Os extremismos ideológicos e a metacognição

O que está na cabeça daqueles que mantêm posições claramente extremistas? Vários estudos querem esclarecer se as atitudes radicais das pessoas respondem apenas a determinadas áreas. No entanto, os resultados mostram que os extremistas são radicais em quase todos os aspectos de suas vidas.
Os extremismos ideológicos e a metacognição
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Qual é a relação entre extremismo ideológico e metacognição? Os atuais conflitos políticos e sociais estão obrigando a ciência a se perguntar não apenas o que está acontecendo, mas também como funciona o cérebro daqueles que mantêm posições claramente extremistas. As perguntas são muitas. Até agora, não sabemos se esse tipo de pessoa que detém o extremismo ideológico o faz apenas em torno de ideias e opiniões sobre questões específicas ou se é algo mais amplo.

Parece que os resultados obtidos por estudos recentes sobre este assunto estão inclinados para a segunda opção. Os extremistas são radicais em quase todos os aspectos de suas vidas. O que levanta ainda mais dúvidas. Existe algum traço de personalidade ligado a esse tipo de comportamento? E mais ainda, o que o extremismo ideológico realmente esconde?

A pesquisa sobre a qual estamos falando hoje focou o estudo de pessoas que possuem extremismo ideológico e a relação com sua metacognição. A metacognição é o processo pelo qual as pessoas aprendem a raciocinar e requer uma reflexão constante. Pode ser definido como o conhecimento que se tem sobre o próprio conhecimento, sobre o que é conhecido e o que é desconhecido.

A classificação de indivíduos para identificar o extremismo ideológico

O estudo liderado pelo neurocientista Steve Fleming e sua equipe na University College London, foi projetado para medir a capacidade do grupo experimental de reconhecer erros.

O objetivo era identificar se os indivíduos que possuíam ideias radicais no nível político desenvolveram crenças dogmáticas porque tinham plena confiança nessas opiniões. Ou, ao contrário, se as posições que ocupavam eram produto de problemas de metacognição (pensamentos sobre os próprios pensamentos).

Dois grupos de 400 pessoas participaram de análises que mediram as suas crenças e posições políticas em relação a visões de mundo alternativas. A partir dos resultados das pesquisas, foram identificados os indivíduos que estavam nos extremos, cujos pontos de vista se caracterizavam como absolutamente radicais.

Teste sendo aplicado em pessoa

Medição da metacognição diante do extremismo ideológico

Uma vez classificados, os participantes foram convidados a completar a tarefa de observar duas imagens que tinham pequenos pontos no seu interior e determinar qual delas tinha mais pontos.

Então, foi pedido que eles avaliassem a sua confiança em si mesmos sobre a decisão que haviam tomado. Eles receberam até mesmo uma recompensa em dinheiro para encorajá-los a avaliar a sua confiança da forma mais precisa possível.

Mais tarde, todas as pessoas que participaram da experiência foram informadas sobre qual era a imagem que continha mais pontos. Verificou-se que a maioria das pessoas reduzia o seu nível de segurança na decisão tomada quando percebia que a sua resposta estava incorreta. Mas os indivíduos mais radicais tinham problemas reais em reconhecer que as suas respostas estavam erradas, mesmo com a resposta exata que contradizia a sua estimativa.

“Descobrimos que as pessoas que têm crenças políticas radicais têm uma metacognição pior do que aqueles com pontos de vista mais moderados”.
– Dr. Steve Fleming –

Capacidade de discriminação reduzida

Os resultados da pesquisa do Dr. Fleming mostraram que as pessoas mais radicais e dogmáticas têm uma capacidade muito limitada de questionar as ideias que assumiram como verdadeiras.

Essas pessoas que possuem um forte extremismo ideológico têm uma enorme resistência em mudar as suas crenças mesmo diante das evidências. Essa capacidade de refletir sobre si mesmo e o que se pensa está diretamente ligada à capacidade de incorporar novas evidências em uma crença pré-estabelecida que nos permite tomar melhores decisões.

Elas geralmente têm uma certeza equivocada quando estão erradas sobre alguma coisa, e relutam em mudar as suas crenças mesmo diante da evidência de que não estão certas”.
– Dr. Steve Fleming –

Amigos conversando

Metacognição: o difícil ônus da rigidez mental

A análise dos resultados deste estudo é muito curiosa, especialmente se notarmos a natureza do problema colocado para os participantes. O fato de tomar decisões sobre uma quantidade de pontos não parece um problema em que alguém pode se sentir muito envolvido. Mesmo assim, os indivíduos mais radicais defendiam as suas respostas erradas como verdadeiras, deixando de lado as evidências.

Isso, traduzido para o mundo real, nos convida a refletir. Este tipo de metacognição é um fardo cognitivo que se estende a campos que vão além da política. Outros estudos sobre o mesmo assunto parecem confirmar que aqueles que têm mais dificuldades cognitivas para se adaptar às mudanças são muito mais propícios a serem autoritários e nacionalistas. Parece que isso se traduz em um sentimento de um certo tipo de superioridade da própria ideologia.

José Manuel Sabucedo é professor de psicologia social na Universidade de Santiago de Compostela e dedicou muitos anos ao estudo do autoritarismo. Em referência à pesquisa realizada sobre esses aspectos do ser humano, ele nos diz que esse tipo de atitude parece estar diretamente ligado ao conceito de realismo ingênuo, isto é, quando as pessoas acreditam cegamente que a realidade é como elas a percebem.

Esses tempos de incerteza geram ansiedade, e os cidadãos buscam uma explicação. Aparecem certos grupos para oferecer uma explicação simples, como a de que a culpa é da imigração, o que serve para reduzir essa ansiedade”.
– José Manuel Sabucedo –


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