Uma perspectiva psicológica sobre a crise dos refugiados

Uma perspectiva psicológica sobre a crise dos refugiados
Fátima Servián Franco

Escrito e verificado por a psicóloga Fátima Servián Franco.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

É claro que qualquer movimento migratório massivo terá seus prós e contras, e os problemas que ele possa levantar raramente terão uma solução perfeita e única. Do ponto de vista psicológico, a crise dos refugiados pode ser explicada em termos de vieses cognitivos relacionados à criação do pensamento político-social.

Quando os preconceitos entram em jogo, podemos pensar de maneira muito concreta e polarizada, chegando a acreditar que nossas opiniões são as únicas corretas. Os vieses podem ser úteis na medida em que não estamos preparados para processar todas as informações que nos chegam através dos sentidos. Esses preconceitos nos ajudam a ficar em nossa zona de conforto mental, acreditando que a realidade social está mais próxima do que pensamos do que nossos oponentes ideológicos pensam.

As limitações de nossa memória imediata, a falta de informação ou a incerteza sobre as consequências de nossas ações fazem com que as pessoas recorram sistematicamente a heurísticas ou atalhos mentais. Usamos esses atalhos para simplificar a solução de problemas, o que o que nos leva a fazer avaliações baseadas em dados incompletos e parciais.

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As ideologias exigem uma convicção que depois não agradam.

Por que é tão difícil para nós aceitar a opinião do outro?

Para entender a crise dos refugiados temos que analisar a posição de todas as partes envolvidas. Para isso é necessário entender como a mente humana funciona na formação dos pensamentos. Convido você a refletir sobre um fato: na formação de nossas opiniões há fatos misturados com erros cognitivos que condicionam nossa percepção da realidade (passado, presente e futuro).

Objetivamente, eliminando erros de pensamento ao processar informações, todo conflito surge porque há uma ou mais posições opostas. Os contras da imigração podem ser encontrados nos problemas de identificação das pessoas que chegam em massa ou através do tráfico mafioso, e nos problemas trabalhistas que podem encontrar ao se mudar de país.

Os prós estão nos milhares de pessoas que escaparão da pobreza e do conflito armado em seu país, salvando assim suas vidas e a de suas famílias. Além de melhorar sua qualidade de vida, milhares de pessoas escaparam da pobreza ou superaram a fome graças à imigração.

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Os problemas sociais aparecem quando nos conflitos humanos apenas escolhemos e processamos a informação que atende às nossas expectativas, quase sem nos importar se é realidade ou mentira. A realidade social tem tantos prismas quanto olhares, e nossos erros no processamento de informações em certas ocasiões só nos permitem ver um dos prismas, gerando opiniões fortes e veementes.

Não nos incomodamos com as coisas, mas com as opiniões que temos delas

No conflito de refugiados, onde estão as pessoas?

Passamos a acreditar, graças aos vieses de confirmação e autojustificação, que a única maneira de observar e resolver um conflito deve partir de nossa percepção dele, que sempre acreditamos ser fiel à realidade. Mas não somos nada mais do que vítimas desses erros de pensamento, que são produzidos pelo nosso cérebro para simplificar a resolução de problemas.

Todos nós cometemos erros às vezes ao processar informações.. Para não perturbar minhas crenças mais profundas, para não abandonar minhas ideias sobre a humanidade, demonstro minha fé absoluta no ser humano, indubitavelmente enviesada pela heurística da confirmação.

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Não importa o conteúdo da ideia, a bondade ou maldade das intenções ou o político digno. No momento em que qualquer um desses conteúdos mentais for isolado de qualquer tipo de dúvida razoável, estaremos perigosamente próximos do fundamentalismo.

Em referência ao conflito dos refugiados sírios, quando consigo me livrar de meus preconceitos de pensamento, entendo as pessoas que, por medo ou por situações pessoais, são contra a entrada massiva de pessoas em seu país. Compreendo o medo que podem ter de que milhares de pessoas inocentes se unam a outros que querem acabar com a democracia que nos custou tanto sangue no Ocidente. Compreendo suas apreensões sobre o choque cultural e as conseqüências que ele pode ter.

Mas, acima de tudo, e em parte devido aos meus vieses de processamento de informações, estou mais próximo de pessoas que ajudam outras pessoas, estejam ou não erradas em seus pensamentos. Em conflitos políticos, ideológicos ou religiosos, tudo pode acontecer, mas quando falamos de pessoas, acho que devemos abordar isso de uma perspectiva humanitária.

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“Não conheço nenhum grande homem, exceto aqueles que prestaram um grande serviço à raça humana”

Voltaire


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