Viver com sentido, o pilar da logoterapia

Em um mundo caótico, somos forçados a encontrar o sentido da vida. Fazer isso é fundamental para a saúde mental, e uma das bases da terapia criada por Viktor Frankl em sua época.
Viver com sentido, o pilar da logoterapia
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Viver com sentido não é orientar a existência em busca da felicidade. É encontrar um propósito e se dedicar a ele. É, acima de tudo, nos sentirmos bem por quem somos, pelo que temos e pelo que nos rodeia, nem mais nem menos do que isso. No entanto, em nosso dia a dia, é complicado focar a mente, o coração e o olhar em direção a essa meta existencial, porque o que muitas vezes encontramos é uma clara falta de sentido.

O ruído do estresse, a pressão da ansiedade nos saturando de preocupações e negatividades, a sombra da incerteza… Como podemos encontrar sentido para a vida quando no nosso interior encontramos apenas essas realidades? É complicado, é verdade. Contudo, como disse o psicanalista Erich Fromm, o sentido da vida nada mais é do que a arte de saber viver em si mesmo.

Esse é, sem dúvida, o verdadeiro segredo do bem-estar psicológico: trabalhar nossa harmonia e nosso equilíbrio interno. Algo assim envolve necessariamente o desenvolvimento e a conquista de um bom autoconhecimento, e a aplicação de grande parte dos pressupostos básicos da logoterapia de Viktor Frankl.

Vamos nos aprofundar nesse assunto.

Jovem contemplano paisagem

Logoterapia: aprender a viver com sentido

Em média, as pessoas só refletem sobre o sentido da vida quando a adversidade as abraça. É nesse momento que vêm à mente as clássicas perguntas: “por que isso aconteceu comigo e qual é o sentido de tudo isso?”. Poucos atos têm tanto significado para o ser humano quanto encontrar esses significados, mesmo quando tudo dá errado e o destino nos atinge com força.

Os estoicos, pertencentes à escola filosófica fundada por Zenão de Cítio em 301 a.C., defendiam que a felicidade consiste em aceitar as coisas como as recebemos. Mas vamos ser sinceros… como fazer isso? Gostamos da ideia, parece boa, mas nem sempre é tão fácil aceitar de bom grado o que acontece conosco. Por isso é tão comum resistir, ficar com raiva e sofrer pelo que se perdeu ou aconteceu.

Irvin David Yalom, professor de psiquiatria na Universidade de Stanford, explica que aprender a viver com sentido é algo que conquistamos com o tempo. É como se, em um determinado momento, as pessoas dessem aquele passo tão necessário em direção à introspecção interna e então se conectassem com suas próprias necessidades para se perguntar o que é realmente relevante para si.

Mais cedo ou mais tarde, tomamos consciência de que a vida não é um problema a resolver, mas um mistério a aceitar.

O que é viver com sentido?

Uma das figuras que mais abordou o conceito de viver com sentido foi Viktor Frankl. Tanto que ele o concebeu como o pilar sobre o qual sustentou sua abordagem terapêutica: a logoterapia. Segundo o psiquiatra vienense, o desejo de encontrar um sentido existencial é uma necessidade que quase todos nós sentimos em algum momento, e o simples fato de fazer isso, de esclarecer essa ideia, nos ajuda nos momentos complicados.

  • Para começar, algo que devemos entender é que cada pessoa traça seu próprio sentido da vida. Ele é único e particular para cada um de nós. Além disso, muda com o tempo. De acordo com nossas próprias circunstâncias e os objetivos que estabelecemos para nós mesmos, esse sentido interno vai variar de uma forma ou de outra.
  • Essa busca é uma força motivadora para o ser humano. Cada vez que nos perguntamos “O que é mais importante para mim neste momento?”, “O que faz sentido para mim?”, focamos nossa atenção no nosso eu autêntico a fim de explorá-lo. Estamos, portanto, diante de um exercício de autoconhecimento.
  • Viver com significado também nos obriga a valorizar nossa experiência passada e presente. É encontrar uma harmonia entre o que sempre foi importante para nós (nossos valores) e o que pedimos para a vida (nossas esperanças).

Esse exercício influencia a saúde psicológica porque, quando esclarecermos essa dimensão, encontramos uma razão de ser, um motivo para nos levantar todos os dias, algo em que acreditar, pelo que lutar e ter esperança.

Jovem observando o mar

A logoterapia, o legado de Viktor Frankl

Conhecemos Viktor Frankl basicamente por duas coisas: por ter sobrevivido a dois campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e por seu famoso livro Em Busca de Sentido. Também devemos lembrar que ele foi um notável professor de psiquiatria, que escreveu mais de 30 livros e deu cerca de 210 palestras em quase todas as universidades do mundo.

Entre seu legado mais notável está, sem dúvida, a logoterapia, uma terapia que foi integrada à terceira escola de terapia vienense depois da psicanálise de Freud. O motor que dá forma e finalidade a essa abordagem psicológica é permitir que as pessoas vivam com sentido. Foi dessa forma que ele orientou seus pacientes para atingir esse objetivo.

Você tem um corpo, uma mente e uma “alma”

A terapia de Viktor Frankl não se baseava na teologia, ou seja, não era religiosa. O conceito de alma era uma metáfora para se referir à verdadeira essência da pessoa. Segundo ele, cada um de nós tem um corpo, uma mente e uma alma que contém a nossa história, aquele recanto interior onde se encontram nossa voz, nossos valores e nossa personalidade. Uma das nossas finalidades seria harmonizar essas três dimensões.

Tudo que você vive, bom ou ruim, tem algum sentido

Cada experiência que vivemos tem um sentido, e devemos identificá-lo. Felicidade, incerteza, adversidade, dias de tranquilidade, paixão, medo… Cada momento contém um significado próprio que devemos esclarecer.

Você é livre para reorientar sua vida de acordo com seus próprios significados

Às vezes, as circunstâncias nos tornam cativos de determinadas realidades. É verdade. Um abandono, por exemplo, nos deixa em solidão, a perda do emprego nos leva a um momento de dificuldade e incerteza. Em meio a essas circunstâncias, cada um de nós é livre para trilhar o caminho que quiser, partindo de nossos próprios significados vitais. Somente assim alcançaremos o bem-estar.

Viver com sentido é comprometer-se consigo mesmo seguindo o que nos define, o que nos encoraja mesmo em momentos de escuridão. O dia a dia já é caótico o suficiente para que nos afastemos da nossa essências, daquela alma da qual falava Viktor Frankl. Vamos manter isso em mente.


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  • Frankl V (1994). El hombre en busca de sentido, Herder, Barcelona.
  • Frankl V (1991). A pesar de todo, decir sí a la vida. Herder, Barcelona, 
  • Frankl V (2002). Psicoanálisis y existencialismo. Herder.

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