The Wire: uma visão da criminalidade

The Wire: uma visão da criminalidade
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 19 abril, 2018

The Wire foi uma série transmitida pela HBO entre 2002 e 2008. Tudo acontece na cidade de Baltimore, uma cidade independente do estado de Maryland. Seu criador é David Simon, que durante anos foi um jornalista da crônica negra do jornal The Sun.

A série é centrada nas favelas de Baltimore, onde coexistem a droga e o crime, e fala sobre  tudo que os rodeia: a situação social de muitas pessoas do bairro, a ação policial, as lutas internas entre as gangues do narcotráfico, etc. The Wire nos oferece uma visão ampla de todos os agentes que operam neste mundo: desde o pequeno consumidor até as principais esferas políticas.

O mundo de The Wire

Vários tiros são ouvidos pela manhã; gritos estridentes que cortam o ar, algumas cabeças que surgem através da janela e então… nada. Apenas silêncio. Cada um em sua rotina e suas tarefas. Os moradores deste bairro marginal de Baltimore já estão acostumados com as ondas de violência que sacodem as ruas por onde andam diariamente. A droga está instalada em cada canto; jovens que desde muito cedo começam a trabalhar para as diferentes gangues de distribuição, já que seu ambiente é a única possibilidade que enxergam.

Cena de 'The Wire'

A polícia

A polícia trabalha todos os dias contra as gangues organizadas, destacando a futilidade de seus procedimentos e sem a possibilidade de evoluir e melhorar seus recursos e eficácia, pois se deparam com um sistema hierárquico estático; um sistema baseado na “cadeia de comando” acima de tudo e cuja única preocupação é alcançar as estatísticas-limite que são impostas de cima. Isso limita em termos logísticos as diferentes operações policiais, tornando-as muitas vezes ineficazes e tendo que lidar com um problema maior: o fator surpresa.

“Ninguém ganha. Um lado só perde mais devagar”.
-Prezvalousky-

A criminalidade corresponde a uma retroalimentação  entre a própria polícia e o criminoso. A polícia não pode agir se não cria os meios para cometer crimes, e o criminoso cria novas maneiras de escapar das forças de segurança quando a polícia restringe o círculo em torno deles.

Assim, a realidade que se pretende demonstrar é que é praticamente impossível antecipar o crime. São os próprios criminosos que o criam e a polícia deve agir de acordo com sua evolução.

Política e contrabando

Por outro lado, nos deparamos com as rivalidades políticas. A luta pelo poder justifica todos os meios: os subornos, o desvio de fundos públicos, etc. Instrumentos que alimentam a inércia de um círculo vicioso que marca o andar do resto das situações.

As limitações impostas “de cima” são uma barreira para acabar com o crime organizado e o tráfico de drogas, mostrando que em muitas ocasiões as altas esferas políticas são cúmplices porque se beneficiam, direta ou indiretamente, do mundo do crime. No entanto, a série reflete outro fenômeno: os políticos, ao mesmo tempo que se alimentam do dinheiro das gangues criminosas, os impedem de entrar em seu círculo, marcando claramente a posição em que se encontram.

“O Rei se mantém o Rei”.
-D’Angelo-

Da mesma forma, The Wire tenta concentrar sua atenção nos fornecedores da droga, os contrabandistas que a transferem de sua saída ao seu destino final. O porto de Baltimore é o principal ponto de tráfico. As demandas dos sindicatos aos políticos não são ouvidas, então, em muitos casos, devem recorrer ao roubo e às atividades ilegais para conseguir um incentivo que motive os poderes públicos a ouvir o que têm a dizer.

“Negócios, sempre negócios…”.
-O Grego-

Cena de 'The Wire'

A escola

A educação é outra das grandes instituições que fomenta a criminalidade em torno da droga. A padronização dos cursos e das aulas promove a abstenção escolar, tratando os jovens como números que devem compor as taxas exigidas legalmente para que a escola possa continuar funcionando. Desta forma, a única preocupação é que as crianças assistam às aulas no primeiro dia para que o registro seja contabilizado.

Da mesma forma, a preocupação reside na necessidade de manter os cursos estáveis ​​e equilibrados, passando os alunos de ano sem terem adquirido as habilidades necessárias, pois o fato de fazê-los repetir de ano implica uma desestruturação e um investimento de dinheiro e tempo que o sistema não está disposto a assumir.

Os meios de comunicação

A imprensa, especialmente a escrita, é apresentada como meio de conspiração. Os jornais precisam se alimentar constantemente de informações para se manterem à tona. Desta forma, inflam suas próprias notícias para despertar o interesse da sociedade e, assim, continuar gerando vendas. Desta forma, o próprio crime e a própria orientação da política são manipulados pelos meios de informação falsos, cujo único interesse é permanecer relevantes.

“Uma mentira não é um lado da história. É simplesmente uma mentira”.
-Terry Hanning-

Cena de 'The Wire'

The Wire fala sobre a influência do sistema e sua incapacidade para evoluir. Está criado para não sair dele. No final, tudo se reduz a um círculo de violência e de poder no qual os menores, dadas as suas circunstâncias sociais, devem adaptar-se a um mundo hostil.

Um ecossistema que enfrentam com poucos recursos e que os empurra diretamente para um mundo de violência e destruição. Foram os maiores, antes deles, que se transformaram no que são, e são eles que ocuparão esse lugar no futuro. O próprio sistema que os criou os faz sucumbir à violência de suas próprias atividades.

“Apenas um gângster, suponho”.
-Avon Barksdale-


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