Vício em celular: como isso nos afeta e o que podemos fazer

O uso frequente do celular parece ter consequências no nosso dia a dia em todos os níveis. Vamos explicar do que se trata.
Vício em celular: como isso nos afeta e o que podemos fazer
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 08 novembro, 2022

O vício em celular pode afetar a capacidade de pensar de algumas pessoas. O telefone que usamos e para o qual olhamos praticamente a cada 10 minutos pode desempenhar o papel de uma droga, diminuir o valor de outros reforçadores e também retardar o nosso pensamento.

De acordo com estudos de psicologia, o vício em celular tem sido associado a um desempenho cognitivo menos hábil e menos preciso. Durante os últimos anos, as pesquisas sobre o vício em celular e a psicologia do consumidor se tornaram mais intensas, a fim de definir as novas interações entre o cérebro e a tecnologia.

O hábito de se levantar e olhar para a tela do celular como o ato de abertura do dia diz muito sobre a dependência desse aparelho. Se você usar a desculpa de que ele funciona como um relógio para você, pergunte a si mesmo: você fazia o mesmo com o seu despertador? Este e muitos outros gestos são o que determina o grau de dependência do telefone celular.

Vício em celular ou nomofobia

O termo nomofobia deriva de no mobile phone phobia ou ‘medo de ficar sem telefone celular’. A nomofobia é o medo irracional de ficar desconectado ou o medo obsessivo de não estar acessível através do celular. Assim, estamos falando da ansiedade de desconexão.

Muitas pessoas são afetadas pela distração do telefone. Porém, quando isso atrapalha o nosso funcionamento, podendo até mesmo nos causar um sofrimento intenso, então começamos a falar de algo muito mais sério. Algo que provavelmente exigirá atenção profissional.

Mulher olhando para o celular
A nomofobia é o medo ou a preocupação de ficar sem o telefone celular ou a preocupação por não poder usá-lo.

Sintomas

Não poder usar o celular porque ele está sem bateria ou por esquecê-lo em algum lugar causa ansiedade ou ataques de pânico para um número cada vez maior de pessoas. Atualmente, esses comportamentos apresentam uma tendência crescente entre os estudantes do ensino médio e universitários.

A nomofobia foi classificada pelos psiquiatras como uma fobia específica real. O vício em smartphones tem sido associado ao transtorno de ansiedade social. Outros sintomas desse vício se refletem nas reações físicas que são experimentadas ao não encontrá-lo:

  • Ansiedade.
  • Alterações respiratórias.
  • Tremor e espasmos por não encontrá-lo.
  • Transpiração excessiva.
  • Agitação.
  • Desorientação.
  • Taquicardia.

Estudos psicológicos descobriram que as pessoas mais inteligentes geralmente tendem a usar a função de busca nos seus celulares com menor frequência. No entanto, os pensadores intuitivos, que tendem a ser menos inteligentes, estão mais inclinados a buscar informações através do celular.

Então, será que usar o nosso pensamento de uma maneira diferente significa usar a tecnologia de uma maneira diferente? Este dado foi investigado.

Uma questão de inteligência

Gordon Pennycook co-dirigiu um estudo que mostrava que os telefones “suplantavam” a função de pensar do cérebro. Se quiser ver o estudo na íntegra, você pode consultá-lo aqui.

Os pensadores intuitivos podem buscar informações que de fato conhecem ou que poderiam aprender facilmente, mas, na verdade, não estão dispostos a fazer o esforço de pensar. Em contraste, os pensadores analíticos, que geralmente são mais inteligentes, de acordo com a pesquisa, são menos propensos a usar o recurso de “busca” dos seus telefones.

Décadas de pesquisas revelaram que os seres humanos são inclinados a evitar o esforço e o gasto de energia cerebral para encontrar soluções. Assim, quando a resolução dos problemas está ao alcance das mãos, usamos os smartphones como se fossem uma extensão da mente.

