A sabedoria a partir do ponto de vista da psicologia

A sabedoria, que costuma ser entendida como um produto exclusivo da experiência, na verdade vai além disso. Neste artigo, apresentaremos definições dadas por diferentes autores, como Sternberg, que desmistificam certas ideias mas ainda não resolvem o problema da sua medição.
A sabedoria a partir do ponto de vista da psicologia

Última atualização: 08 maio, 2020

A sabedoria, muito além da concepção popular, já foi investigada por diferentes especialistas estudiosos da inteligência e da psicologia. A sabedoria pode até mesmo ser desenvolvida em termos científicos, o que é feito de uma forma um pouco diferente em relação à simples atribuição de conhecimento que costumamos dar para as pessoas mais velhas.

Neste artigo, vamos falar sobre o que a ciência da psicologia entende quando falamos em sabedoria. Um conceito difícil de estudar por ter limites difusos e também pela dificuldade do próprio método científico em acessar elementos internos e menos objetivos.

Reflexo de homem no céu

O que é a sabedoria segundo a psicologia?

A sabedoria pode ser definida como a posse, em um nível especialista, de um conjunto de conhecimentos adquiridos sobre o pragmatismo da vida. Muitos foram os autores que se dedicaram a identificar os componentes associados à sabedoria.

Os componentes que geralmente se agrupam em torno da sabedoria são:

  • Habilidades interpessoais: nível de conhecimento, sensibilidade e sociabilidade na hora de se relacionar com outras pessoas. As habilidades interpessoais levam a pessoa a se adequar às necessidades do seu interlocutor e a se expressar de forma mais eficaz na interação com o outro.
  • Habilidades de julgamento e comunicação: a sabedoria, que costuma se relacionar com a experiência, implica conhecimento e aconselhamento. Por isso, as pessoas sábias são indivíduos capazes de aconselhar os outros sobre problemáticas e dar soluções pragmáticas nas quais os outros não pensariam tão facilmente.
  • Compreensão: as pessoas sábias, por terem sido capazes de lidar com suas emoções durante as suas experiências de vida, são indivíduos que costumam compreender o outro e empatizar.
  • Competência geral: esse seria o componente mais conhecido ou atribuído à característica de ser sábio. As pessoas sábias são inteligentes, cultas, têm bastante conhecimento em diferentes campos e sabem como comunicá-lo.

A sabedoria implica obrigatoriamente a posse de conhecimentos?

Os especialistas dizem que os dois fatores mais relevantes para a sabedoria são a compreensão excepcional e as habilidades de julgamento e comunicação. Por isso, podem existir pessoas que sejam sábias mas que, pela história de vida, não possuam grandes conhecimentos sobre o mundo.

Todos os componentes citados anteriormente apelam, portanto, para um constructo de sabedoria que alude a aspectos afetivos e interpessoais. Dito de outra maneira, uma definição que vai além do cognitivo.

A sabedoria segundo Holliday e Chandler (1986)

Para esses dois autores, a sabedoria implica sagacidade, consideração, envolvimento com os outros, perspicácia, intuição, conhecer as próprias limitações, experiência, mente lógica e racional, boa resolução de problemas e capacidade de aprender com os erros. A pessoa sábia busca informações e usa bem os dados de que dispõe.

A definição de Holliday e Chandler tem uma tendência maior a relacionar a sabedoria com os fatores cognitivos e habilidades que permitem que uma pessoa resolva problemas de maneira adequada e muitas vezes até brilhante.

A sabedoria segundo Sternberg (1985)

Sternberg, por outro lado, define o sábio como alguém sensível, sociável, com boas habilidades de julgamento e comunicação, que compreende a vida, que aprende com a experiência e é capaz de conjugar diferentes pontos de vista.

Além de todas essas habilidades interpessoais e emocionais, também define a pessoa sábia como alguém inteligente, que cultiva a si mesmo e tem grandes competências de uma forma geral.

Como podemos analisar a sabedoria a partir da ciência da psicologia?

Nós somos capazes, de um certo modo, de avaliar o nível de uma pessoa no que diz respeito à sabedoria através de testes padronizados e procedimentos qualitativos. Há dois grandes grupos de testes ou tarefas:

  • Tarefas de planejamento: a tarefa envolve a apresentação à pessoa de um problema diante do qual ela deve tomar uma decisão. Essa decisão diz respeito à vida em circunstâncias determinadas. Pode ser uma pessoa mais jovem, com aspectos diferentes que devem ser levados em consideração na hora de tomar uma decisão. Nessa tarefa, a pessoa responde em voz alta com um plano que descreva o que poderia ser feito, qual seria o impacto da decisão nos anos seguintes e que outras informações seriam necessárias para tomar a decisão que podem não estar na apresentação da tarefa em um primeiro momento.
  • Tarefas de revisão: diferentes situações são propostas, protagonizadas por diversas pessoas que escolhem caminhos distintos em uma encruzilhada. O avaliado deve analisar as decisões tomadas, reavaliando-as em voz alta. Há uma reconstrução e uma avaliação do que os protagonistas diriam nas situações.

Exemplo de tarefa: João quer se casar

Um exemplo de tarefa para avaliar a sabedoria poderia ser a seguinte:

“João é um menino de 18 anos que decide se casar com seu namorado, ainda que o conheça há apenas nove meses”.

Baseando-se nesse enunciado, a pessoa deve pensar em voz alta o que João deve analisar para tomar essa decisão. Reconstrói, a partir do ponto de vista de João, a história, os momentos da história, as possíveis explicações que levaram João a tomar essa decisão e as avaliações que podem ser feitas da mesma.

Garota preocupada

É possível treinar a sabedoria?

Muito são os autores que falaram dos componentes da sabedoria, ainda que sejam poucos os que concordem em tudo sobre ela. No entanto, isso não resolve o problema da análise de como uma pessoa pode melhorar esses componentes – mesmo falando daqueles sobre os quais se tem um consenso maior.

Por exemplo, o que deve ser trabalhado e que merece um peso maior na hora de tomar decisões são o contextualismo, o relativismo e a incerteza. O único fator da tomada de decisões sobre o qual já conseguiram realizar um treinamento foi o relativismo, e a calma ou a tranquilidade que ele oferece.

Não obstante, ainda parece muito arriscada a meta de treinar a sabedoria.

O que escapa à ciência?

Uma parte que os testes padronizados muitas vezes não conseguem medir são os fatores emocionais e emotivos. As tarefas são boas na hora de avaliar diferentes dimensões da inteligência, como pode ser o caso da inteligência lógico-matemática ou da inteligência espacial.

Por outro lado, até hoje ainda sobrevivem várias definições de sabedoria sem que exista um consenso muito amplo ao redor de uma delas. É um campo ainda aberto e, por isso, é uma área complicada de se medir.

Essa disparidade na hora de avaliar a sabedoria pode nos levar a atingir resultados muito enviesados dependendo do método, do grupo ou da teoria por trás dos estudos científicos realizados.


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