O que a tristeza tem a ver com andar distraído?

O que a tristeza tem a ver com andar distraído?

Última atualização: 03 outubro, 2016

O compositor argentino Facundo Cabral ficou conhecido por espalhar seu pensamento através de profundas reflexões. Uma delas é sobre a tristeza. Por meio de sátiras, do anarquismo, da crítica social e do otimismo, ele enviava uma mensagem fervorosa.  Em suas exibições constantemente citava Whitman, Borges, Atahualpa Yupanqui, Jesus, Teresa de Calcutá e Krishnamurti. Uma das suas apresentações mais celebradas leva o título “Você não está deprimido, está distraído”.

Ele foi exilado durante a ditadura argentina e desde então erradicou-se no México. Realizou apresentações em cerca de 165 países. Alguns de seus concertos mais famosos foram os realizados em companhia de Alberto Cortez, que por sua vez definiu Cabral como “um personagem controverso que inventou a si mesmo”.

Em seu recital “Você não está deprimido, está distraído”, Cabral faz uma reflexão sobre a tristeza, um mal que se sobressai na nossa época e que em algum momento da vida atinge a todos. Cabral coloca a tristeza como um tipo de cegueira que nos distrai, e acabamos não aproveitando a riqueza e a beleza do mundo que nos rodeia.

Tristeza e distração

Em uma parte da mencionada apresentação, o compositor nos convida a questionar o assunto dizendo: “Distraído da vida que o povoa… Você tem coração, cérebro, alma e espírito… então como pode sentir-se pobre e miserável? Distraído da vida que o rodeia, dos golfinhos, bosques, mares, montanhas e rios…”

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Ele completa enfatizando: “Não caia na mesma coisa que seu irmão caiu, de sofrer por um ser humano qualquer quando no mundo existem outras seis bilhões de pessoas. Além disso, nem é tão ruim viver sozinho: eu estou muito bem, decidindo a cada instante o que quero fazer. E graças à solidão, me conheço: algo fundamental para viver“.
Para finalizar, afirma: “Por isso você acha que perdeu algo, mas isso é impossível porque tudo lhe foi dado, você não fez nem mesmo um fio de cabelo da sua cabeça. Por isso, não pode ser dono da nada. Além disso, a vida não lhe tira coisas, mas o liberta de coisas e o alivia só para que voe mais alto, para que alcance a plenitude”.

A generosidade de Facundo Cabral

Facundo Cabral era um homem que compartilhava sua experiência de vida com as multidões. Essa troca com os outros se caracterizava pelo uso do sarcasmo e de um humor inteligente e agudo. Os espectadores aproveitavam e recriavam o sentido de suas vidas de forma autêntica e original.

Está claro em suas exposições que a vida é sobretudo questão de aprendizagem: “Desde o berço até o túmulo, a vida é uma escola. Portanto, o que você chama de problemas são lições. E a vida é dinâmica, por isso está em constante movimento. Por tudo isso devemos estar sempre atentos ao presente. Há tantas coisas para aproveitar, e nossa passagem pela Terra é tão curta, que sofrer é só uma perda de tempo.

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Ele se refere à morte da seguinte maneira: “Você não perdeu ninguém. Ele que morreu, simplesmente se adiantou, porque para lá vamos todos nós. Além disso, melhor para ele. O amor segue em seu coração. Não há morte, há mudança, e do outro lado nos esperam pessoas maravilhosas: Gandhi, Michelangelo, Whitman, San Agustín, Madre Teresa, sua avô e minha mãe, que acreditava que na pobreza estamos mais próximos do amor porque o dinheiro nos distrai com muitas coisas”.

Como encontrar a felicidade

Cabral foi uma espécie de apóstolo do amor, que gritava aos quatro ventos sua inquietação com o que é estabelecido. Um pacifista convicto, que não acreditava na violência como solução de algo por nada. Um ser solitário e feliz que sempre se cercava de boa literatura e boa música para fazer suas próprias criações.

Promovia a ideia de nos guiarmos pelo nosso coração: “Você não encontra a felicidade, e é tão fácil! Só deve escutar seu coração antes que intervenha sua cabeça, que está condicionada pela memória, que complica tudo com coisas velhas, com ordens do passado, com preconceitos que machucam, que aprisionam a cabeça que divide, ou seja, empobrece. A cabeça que não aceita que a vida é como ela é, e não como deveria ser. Faça só o que você ama e será feliz”.

Ele indica que ser feliz é um dever: “Faça as pazes consigo mesmo, coloque-se de frente para um espelho e pense que essa criatura que está vendo é obra de Deus. E decida agora mesmo ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição, não algo que chegará de fora. Além disso, a felicidade não é um direito, e sim um dever; porque se você não é feliz, acaba amargurando todo o bairro”.

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Outros ensinamentos sobre a tristeza

Em relação a doenças catastróficas, assinala: “E se você tem câncer ou AIDS, podem acontecer duas coisas, e as duas são boas. Se a doença te ganha, liberta seu corpo que é tão incômodo: eu tenho fome, tenho frio, tenho sono, tenho vontades, tenho razões, tenho dúvidas. E se você ganha da doença, será mais humilde, mais agradecido e, portanto, facilmente mais feliz, livre do tremendo peso da culpa, da responsabilidade e da vaidade. Disposto a viver cada instante profundamente como deve ser vivido”.

Sobre a luz interior ele fala: O medo nos distrai do amor, que é sábio e valente porque sabe que não há medidas nem fim. Busque dentro de si e desaparecerão as nuvens da periferia, fique tranquilo e em silêncio para escutar o sábio que mora dentro de você. Uma vez acesa a luz interior, nada pode apagá-la. É tão perfeita e incorruptível como o ouro que simboliza o poder da pureza, do que é essencial, ou seja, do espírito que é uma viagem infinita e maravilhosa porque está lá em cada instante vivido com profundidade”.

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Em relação ao ego e à inocência, Fernando Cabral diz: Quando o ego é abandonado, começam os milagres. Então, sem luta, você recupera sua força natural. Por isso poderá provar a vida através do amor, caminhará sobre as águas e curará com as palavras. O ego dá nome às coisas, mas o inocente as vê; o ego as julga, mas o inocente as vive. O ego divide, a inocência harmoniza diferenças; o ego depende da mente, o inocente depende do coração”.

Você agora já tem os elementos, só falta assumir o desafio: Agora que está sozinho e tranquilo, esqueça o que você é, porque isso é só uma criação dos outros, e escute o seu coração: “Quem você quer ser?”, “O que você quer fazer agora?”… Por que a vida é agora mesmo”.


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