Se você não quer sofrer, pare de bancar o adivinho

Se você não quer sofrer, pare de bancar o adivinho

Última atualização: 14 janeiro, 2016

A psicologia cognitiva nos ensinou que nossas emoções são muito influenciadas pela forma como pensamos sobre o que acontece conosco.

Na literatura científica podemos encontrar inúmeros exemplos padrões de pensamento desadaptativos e errôneos que as pessoas mantêm, apesar de sua falta de lógica e utilidade e, sobretudo, apesar do sofrimento que lhes provocam.

Neste artigo vamos nos centrar em um desses pensamentos disfuncionais mais prolongados: a dedução arbitrária ou erro do adivinho. Vejamos um exemplo:

Pare de bancar o adivinho

“Carla começou a trabalhar em uma importante empresa de sua cidade. É o trabalho de seus sonhos, mas ela não está completamente à vontade. Acredita que seus companheiros não gostam dela e que falam mal dela pelas costas.

Um outro dia ela observou como duas companheiras cochichavam num canto e riam às gargalhadas e percebeu que a olhavam de canto de olho de vez em quando. Carla está pensando em deixar o trabalho de seus sonhos porque para ela é insuportável que as pessoas falem mal dela! Se falam mal, isso poderia chegar até o chefe e ele poderia até despedi-la por isso.”

Paremos por um momento… O que nossa protagonista está fazendo? Evidentemente, está tirando conclusões precipitadas de algo  que não pode validar nem comprovar de nenhuma maneira.

Ela pensa que seus companheiros falam mal dela porque viu duas pessoas conversando e rindo. Isso é lógico? O fato de que duas pessoas falem e riam num canto é prova suficiente para acreditar que a estão criticando?

Mas a estão olhando de canto!  E o que tem a ver? Certamente fizeram isso porque ela também as estava olhando enquanto elas riam, pensando que a estavam criticando.

Falar mal dos outros

Carla está fazendo mal a si mesma pensando dessa forma. Está provocando em si mesma uma ansiedade tremenda e está a ponto de tomar uma decisão equivocada devido a essa forma de ver as coisas. Está criando o típico efeito paradoxal tão usual na psicologia: de tanto medo de ser criticada e perder seu emprego, é ela mesma quem vai dar o primeiro passo para deixá-lo e, definitivamente, perdê-lo.

Esta história, com essa forma de pensar tão sem lógica, é mais comum do que pensamos. As pessoas têm a tendência de olhar apenas para o próprio umbigo, a proteger seu ego com garras e dentes e a tirar conclusões antecipadas de fatos isolados. Tendemos a deformar a realidade e isso, evidentemente, gera emoções errôneas e desproporcionais.

É muito importante aprender a pensar bem!

Pensar apropriadamente não significa ser otimista, positivo, e ver o mundo cor-de-rosa. Isso seria pior! Estaríamos enganando a nós mesmos e, no fim, sentiríamos o impacto da mesma forma.

Pensar apropriadamente é aprender a ver a vida com as lentes dos nossos óculos limpas. É perceber o mundo tal e como é, sem deformar a realidade, sem criar histórias que não existem além de nossa mente.

Para ser mais racional e realista, Carla deveria ser mais cientista e parar para contemplar todas as alternativas possíveis que poderiam significar essa conversa tão empolgante entre duas pessoas.

Pare de bancar o adivinho

Pode ser que estivessem se lembrando de algo engraçado que aconteceu no trabalho, que estivessem contando piadas ou falando de qualquer outra coisas que não tem nada a ver com a nossa protagonista. É verdade que também existe a opção de que estivessem falando mal de Carla, mas não podemos deixar que nossos impulsos não nos permitam contemplar outras opções.

Em primeiro lugar, porque não seria lógico nem racional tentar adivinhar o pensamento de outras pessoas. Não somos adivinhos! E em segundo lugar, porque mesmo que nossa opção fosse a que correspondesse à realidade, também não seria tão terrível como costumamos pensar. O que há de tão terrível em receber uma crítica? Pode ser algo irritante, desagradável… mas nunca algo para fazer um drama! – embora isso já seja outro assunto.

Portanto, deixe de gerar tanta tensão consigo mesmo. Você não é adivinho! Você precisa aprender a se apegar a dados reais e a não se deixar levar por suas próprias interpretações infundadas, essas que não têm validade até que sejam comprovadas. Enquanto isso, relaxe e viva o que você tem adiante.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.