Seu tipo de cumprimento mostra como você se relaciona

Quanta informação sobre nós a maneira de cumprimentar pode revelar? O doutor em psicologia Marcelo Ceberio fala sobre o tema a seguir.
Seu tipo de cumprimento mostra como você se relaciona

Última atualização: 23 novembro, 2019

Um detalhe interessante e representativo que podemos observar é o tipo de cumprimento que se desenvolve em um encontro entre pessoas, de acordo com o contexto sociocultural ao qual pertencem.

Muito além das particularidades de cada região, família ou grupo social, as características de cada ser humano e do vínculo que estabelece entram em cena em um ato tão simbólico quanto a forma como cumprimentamos.

Homem e mulher acenando um para o outro

Estilos socioculturais

Tanto o cumprimento inicial do encontro de duas pessoas que não se conhecem quanto o cumprimento entre pessoas ligadas afetivamente mostram um estilo de expressão relacional.

  • Por exemplo, quando indivíduos que já se conhecem e têm uma certa relação afetiva se encontram, na França é comum que se cumprimentem com três beijos, sem diferença entre homens e mulheres.
  • Os homens espanhóis apertam as mãos, dão no máximo um abraço, e entre mulheres ou homens e mulheres com mulheres dão dois beijos.
  • Os italianos podem dar as mãos tanto entre homens e mulheres quanto entre homens e, se fizer muito tempo que não se encontram, dão um abraço.
  • No Chile, mais formalmente, os homens se cumprimentam entre si dando as mãos e mulheres e homens com um beijo. O mesmo acontece no Peru e na Bolívia.
  • Na Argentina é costume se cumprimentar com um beijo entre homens e entre mulheres que não se conhecem, desde o primeiro encontro.
  • No Marrocos, algumas mulheres se cobrem deixando à vista somente os olhos e os tornozelos e caminham afastadas do homem e, naturalmente, não há demonstrações de afeto em público.
  • Entre os orientais, principalmente os chineses, o homem e a mulher caminham afastados: o homem a um ou dois metros à frente da mulher. Eles se cumprimentam, tanto entre homens quanto entre mulheres, com uma típica reverência sem contato físico.

É perceptível o maior grau de flexibilidade e a menor inibição no contato físico que uma mulher possui entre mulheres, comparando com a atitude do homem entre homens.

Mas a mulher – ainda mais as mulheres até a geração dos anos 1960 –, da mesma maneira que mostrou uma maior aproximação física entre mulheres, impôs uma maior distância física aos homens.

A partir da década de 1960, ocorreu a desestruturação de uma série de estereótipos femininos-masculinos que imperavam principalmente na sexualidade e levaram, entre outras coisas, a mulher a tomar mais iniciativa nos jogos sedutores com o homem.

Por exemplo, as mulheres não apenas se cumprimentavam historicamente com um beijo, mas, além disso, começaram a andar nas ruas de mãos ou braços dados. Essa atitude foi tão identificada com um comportamento tipicamente feminino que nunca dois homens pensariam em andar de mãos ou braços dados.

Da mesma forma, na distinção de gênero, o homem é identificado com a racionalidade e a distância emocional, enquanto a mulher é associada com a sensibilidade e a expressão afetiva. No entanto, estamos vivendo em uma época de revisionismo.

Todas essas discriminações constituem distinções que acentuam ou bloqueiam as manifestações afetivas no contato corporal. Significa que certas regras que o contexto impõe fazem com que se possibilite ou não a plasticidade no desenvolvimento corporal. O contexto, de certa forma, veta ou estimula o contato. 

Estilos familiares

Na formação da família, os pais reproduzem os padrões de medo do qual participam e os recriam fortemente desde os primeiros momentos da interação com seus filhos.

É assim que são formados os códigos relacionais afetivos que são de responsabilidade de cada família em particular, mas que reproduzem em seu seio tais estereótipos sociais.

  • Existem familiares cujos padrões de interação emocional se limitam a expressar o afeto corporalmente de uma forma limitada. Resistem aos abraços, aos beijos, aos carinhos ou, simplesmente, a olhar olhos nos olhos, e manifestam seus afetos de maneira material. São famílias em que o “eu te amo” é expresso materialmente por meio de presentes. Como resultado, aparecem viagens, roupas, dinheiro, flores, etc.
  • Outras o expressam por meio da palavra. Não trocam presentes, mas dizem uns aos outros o quanto se amam, embora nunca se abracem nem se beijem, e muito menos troquem carinhos.
  • Há ainda famílias cujo código afetivo é representado por ações. Os integrantes da família fazem coisas pelos outros. Ajudam, fazem favores, percebem do que o outro precisa, tomam conta um do outro.
  • Também existem famílias que não se inibem com o contato físico e conseguem se expressar emocionalmente envolvendo o corpo na manifestação.
Amigas se abraçando

Está claro que a máxima saudável na manifestação afetiva seria dada pela convergência entre a multiplicidade de formas de expressão, além do fato de que os próprios integrantes de uma família pudessem encontrar o canal mais adequado de acordo com a situação.

