Você conhece a teoria do vale da estranheza?

Você conhece a teoria do vale da estranheza?
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

“Quando os computadores tomarem o controle, pode ser que não o recuperemos. Sobreviveremos de acordo com a sua vontade.” O que você pensa ao ler esta frase de Marvin Minsky, o pai da inteligência artificial? Você sente um certo incômodo? Esta sensação é legítima e, segundo a teoria do vale da estranheza, pode ser justificada psicologicamente.

O mundo contemporâneo se desenvolve a uma enorme velocidade. Qualquer smartphone que carregamos no bolso hoje é mais potente que os computadores que levaram o homem até a Lua. Como é evidente, tudo isso traz avanços importantes, mas também desperta grandes receios. Isto porque a velocidade com que a tecnologia avança é muito grande.

O que é a teoria do vale da estranheza?

As novas tecnologias nos permitem fazer coisas com as quais há poucos anos não podíamos nem sonhar. De fato, já existem robôs e seres animados artificialmente que têm uma aparência realmente humana. Se estes tipos de seres lhe causam um certo receio, isso não é estranho; é uma sensação explicada pela teoria do vale da estranheza.

Mulher e robô se olhando

Segundo o professor Masahiro Mori, que propôs essa teoria em 1970, quanto mais um robô se parece conosco, porém sendo ainda possível perceber a diferença, mais enfática será nossa reação, até chegar ao ponto da total rejeição. Entretanto, se não conseguirmos  diferenciar um robô de um ser humano, nossa resposta será mais positiva. Assim, há uma espécie de “vácuo” ou “espaço” no qual reagimos a estes seres com forte rejeição.

Esta teoria foi proposta por Mori em 1970, quando estudava as reações humanas com relação à robótica. A figura da inteligência artificial e dos robôs extremamente parecidos aos homens e mulheres, porém claramente distinguíveis, provoca uma forte rejeição, como aconteceu em 1988 com um curta-metragem da Pixar, “Tin Toy”. O bebê do filme era muito parecido com um bebê real, mas não o suficiente para provocar uma reação positiva.

“Os robôs vão herdar a terra? Sim, mas eles serão nossos filhos.”
-Marvin Minsky-

Teorias em relação ao vale da estranheza

Até hoje, ninguém conseguiu explicar com exatidão por que esta rejeição acontece. Ainda assim, diversos pesquisadores propuseram teorias que poderiam contemplar a resposta.

A mais aceita foi proposta por Thalia Wheatley, psicóloga do Dartmouth College. Segundo esta profissional, nosso cérebro conta com um sistema de avaliação de estímulos cuja programação nos impede de escolher um parceiro com problemas de saúde. Ou seja, se observamos em alguém ou ‘algo’ qualquer indício de que não esteja apto para a reprodução, nosso cérebro interpretaria isso como um perigo para a preservação da espécie.

Segundo as investigações de Wheatley, o processo evolutivo do ser humano se refinou de tal forma que podemos detectar até mesmo distorções muito pequenas. Uma vez percebidas, elas geram um certo incômodo em torno desse ser, que talvez tenha problemas físicos ou mentais. Tal incômodo poderia explicar a existência do vale da estranheza como uma resposta natural para perpetuar a espécie.

Robô com aparência de mulher

Críticas a esta teoria

Segundo esta teoria, nosso cérebro poderia associar a aparência de um androide quase humano, porém ainda não perfeitamente humano, com alguém com uma doença grave, ou até mesmo morto. Por isso se produziria uma reação negativa.

Entretanto, mesmo sendo uma teoria potencialmente lógica, ela tem seus oponentes. Muitos especialistas em robótica, tais como Ayse Saygin, cientista cognitivo da Universidade da California, insistem que a tecnologia androide ainda não está desenvolvida o suficiente.

Ou seja, esta teoria não teria base científica suficiente para afirmar a existência do chamado vale da estranheza. Assim, essa sensação poderia ser uma simples dissonância cognitiva. Em outras palavras, ao observar características parecidas com as humanas, como expressões faciais e determinados comportamentos, certas expectativas são criadas no cérebro. Não sendo satisfeitas, geram a dissonância. Seja como for, esta teoria, sendo real ou não, consiste na possibilidade de que venhamos a entender com maior profundidade como funciona a empatia humana.

“As ‘leis do pensamento’ não dependem somente das propriedades das células cerebrais, mas também do modo como estão conectadas”.
-Marvin Minsky-

Então, qual é a sua opinião? Você sente esse incômodo quando observa uma máquina excessivamente parecida com um ser humano? Se isso acontece, talvez esteja comprovando a teoria do vale da estranheza. Seja como for, é inquietante refletir sobre o assunto, não é mesmo?


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.