Transtorno delirante: sintomas e tratamento

Transtorno delirante: sintomas e tratamento
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 04 setembro, 2018

A característica principal do transtorno delirante é a presença de um ou mais delírios que persistem durante pelo menos um mês. Durante o século XVII, o conceito de loucura se referia, principalmente, ao delírio, de tal modo que “estar louco” era igual a “ter delírios” e vice-versa. No entanto, o que é um delírio?

A definição mais conhecida e citada é a que Jaspers apresenta em Psicopatologia Geral (1975). Para Jaspers, os delírios são juízos falsos que se caracterizam porque o indivíduo os mantém com grande convicção, de maneira que não são influenciáveis nem pela experiência, nem por conclusões irrefutáveis. Além disso, seu conteúdo é impossível.

Para identificar um delírio como tal, deveríamos levar em consideração o grau em que a experiência se ajusta aos seguintes aspectos:

  • É mantida com absoluta convicção.
  • É sentida como uma verdade por si mesma, com uma grande importância pessoal.
  • Não é passível de ser modificada pela razão, nem pela experiência.
  • Seu conteúdo, frequentemente, é fantástico ou, pelo menos, intrinsecamente improvável.
  • Não é compartilhada pelos outros membros do grupo social ou cultural.
  • A pessoa está tão preocupada com a crença que, para ela, é difícil evitar pensar ou falar sobre o assunto.
  • A crença é fonte de mal-estar subjetivo ou interfere no funcionamento social da pessoa e em suas ocupações.

Em suma, os delírios se caracterizam por serem conceitualmente muito complexos. Talvez, por isso, seja tão difícil “encaixá-los” em uma definição. Atualmente, se pedíssemos para uma pessoa qualquer descrever sua imagem prototípica de um “louco”, é muito provável que nos dissesse que é um indivíduo que acredita ser Napoleão ou que afirma que é perseguido por alienígenas.

Mulher com sintomas de transtorno delirante

Quais são as características do transtorno delirante?

Como dissemos anteriormente, a característica principal do transtorno delirante é a presença de um ou mais delírios que persistem durante pelo menos um mês. Não devemos confundir a presença de delírios com o diagnóstico de esquizofrenia. O transtorno delirante é uma coisa, e a esquizofrenia, outra.

Não se realiza o diagnóstico de transtorno delirante se a pessoa já passou por acompanhamentos clínicos que cumprissem com o critério A da esquizofrenia (segundo o DSM-5). Para além do impacto direto produzido pelos delírios, a deterioração do funcionamento psicossocial pode estar mais circunscrita do que em outros transtornos psicóticos.

Além disso, a pessoa com transtorno delirante não se comporta de forma extravagante ou estranha, como pode acontecer em outros transtornos psicóticos. O DSM-5 também mostra que, no transtorno delirante, os delírios não podem ser atribuídos aos efeitos de uma substância (por exemplo, a cocaína) ou de outra condição médica (por exemplo, o mal de Alzheimer). Também não podem ser melhor explicados por outro transtorno mental, como o transtorno dismórfico corporal ou o transtorno obsessivo-compulsivo.

Critérios diagnósticos do transtorno delirante de acordo com o DSM-5

O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) cita os seguintes critérios diagnósticos para o transtorno delirante.

A. Presença de um ou mais delírios com um mês ou mais de duração.

B. Nunca se satisfez o critério A da esquizofrenia. As alucinações, se existentes, não são significativas e estão relacionadas com o tema delirante (por exemplo, estar infestado por insetos associado a delírios de infestação).

C. Independentemente do impacto do delírio ou de suas ramificações, o funcionamento não está muito alterado e o comportamento não é claramente extravagante ou estranho.

D. Se foram verificados episódios maníacos ou depressivos maiores, estes foram breves em comparação com a duração dos períodos delirantes.

E. O transtorno não pode ser atribuído a efeitos fisiológicos de uma substância ou outra condição médica. Também não pode ser melhor explicado por outro transtorno mental, como o transtorno dismórfico corporal ou o transtorno obsessivo-compulsivo.

Homem sofrendo de transtorno delirante

Quais tipos de delírios existem?

Novamente, o DSM-5 cita os tipos de delírios existentes. Em um transtorno delirante podem ocorrer os seguintes delírios:

  • Tipo erotomaníaco. O tema central do delírio é que outra pessoa está apaixonada pelo indivíduo que apresenta o transtorno.
  • Tipo de grandeza. O tema central do delírio é a convicção de ter um certo talento ou conhecimento (não reconhecido) ou de ter realizado alguma descoberta importante.
  • Tipo ciumento. Esse subtipo se aplica quando o tema central do delírio é de que o cônjuge ou parceiro é infiel.
  • Tipo persecutório. O tema central do delírio envolve a crença de que existe uma conspiração contra o indivíduo, ou de que ele é enganado, espionado, perseguido, envenenado ou drogado, difamado, assediado ou obstruído na busca de objetivos de longo prazo.
  • Tipo somático. Aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais.

Além desses tipos, também existem o tipo misto (aplicado quando não predomina nenhum tipo de delírio) e o tipo não especificado. Este último se aplica quando o delírio dominante não pode ser determinado com clareza ou não está descrito nos tipos específicos (por exemplo, delírios referenciais sem um componente persecutório ou de grandeza proeminente).

Tratamento do transtorno delirante

O transtorno delirante é considerado difícil de tratar. Os fármacos antipsicóticos, os antidepressivos e os fármacos que estabilizam o estado de ânimo são utilizados com frequência para tratar os transtornos psicóticos.

Ao mesmo tempo, existe um crescente interesse pelas terapias psicológicas como formas de tratamento. Por outro lado, podemos dizer que atualmente ainda há muita margem para melhorias em relação às intervenções sobre os transtornos delirantes.

Sessão de terapia para tratar transtorno delirante

Atualmente não existe uma forma de intervenção que predomine sobre as demais pelos resultados obtidos. Até que seja delineada uma intervenção específica, que melhore os resultados das intervenções mais generalistas, o tratamento dos transtornos delirantes provavelmente vai se basear nos tratamentos considerados eficazes para outros transtornos psicóticos e problemas de saúde mental.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.