Thich Nhat Hanh: lições de sabedoria do mestre zen

Thich Nhat Hanh: lições de sabedoria do mestre zen
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Thich Nhat Hanh tem 91 anos e é um mestre zen por excelência. Escritor produtivo, poeta e promotor da transformação interna através da meditação, este monge budista de rosto afável, sereno e inspirador se distingue sobretudo pelo seu grande ativismo pela paz e pelos direitos humanos.

Quem ainda não leu nenhum dos seus livros provavelmente pensará que estamos diante de mais um guru do budismo. No entanto, o Mestre Hanh é muito mais que isso. O seu legado e extenso trabalho combinam nuances excepcionais de grande interesse e valor. Por um lado, inclui toda a sabedoria típica das mais notáveis correntes tradicionais do budismo. Por outro lado, ele sabe como aplicá-las através de métodos da psicologia moderna.

“Cada momento é um presente da vida”.
-Thich Nhat Hanh-

Poderíamos dizer que uma das principais virtudes de Thich Nhat Hanh foi aproximar os ocidentais de uma forma sólida e simples de toda a prática zen. Além disso, se hoje nós conhecemos e nos aprofundamos em conceitos como mindfulness, é porque pessoas como Hanh traduziram e refinaram essa herança antiga para transformá-la em um recurso e uma filosofia acessível e útil para todos.

Por outro lado, além desse trabalho didático e inspirador deste monge budista, é preciso mencionar a sua própria vida. O “professor vietnamita”, como costumam chamá-lo, praticou o que ele define como um budismo comprometido. Desde muito jovem, percebeu que a sua religião não era contemplativa e passiva de reclusão em um mosteiro. Ele participou da Guerra do Vietnã cuidando do seu povo, fundando escolas e serviços de ajuda para reconstruir cidades e aldeias.

Como vemos, estamos diante de uma figura de grande relevância social e espiritual que merece a nossa atenção.

Thich Nhat Hanh e Martin Luther King

Thich Nhat Hanh: lições de sabedoria

Thich Nhat Hanh nasceu no Vietnã em 1926. Ele lecionou na Universidade de Columbia, na Sorbonne, e foi até indicado por Martin Luter King Jr. para o Prêmio Nobel da Paz em 1967. Hoje, depois de ter sobrevivido a um derrame cerebral em 2014, ele leva uma vida mais tranquila em uma comunidade budista perto de Bordeaux que fundou em 1982.

Escritor incansável e transmissor da filosofia do Zen Budista, a profunda simplicidade com que suas mensagens chegam para nos conquistar chama a atenção. Em livros como ‘Caminhos para a Paz Interior’, ‘A Essência dos Ensinamentos de Buda’ ou ‘O Milagre do Mindfulness’, nos transmite conceitos, ideias e princípios onde a doutrina se mistura com a sabedoria e a própria psicologia.

Vejamos algumas dessas lições, fragmentos de uma sabedoria cheia de nuances e belezas que sempre nos inspiram.

1. A gentileza pode mudar o mundo

“A fonte do amor está em nós e podemos ajudar os outros a perceberem que a felicidade está ao seu alcance. Basta uma palavra, uma ação e um pensamento para reduzir o sofrimento de outra pessoa e dar-lhe alegria”.

A Universidade de Michigan e a Universidade de Tohoku, no Japão, realizaram um estudo em 2006 onde essa relação foi demonstrada. Assim, pessoas com uma atitude aberta e positiva que promovem atos bondosos em seu ambiente mais próximo sempre criam mudanças muito benéficas nos outros: melhoram o humor, criam laços de confiança e aliviam arrependimentos e preocupações.

Se pudéssemos praticar todos os dias o saudável exercício da gentileza e do respeito, como ensina o próprio Thich Nhat Hanh, poderíamos mudar o mundo.

2. Amor consciente, amor que favorece a liberdade do outro

“Você deve amar de tal maneira que a pessoa que você ama se sinta livre”.

O mestre vietnamita diz claramente: amar alguém é oferecer-lhe atenção, uma presença capaz de fazer com que o outro floresça como se fosse a mais bela flor. Agora, toda a atenção voltada para as pessoas que amamos deve favorecer um crescimento não-opressivo, uma afeição que leva à liberdade, que estende as suas raízes em direção à plenitude e suas pétalas à iluminação.

Assim, e como ele explica em seus livros e lições, o melhor que podemos oferecer ao mundo é aquele amor verdadeiro que cuida e respeita igualmente todas as espécies deste planeta, uma energia nobre e bem intencionada que transforma o próprio cosmos.

O valor dos pequenos gestos

3. Conscientize-se do sofrimento dos outros

“Não evite o contato com o sofrimento. Não perca a consciência da existência dessa realidade no mundo. Encontre maneiras de estar com aqueles que estão sofrendo por todos os meios, inclusive através do contato pessoal, visitas, imagens, sons … “.

Essas palavras, proferidas por Thich Nhat Hanh em um dos seus discursos, demonstram esse compromisso ativo com aqueles que sofrem e que o definem tanto. Ao mesmo tempo, essa necessidade de estarmos cientes disso em todos os sentidos chama a atenção: ver a dor dos outros, sentir e até mesmo ouvi-la.

Porque quem sofre tem um rosto, quem passa por um momento ruim o demonstra com suas ações e sua voz. Ainda mais, quem sofre pode estar perto de nós, bem ao nosso lado e, às vezes, nem sequer o ouvimos. Portanto, sejamos conscientes dessa realidade que é tão recorrente em nossa vida cotidiana.

4. Você pode controlar o medo

“O medo nos mantém focados no passado ou preocupados com o futuro. Se pudermos reconhecer o nosso medo, poderemos perceber que neste momento estamos bem. Neste momento, hoje, estamos vivos e nossos corpos estão trabalhando perfeitamente. Os nossos olhos ainda podem ver o lindo céu. Os nossos ouvidos ainda podem ouvir as vozes dos nossos entes queridos”.

Esta reflexão do mestre vietnamita é, sem dúvida, uma das mais belas, corretas e sábias. Não fala somente do medo, fala de controlar e saber como ir além dessa emoção útil, mas muitas vezes mal gerenciada, que limita as nossas vidas. O medo deve favorecer nossa sobrevivência, não detê-la.

Portanto, não há nada melhor para apreciar o momento atual do que percebermos algo muito simples: estamos vivos, a vida continua e temos a capacidade de avançar na companhia dos nossos, em sintonia com um mundo do qual somos uma parte íntima e valiosa.

Libertação e sabedoria

Para concluir, algo que chama a atenção na filosofia de Nhat Hanh é a capacidade de combinar uma grande variedade de ensinamentos do Zen tradicional com diferentes correntes do budismo e da psicologia moderna. Tudo se harmoniza, tudo se encaixa e tudo nele é inspiração. Portanto, as suas contribuições, conselhos e reflexões são sempre tão compreensíveis quanto válidas para favorecer o nosso crescimento pessoal.

Esse mestre vietnamita é uma lenda viva cujo legado nunca se extinguirá.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.