Você sente culpa por descansar?
Vivemos uma época marcada pela velocidade, pela hiperprodutividade e pela obsessão pelo sucesso. Aderir a esses esquemas, conscientemente ou não, envolve nos sujeitar ao estresse. Sob pressão e com a ideia de que por mais que façamos muito, nunca será suficiente, é fácil sentir-se culpado por descansar.
Essa maneira de pensar é uma distorção da realidade. Além disso, essa é precisamente a razão pela qual o desconforto se instala quando os mandatos de produtividade não são seguidos. No fundo, pensar assim só confirma um discurso imposto que acaba se normalizando pelo sentimento de culpa por descansar.
“ O impulso de cada pessoa para trabalhar demais é único. Fazer muito pode entorpecer as emoções de cada workaholic de uma maneira diferente. Às vezes, o trabalho extra diminui a depressão, a raiva, a inveja ou a sexualidade.”
-Arlie Russell Hochschild-
Sentir culpa por descansar, por que isso acontece?
Expressões como “tempo é dinheiro”, “otimizar tempo”, “não perca tempo”, entre tantas outras, não são nada inocentes. Apontam para um discurso que busca se manter utilizando todas as ferramentas à sua disposição para alcançá-lo. Então, de um certo ponto de vista, o “normal” é se sentir culpado por descansar.
Isso porque há um mandato internalizado: que o tempo seja sempre “usado para fazer algo útil”. Felizmente, ainda hoje começa-se a reconhecer que esta produtividade extrema não é a mais adequada.
Uma pessoa se sente culpada por descansar quando acredita que está transgredindo uma regra “sacra”. É preciso pensar que as regras são legítimas quando contribuem para o bem-estar. Caso contrário, o que opera é uma obediência cega e autodestrutiva, que precisa ser reconsiderada.
Da mesma forma, não é incomum trabalhar demais para colocar um véu sobre outros aspectos da vida. Se outras dimensões não estão funcionando bem, estar ocupado o tempo todo ajuda a evitar ficar cara a cara com aspectos desconfortáveis da existência.
O peso do ambiente
O que em uma cultura pode ser considerado um defeito, em outra não. O mesmo acontece com o contexto social, político ou familiar. Dito de outra forma, uma norma é apenas um ponto de vista sobre algo, mas não é o único ou necessariamente o melhor.
Daí a necessidade de ser crítico da norma, mergulhar em seu significado, sua necessidade e seu valor. Atualmente, o lazer criativo é conhecido como qualquer atividade motivada por um interesse pessoal em crescer fora do ambiente de trabalho.
No entanto, na Grécia Antiga consistia no tempo gasto, especialmente pelos filósofos, para refletir sobre as questões importantes da vida. Estes incluíam aspectos relacionados com a sociedade, arte, saúde ou política, entre outros.
Por outro lado, foi comprovado repetidamente que quando uma pessoa responsável faz uso de sua liberdade, os melhores resultados são obtidos. Em outras palavras, o ideal é agir de forma autônoma e não pelo condicionamento de medos ou preconceitos.
Sentir-se culpado por descansar, na maioria dos casos, expressa condicionamento extremo.
Um círculo vicioso que se multiplica
A Organização Mundial da Saúde classificou o estresse como uma verdadeira epidemia deste século. Isso pode ser explicado, em parte, porque a ideia de estar permanentemente ocupado se tornou um comportamento obsessivo. Consideramos erroneamente que seremos melhores se aplicarmos essa regra.
Algumas pessoas não apenas se empurram para um nível irracional, mas esperam que os outros façam o mesmo. Soma-se a isso o fato de que até a forma de descansar foi padronizada e regulamentada. É uma boa ideia fazer uma pausa e se dar a oportunidade de ficar sozinho, ficar entediado e fazer atividades simples e até inúteis.
Caso contrário, esse comportamento compulsivo, mais cedo ou mais tarde, leva a um sentimento de infelicidade e estresse contínuo. Alguns estudos mostram que mais de 70% das pessoas desistem de socializar porque preferem estar fazendo algo “produtivo”.
Parar de sentir culpa por descansar
A corrida frenética para alcançar a “perfeição” nos faz esquecer que o descanso é necessário para preservar a saúde física e mental. Você se sente culpado por descansar por causa do fetiche associado a ganhar dinheiro mesmo durante o tempo de lazer.
Especialistas apontam que o descanso é pré-condição para a criatividade e necessário para ser realmente produtivo. Além disso, exaltam os benefícios da prática da meditação e do contato com ambientes naturais.
Uma pausa longe da tela nos aproxima de uma realidade mais genuína. Um cochilo ou um momento de meditação permite o acesso a uma nova forma de observar o mundo e estar nele. Quando uma pessoa se obriga a continuar trabalhando por muito tempo para não se sentir culpada por descansar, seu desempenho diminui.
Se você não descansar o suficiente, a exaustão se instala, como resultado de exceder os limites razoáveis. O descanso é uma necessidade biológica e psicológica para poder realizar qualquer atividade e é a única maneira de equilibrar as cargas que vêm com a vida cotidiana.
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Castañeda Aguilera, E. (2010). Adicción al trabajo (workaholism): Patología psicosocial del siglo XXI. Salud de los Trabajadores, 18(1), 57-66.