No entanto, sempre predomina um estilo. Esse estilo é o que tende a se reproduzir por ser oposto ou similar ao padrão referencial de contato com a família de origem.

Significa, então, que os humanos tendem a se identificar apropriando-se e reproduzindo tais estereótipos em outras relações (principalmente na família criada).

O que cada tipo de cumprimento revela?

Se prestarmos atenção, o tipo de cumprimento estabelece um padrão de como as pessoas funcionam em termos das emoções e dos afetos: o grau de plasticidade, desenvoltura ou rigidez nas expressões corporais em relação aos sentimentos.

Existem pessoas que não abraçam, mas que cumprimentam formalmente com a mão: se são homens, por exemplo, mostram sua formalidade e estruturação social, ainda mais se o cumprimento vier acompanhado por um sorriso social e o respectivo “Muito prazer!”, além de uma roupa clássica, daquele tipo que nunca sai da moda.

No nível extremo, nessa mesma direção, há pessoas que cumprimentam com um aperto de mão firme e balançando o braço de uma forma militar. Há aqueles que cumprimentam outro homem com um aperto de mão e uma mulher com um beijo.

A intensidade no aperto de mão é um detalhe interessante. Existe uma intensidade média que faz com que o cumprimento manual não tenha muita relevância.

Entre os homens, os mais formais apertam a mão muitas vezes de forma desproporcional e contorcem as falanges de seus interlocutores. São cumprimentos que são lembrados pela dor que causam.

Muitas pessoas expressam seus afetos por meio da força ou da brutalidade de seus movimentos. São, pelo contrário, grosseiros e não conseguem manifestar as emoções, senão por meio da indelicadeza.

Um cumprimento firme, olhando nos olhos do interlocutor, expressa segurança pessoal e nas relações.

Às vezes, as pessoas cumprimentam com a mão mole e escorregadia. Tímidos, principalmente. São aquelas pessoas que têm dificuldade no contato social e não se atrevem a estabelecer relações profundas e permanecem na superficialidade das relações.

Esse tipo de cumprimento reforça essa hipótese quando a pessoa olha para o outro lado e não para o rosto de seu interlocutor enquanto aperta a mão, ou simplesmente olha pelo canto do olho cabisbaixa.

O nível extremo de fobia de contato é observado em pessoas que realizam esse tipo de cumprimento, que somente oferecem e seguram as pontas dos dedos, quase não olham no rosto do interlocutor e, com o rosto em direção ao chão, continuam seu trajeto até o seu lugar.

Alguns seguram toda a mão do interlocutor e até colocam a mão esquerda sobre a direita de quem cumprimenta. Esse tipo de cumprimento é uma via intermediária entre o aperto de mão e o abraço.

São pessoas que se mostram mais afetuosas no contato, embora, em algumas desse tipo, sua história e distorções de personalidade descrevam alguém um tanto invasivo e controlador.

Às vezes, nós nos deparamos com mãos suadas no cumprimento, como um indicador de nervosismo e tensão no primeiro encontro.

O que o seu tipo de cumprimento diz sobre você?

pessoas que fazem o cumprimento durar muito tempo e movem repetidamente a mão de cima para baixo. São cumprimentos intermináveis, nos quais parece que nossa mão já ficou colada na mão do nosso interlocutor.

Para além do fato de ser estilo ou fruto da ansiedade, o cumprimento pode reproduzir uma forma de relação social dependente, pegajosa, exigente.

Todos esses dados que o início de um encontro oferece mostram as complementaridades das relações. São jogos e dinâmicas que uma pessoa poderia interpretar, para depois corroborar nas interações seguintes que se desenrolarem se a relação continuar.

Evidentemente, são generalizações e nos jogos relacionais não existem padrões gerais.

Essas demonstrações são hipóteses que exemplificam como devem ser lidas certas características dos estilos inter-relacionais. É tirar o máximo proveito do que a experiência sensível pode nos oferecer!


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.