? Se você acha que não é esse o caso, prossiga para uma nova visualização. Aquela em que as coisas são mais realistas e esperançosas.

3. Três cadeiras

Digamos por alguns dias que sua voz interior está cada vez mais exigente e voraz. Ela não te dá trégua e tudo que você faz, ela sanciona. A ferramenta das três cadeiras procura neutralizar pensamentos disfuncionais por meio de um diálogo compassivo, cético e realista.

Consiste no seguinte. Pense em uma ideia negativa que vem a você várias vezes ao dia, por exemplo: “Sou um fracasso”. Em seguida, faremos o seguinte. Convide sua mente para se sentar nestas três cadeiras:

  • Cadeira cética: mas que prova você tem de que é um fracasso?
  • Cadeira realista: ao longo da vida você conquistou coisas demais para assumir essa ideia.
  • Cadeira compassiva: você tem que se valorizar mais, você merece alcançar o que sonha.

4. Substituição

Outra das técnicas de distanciamento mais conhecidas é a substituição. Quando estivermos presos a uma imagem dolorosa, a um pensamento-âncora que não nos permite seguir em frente, vamos substituí-lo por uma imagem oposta. Por exemplo, se a última discussão com nosso parceiro não nos sai da cabeça, pensemos em um momento em que fomos muito felizes.

Esse retrato interno pode nos dar ânimo e novos recursos para enfrentar melhor a situação, com um foco mental mais relaxado.

5. Fuga e refúgio

Quantas vezes você já ficou preso a um pensamento, a um julgamento negativo ou a uma lembrança incômoda sem conseguir sair dali? Talvez muitas. Da próxima vez que você se sentir assim, tente algo novo. A fuga mental consiste em congelar uma ideia ou imagem que nos causa desconforto, para ir para outra que nos dê ajuda e apoio.

Suponha que você não consiga parar de pensar naquele erro que cometeu no trabalho. Você se corrói com ele. Pare essa cena em sua mente, aperte o pause e pule para outro cenário onde alguém que você ama e admira está. O que essa pessoa diria a você nessa circunstância? Provavelmente, ela o encorajaria e insistiria para que superasse essa experiência.

Mente com um homem dentro aplicando técnicas de distanciamento
Às vezes, temos que sair de nossa mente para obter uma perspectiva melhor de nossas preocupações.

Conclusão

O diálogo interno é a nossa voz em off e o eco automático da nossa mente. Não é fácil exercer controle sobre ela porque, como bem sabemos, ela é articulada por muitos processos inconscientes.

As técnicas de distanciamento detalhadas aqui podem nos ajudar. No entanto, caso nos seja impossível regular essa negatividade e esse desgaste mental persistente, não hesite em solicitar assistência especializada. Pensar bem é sinônimo de viver melhor. Vamos lá!


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  • Kross, Ethan (2022) Tu diálogo interno: ¿qué es esa voz de tu mente? Oceáno
  • Malogiannis, I. A., Arntz, A., Spyropoulou, A., Tsartsara, E., Aggeli, A., Karveli, S., Vlavianou, M., Pehlivanidis, A., Papadimitriou, G. N., & Zervas, I. (2014). Schema therapy for patients with chronic depression: a single case series study. Journal of behavior therapy and experimental psychiatry45(3), 319–329. https://doi.org/10.1016/j.jbtep.2014.02.003
  • Roediger, E., Stevens, B., Brockman, R. (2018) Contextual Schema Therapy. Oakland, CA: Context Press.
  • Taylor, C. D. J., Bee, P., & Haddock, G. (2017). Does schema therapy change schemas and symptoms? A systematic review across mental health disorders. Psychology and psychotherapy90(3), 456–479. https://doi.org/10.1111/papt.12112

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