O que é o transtorno de estresse agudo?
Poucas pessoas ficam ilesas depois de testemunhar ou vivenciar um evento traumático. A mente recebe o impacto e, depois de alguns dias ou semanas, ocorrem alterações, consequências, distúrbios… Tudo isso se enquadra no que conhecemos como transtorno de estresse agudo, uma condição psicológica que milhares de pessoas vivenciam em algum momento da vida.
Ninguém está livre de problemas de saúde mental. Não estamos errados em dizer que esse tipo de distúrbio é, possivelmente, um dos mais comuns. Podemos sofrê-lo quando vemos um acidente de trânsito, e também quando testemunhamos a morte de uma pessoa próxima. Sofrer um roubo ou ser agredido também são fatores associados.
Cada pessoa processa esse tipo de experiência de uma maneira. Há quem enfrente esses eventos com estratégias mais reforçadas. Porém, em média, é bastante comum que tais situações levem a estados de cansaço elevado, ansiedade intensa, distúrbios do sono, alterações de comportamento e altos e baixos emocionais.
Vamos entender um pouco melhor em que consiste esse distúrbio.
Transtorno de estresse agudo: sintomas, causas e estratégias de enfrentamento
O transtorno de estresse agudo geralmente surge quando uma pessoa passa por um evento de alto impacto. No entanto, esta situação pode ser complicada se não for abordada ou se for tratada de forma inadequada. Se deixarmos passar e se a pessoa não solicitar ajuda especializada, corre o risco de levar a estados psicológicos muito graves.
Um estudo realizado na Universidade de Nova Gales do Sul pelo Dr. Richard Bryant indica que, uma vez que uma pessoa é diagnosticada com transtorno de estresse agudo, é crucial que receba tratamento adequado para evitar e prevenir o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Como curiosidade, esta categoria clínica surgiu durante a Primeira Guerra Mundial. Apesar disso, o rótulo e o nome que recebeu eram diferentes: shell shock . O termo pretendia descrever uma realidade em que as experiências vividas no front eram como projéteis dirigidos diretamente ao cérebro dos jovens soldados. Explosões no sistema nervoso central que os deixavam abatidos e em um estado mental muito alterado.
Quais são os sintomas?
Podemos diagnosticar o transtorno de estresse agudo quando uma pessoa sofre uma série de manifestações físicas e psicológicas por pelo menos três dias consecutivos, após ter vivido uma experiência traumática. É importante saber que se os sintomas persistirem por mais de um mês, já estaremos enfrentando um transtorno de estresse pós-traumático.
Para o diagnóstico, podemos seguir os critérios do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):
- Sintomas de intrusão: a pessoa é dominada pela memória, por cenas que voltam à sua mente na forma de flashes continuamente. Essas memórias intrusivas causam um grande sofrimento e também podem aparecer em sonhos.
- Sintomas associados ao humor: angústia, medo, desespero constante…
- Sintomas dissociativos: é comum experimentar uma sensação de irrealidade, de não acreditar totalmente no que aconteceu. Além disso, o tempo parece ir mais devagar e o ambiente parece ficar suspenso numa estranha esfera…
- Sintomas de excitação: dificuldade para dormir e de concentração, dificuldade em tomar decisões, conectar-se da mesma forma com amigos, família, parceiro(a)…
- Sintomas de evitação: é muito comum que a pessoa que acaba de vivenciar algo traumático faça um esforço para não pensar, para evitar o que viu, o que sente…
Quais são as causas do transtorno de estresse agudo?
Nem todas as pessoas que sofreram traumas desenvolvem um transtorno de estresse agudo. Sabemos, por exemplo, que alguém que já sofreu de um distúrbio psicológico (como depressão) o desenvolve com mais frequência, bem como quem tem um estilo de enfrentamento evitativo ou já sofreu um trauma anterior.
Por outro lado, para compreender o mecanismo do transtorno de estresse agudo, devemos fazer uma viagem até o sistema nervoso central. Vamos entender esse processo:
- Quando experimentamos um evento assustador ou ameaçador, o corpo ativa uma resposta automática orientada para enfrentar a ameaça ou fugir.
- Sabemos que esse tipo de distúrbio se desenvolveu como um mecanismo evolutivo que nos permite sobreviver a situações perigosas.
- São experiências de grande intensidade em que ocorre uma liberação excessiva de adrenalina e norepinefrina no sistema nervoso. Esses hormônios provocam alterações: taquicardia, sensação de alerta, medos, dores musculares…
- O mais impressionante é que não apenas tendemos a nos lembrar constantemente do evento traumático repetidamente, mas tememos que algo assim volte a acontecer. A angústia aumenta e não conseguimos deixar de ver ameaças em todos os lados. Qualquer estímulo nos apavora, tudo é vivido em pânico e a mente fica refém dessa experiência.
Como este transtorno é tratado?
Como indicamos, é necessário que, uma vez diagnosticado o transtorno de estresse agudo, a pessoa faça terapia para evitar estados mais exaustivos e até crônicos. Temos estudos, como o realizado na Universidade de Bergen (Noruega), que comprovam a eficácia da terapia cognitivo-comportamental.
Estratégias como reestruturação cognitiva, técnicas de relaxamento e exposição imaginária ou ao vivo facilitam o progresso e a melhora na maioria desses pacientes.
Para concluir, insistimos mais uma vez que todos podemos passar por um momento de grande dificuldade em algum momento da vida. Para gerenciar o seu impacto, atenuar os sintomas e nos equipar com estratégias de enfrentamento, é fundamental contar com a ajuda de especialistas. Há momentos em que simplesmente não podemos lidar com os problemas por conta própria.
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- Bryant, R. A. (2018, December 1). The Current Evidence for Acute Stress Disorder. Current Psychiatry Reports. Current Medicine Group LLC 1. https://doi.org/10.1007/s11920-018-0976-x
- Kornør, Hege; Winje, Dagfinn; Ekeberg, Øivind; Weisæth, Lars; Kirkehei, Ingvild; Johansen, Kjell; Steiro, Asbjørn (September 2008). “Early trauma-focused cognitive-behavioural therapy to prevent chronic post-traumatic stress disorder and related symptoms: A systematic review and meta-analysis”. BMC Psychiatry. 8: 8. doi:10.1186/1471-244x-8-8