Um experimento

A pesquisa pediu que 660 pessoas testassem o seu vício em celular. Foram avaliadas as suas habilidades verbais e de alfabetização, juntamente com o seu estilo de pensamento. Os resultados mostraram que as pessoas com mais habilidades de pensamento analítico usaram muito menos a função de busca nos seus smartphones.

O estudo foi publicado na revista Computers in Human Behavior (Barr et al., 2015). Assim, a pesquisa fornece evidências de que existe uma associação significativa entre o uso contínuo de smartphones e a redução da inteligência.

O uso do celular: a janela para inúmeros aplicativos que geram dependência

Parece que o vício em smartphones nos deixa menos hábeis quando se trata de pensar. Ultimamente, outros tipos de hábitos de visualização associados aos celulares também estão sendo levados em consideração, tais como o vício no WhatsApp ou nas redes sociais.

Os efeitos do uso contínuo do celular

Um estudo da IDC Research deixou isso claro. Cerca de 80% dos usuários de smartphones verificam os seus dispositivos móveis pelo menos uma vez dentro dos primeiros 15 minutos após acordar.

De acordo com a Dr. Nikole Benders-Hadi, usar o telefone assim que acordamos pode aumentar a nossa ansiedade.

Aumento do desconforto

Um estudo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, mediu os efeitos do uso de smartphones em pessoas na faixa dos 20 anos, ao longo de um ano.

A pesquisa mostrou que o uso intenso de telefones celulares estava associado a um aumento nos relatos de depressão, tanto em homens quanto em mulheres, bem como nos sintomas de estresse e de problemas para dormir.

Atenção sequestrada

Ao checar redes sociais, e-mail ou mensagens, as opiniões, os pedidos e as propagandas de outras pessoas entram na nossa mente e contaminam o pensamento. Como resultado, em muitas ocasiões, isso causa distração e diminuição da atenção ao que estamos fazendo ou vamos fazer.

Verificar o celular ao acordar condiciona o restante do dia

De acordo com Julie Morgenstern, autora do livro Never Check Email In The Morning, quando verificamos e-mails ou notificações durante a primeira hora da manhã, “nunca nos recuperamos”. Esses pedidos, surpresas inesperadas, lembretes e problemas são intermináveis. Porém, há muito pouco que não possa esperar um mínimo de 59 minutos.

Mulher olhando para o celular ao acordar
Verificar o celular ao acordar tem um impacto negativo no nosso descanso.

Aumento da dopamina

Ao verificar as redes sociais ou o e-mail, o cérebro libera muita dopamina, um neuroquímico que nos faz sentir recompensados.

O cérebro anseia pela dopamina da mesma forma que uma criança de oito anos anseia por doces. Por isso, ele vai estimular a repetição de comportamentos que levam à liberação de dopamina.

Um bom uso pode mudar a nossa rotina

O uso do celular é quase indispensável em muitas esferas de nossas vidas, não podemos evitá-lo. Por isso, seguir algumas dicas simples pode nos ajudar a usar o celular a nosso favor:

  • Ativar o modo avião se quisermos usar o despertador do celular.
  • Excluir aplicativos que nunca usamos.
  • Desativar as notificações de aplicativos com informações dispensáveis na tela inicial. Afinal, podemos consultá-las de forma específica durante os momentos de lazer.
  • Não usar o celular pelo menos durante a primeira hora da manhã. Para isso, podemos automatizar um comportamento incompatível com segurar o celular na mão. Por exemplo, levantar e ir diretamente para o chuveiro ou lavar o rosto e se vestir.
  • Definir um horário exato para uma ligação e evitar ao máximo esperar a tarde inteira por essa ligação.
  • Usar o e-mail durante o horário de trabalho através do computador.
  • Supor que, se houver algo realmente urgente, podemos ser localizados sem problemas. Para isso, não é necessário olhar para o celular com frequência.
  • Acompanhar o tempo que passamos diante da tela por meio de aplicativos projetados para isso.

Depois de ver todas essas desvantagens, pode parecer que estamos demonizando o uso do celular, porém isso não poderia estar mais longe da verdade. Estamos alertando sobre os efeitos nocivos do vício em celular, pois usá-lo com moderação não causa nenhum desses problemas.


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