A teoria darwiniana sobre a origem das religiões
A origem das religiões e a teoria darwiniana vêm sendo unidas com sucesso há 150 anos. Com sua obra magna, o célebre cientista virou tudo o que sabíamos sobre a nossa origem e evolução de cabeça para baixo. Nossa visão de quem éramos e, portanto, de quem somos, mudou.
Lembremos que o próprio Charles Darwin dedicou um capítulo de um de seus livros mais importantes, “ A origem do homem” ao tema da origem das religiões. Portanto, se nossas características são produto da nossa evolução, com a religião não seria diferente.
A teoria darwiniana
Não podemos esquecer que Charles Darwin deixou um dos legados mais importantes da história humana para a ciência. Com a publicação de A origem das espécies , colocou de cabeça para baixo tudo aquilo que acreditávamos saber sobre o surgimento da vida na Terra.
Ainda que seu pensamento tenha causado várias polêmicas, a influência de suas pesquisas continua enorme até os dias de hoje. De fato, seus avanços moldaram a forma como vemos atualmente o ser humano, mudando o pensamento científico dos últimos 100 anos e mostrando uma nova direção para entender a vida no passado, no presente e no futuro do planeta.
Visto que Darwin demonstra que a teoria criacionista nada tem a ver com o surgimento da vida, então por que as religiões surgem? O autor mostra que o comportamento e o cérebro também são produtos próprios da evolução humana. Ou seja: tudo que sobrevive ao longo do tempo, incluindo a religião, possui obrigatoriamente uma explicação evolucionista.
A origem das religiões sob os prismas de Charles Darwin
Um dos textos mais importantes que temos para estabelecer a conexão entre o evolucionismo darwinista e a origem das religiões pode ser encontrado nas pesquisas de Elizabeth Culotta, cujo ensaio On the Origin of Religion foi publicado no blog “ Origins ”, da revista Science , de grande prestígio.
Segundo a autora, existe uma propensão humana e natural para crer em deidades invisíveis. Para explicar isso, a autora se utiliza das teorias de Darwin, que já na sua época considerava que a crença em deuses e religiões era algo nada misterioso. Segundo Darwin, no mesmo momento em que o ser humano teve uma certa capacidade de raciocínio, ele também pôde especular brevemente sobre a sua própria existência. Entretanto, na falta do método científico, predominavam a curiosidade, a imaginação e o assombro.
Ou seja, o ser humano, curioso por natureza, buscava uma explicação para a sua própria origem. Dessa forma, diante da falta de respostas, a religião surgiu de maneira natural na mente humana, pois para explicar a construção mental do pensamento religioso, é possível estabelecer uma ciência cognitiva baseada na antropologia, na neurociência e na psicologia.
“Não posso me convencer que um Deus benevolente e onipotente tenha criado intencionalmente os himenópteros com a intenção direta dos corpos vivos de lagartas, ou que um gato brincasse com ratos. Não convencido disso, não vejo necessidade em crer que o olho foi projetado intencionalmente.”
-Charles Darwin-
Outras fontes
Em seu trabalho, Culotta nomeia outras fontes interessantes, como, por exemplo, os estudos do psicólogo experimental Justin Barrett, da Universidade de Oxford. A partir das teorias darwinianas, este professor descobriu que existem propriedades funcionais nos sistemas cognitivos humanos que nos tornam propensos à crença em agentes sobrenaturais, ou seja, em coisas como deuses.
Ou seja: de acordo com as teorias de Barrett, podemos estabelecer uma conexão com o pensamento de Darwin, pois ambos consideram que a formação e as raízes da religião se encontram dentro de uma cognição social sofisticada.
Nesse aspecto, podemos consultar o psicólogo da Universidade de Yale, Paul Bloom. De acordo com seus estudos, o ser humano possui uma grande capacidade para imbuir tudo com “espiritualidade”, incluindo objetos inanimados. É assim que crescem as crenças, os desejos, as emoções e a consciência, criando o núcleo de um movimento religioso.
Todas essas pessoas tomam as teorias de Darwin como ponto de partida para a origem das religiões, que inclusive chegam a comparar o fenômeno da existência dos deuses com o amor que um cachorro pode expressar pelo seu dono. Não existem dúvidas de que Darwin foi o precursor de todos esses profissionais contemporâneos. De acordo com ele, muitas sociedades mostravam suas crenças na ideia da existência de uma divindade e na busca por agentes espirituais ou invisíveis.
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- On the Origin of Religion, Elizabeth Culotta. Science 06 Nov 2009