A vontade de poder em Nietzsche

A vontade de poder em Nietzsche
Laura Llorente

Escrito e verificado por a filósofa Laura Llorente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Nietzsche foi um dos filósofos mais importantes do século XIX, juntamente com outras figuras proeminentes, como Sigmund Freud e Karl Marx. Esses pensadores foram chamados de “filósofos da suspeita” por seu desejo de desmascarar a falsidade escondida sob os valores ilustrados da racionalidade e da verdade. Hoje, falaremos especificamente sobre a vontade de poder em Nietzsche.

Segundo Nietzsche, a cultura ocidental está viciada por ter procurado estabelecer a racionalidade em todos os aspectos da vida.

Desde os primórdios da cultura ocidental na Grécia, a racionalidade representa um sintoma de decadência. Tudo que se opõe aos valores da existência instintiva e biológica do homem é decadente.

Para entender a filosofia nietzschiana, não devemos nos esquecer da sua dura crítica a Platão por postular o mundo das ideias. Sua filosofia rejeita essas armadilhas metafísicas: o mundo racional, o mundo moral e o mundo religioso.

O princípio fundamental da teoria nietzschiana é o conceito de vida. Para compreender o que esse pensador entendia como “vida”, não se deve perder de vista a negação absoluta do mundo racional platônico.

Nietzsche e o conceito de vida

Para o filósofo alemão, a vida é baseada em dois princípios básicos: o princípio da conservação e o princípio do aumento.

Ele afirma que só existe vida na medida em que esta se conserva. É claro que essa capacidade de conservação se deve ao movimento constante, à necessidade de aumento. Se o que se conserva não aumenta, morre. A vida se conserva porque aumenta graças à conquista do que nos faz ter mais vida.

Todo esse espaço vital, cujos princípios temos ecoado, é entendido como a vontade de poder.

Quadro de Salvador Dalí

Os dois princípios vitais da filosofia nietzschiana são a conservação e o aumento. Se não tentarmos aumentar o que temos, não podemos manter o que temos.

A vontade de poder em Nietzsche

A vontade de poder é a mesma evolução da vida. Pode-se até dizer que a vida é a vontade de poder porque é ela que conquista o que ansiamos, que tenta obter o que queremos e que domina o que possuímos.

A vontade de poder é a vida ejetada em direção a um horizonte em que encontramos e obtemos o que queremos. Portanto, quer coisas e quer aumentar o que tem.

No entanto, é essencial dizer que a vontade de poder, antes de querer qualquer coisa, deve querer a si mesma; só assim vai querer aumentar o que possui para manter o que já tem.

Imagine que queremos comprar um carro, mas, no momento em que queremos, não temos liquidez suficiente para obtê-lo. A conservação desse desejo só será possível se trabalharmos para tentar aumentar nossas economias, a fim de pagar pelo carro desejado.

Se não fizéssemos nada para atingir esse objetivo, esse desejo desapareceria como um desejo e como uma motivação.

A vontade de poder quer a si mesma

Uma vez que a vontade de poder quer a sua própria conservação, também entende que tudo o que conquistou não será capaz de mantê-la se apenas a conservar. Para conservar, devemos aumentar, devemos continuar a conquistar terreno.

A vontade de poder é intencional e projetada para o mundo da vida, o único lugar onde você pode conseguir o que quer. A natureza dessa vontade é o movimento, nunca parando, continuando a se expandir.

Segundo Nietzsche, se nos contentarmos com o que temos neste momento e não tentarmos aumentá-lo, morremos (no sentido metafórico de que a vontade de poder petrifica).

“Não há fatos. Existem apenas interpretações “.

A manipulação ideológica

Onde, então, reside a verdade? Para o filósofo alemão, está claro que se encontra na vontade de poder. Existe uma relação muito próxima entre verdade e poder.

Imaginemos que um determinado meio de comunicação publique uma notícia pela manhã. Todos os outros meios de comunicação farão o mesmo, e cada um contará a história sob a perspectiva de sua ideologia.

É provável que cada pessoa tome como verdade o “fato” publicado pelo meio de comunicação que melhor se ajuste às suas ideias.

Agora imaginemos que, dadas as diferentes versões da mídia, surja uma controvérsia e, à noite, pessoas de vários meios de comunicação se reúnam para discutir o que é, para eles, a verdade do que aconteceu (as verdades colidem precisamente porque existem apenas interpretações dos fatos).

É neste momento que uma mente crítica compreenderá que a verdade é a filha do poder.

Assim sendo, é óbvio que a verdade hegemônica será sempre apoiada pelo poder, pois é uma poderosa expressão da vontade que quer aumentar para se conservar (para entender isso, vamos pensar nos regimes totalitários cuja verdade era a Verdade).

Para Nietzsche, toda vontade de poder que não tenha a intenção de aumentar para se conservar é apenas uma vida imbuída de nada: o que entendemos hoje por niilismo (a palavra niilismo vem do latim nihil, pronome indefinido indefinido que significa “nada”).


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