Vortioxetina: um antidepressivo de última geração

A vortioxetina é um medicamento de ação multimodal de última geração que possui ação antidepressiva, além apresentar efeitos na ansiedade e desempenho cognitivo.
Vortioxetina: um antidepressivo de última geração
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

A vortioxetina é um antidepressivo de última geração com ação multimodal que foi aprovado em 2013.

Ela se trata de um novo antidepressivo que possui um perfil único, pois atua como um agente serotoninérgico multimodal. Sua eficácia no transtorno depressivo maior foi estabelecida em estudos de curto e longo prazo.

Além disso, a capacidade desse medicamento de modular uma ampla gama de neurotransmissores (serotonina, dopamina, norepinefrina, histamina, glutamato ou GABA) confere efeitos procognitivos à vortioxetina. Por outro lado, os efeitos colaterais também diferem dos antidepressivos convencionais, pois apresentam uma baixa incidência de disfunção sexual, ganho de peso ou distúrbios cardiovasculares.

Transtorno depressivo maior (TDM)

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) afeta a maneira como as pessoas se sentem, pensam e se comportam. Os principais sintomas são sentimentos persistentes de tristeza e perda de interesse pelas atividades que a pessoa gostava antes (anedonia).

Esse transtorno de humor não é frequentemente reconhecido ou tratado, o que pode ter consequências trágicas como suicídio e deterioração das relações interpessoais.

Quanto à sua etiologia os fatores são múltiplos, embora a nível geral ela esteja relacionada a uma combinação de fatores genéticos, ambientais, biológicos e fisiológicos.

As estimativas atuais afirmam que as mulheres têm 70% mais probabilidade de apresentar TDM do que os homens.

Por outro lado, homens e mulheres experimentam os sintomas da depressão de maneiras diferentes. As mulheres sentem mais sentimentos de culpa, tristeza e inutilidade, enquanto os homens tendem a ficar irritados, cansados e perder o interesse em atividades que antes eram agradáveis para eles.

Mulher com depressão.

Opções de medicamentos para TDM

Existem mais de trinta opções de terapia medicamentosa disponíveis para a depressão unipolar. Algumas delas são os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs), antidepressivos tricíclicos (TCAs) ou inibidores da recaptação da serotonina-norepinefrina (SNRIs).

Existem também a bupropiona, antagonistas e inibidores de recaptação de serotonina, antipsicóticos de segunda geração, inibidores da monoamina oxidase (IMAO), inibidores da recaptação da norepinefrina e tetracíclicos.

A falta de resposta aos tratamentos antidepressivos disponíveis é um dos grandes desafios da psiquiatria. Até 1/3 dos pacientes com transtorno depressivo maior (TDM) não obtêm uma resposta completa ao tratamento, e sintomas cognitivos residuais são observados inclusive nos pacientes em remissão.

Levando essa necessidade em consideração e graças aos avanços no conhecimento dos circuitos neurais envolvidos no TDM, cada vez mais teorias estão surgindo para explicar a depressão além da atividade serotonérgica.

O sistema monoaminérgico, que inclui as vias serotonérgicas, noradrenérgicas e dopaminérgicas, está disseminado no cérebro, e já é sabido que suas muitas interconexões desempenham um papel importante nos transtornos de humor.

Esse conceito mais inclusivo tem motivado a busca por medicamentos que modulem os neurotransmissores envolvidos na regulação do sistema monoaminérgico, como o glutamato ou o ácido gama-aminobutírico (GABA). E é justamente a partir desse interesse que a vortioxetina foi desenvolvida.

Vortioxetina: ação multimodal

A vortioxetina é um antidepressivo com ação multimodal, o que lhe confere um perfil único. Sua eficácia antidepressiva foi demonstrada em vários estudos.

Esse medicamento apresenta um mecanismo de ação único e complexo. Assim como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs) convencionais, ele pode aumentar os níveis de serotonina ao inibir os transportadores de serotonina (SERTs).

No entanto, sua ação sobre os diferentes subtipos de receptores 5HT lhe confere propriedades características, o que a leva a ser considerada como um antidepressivo multimodal. Além disso, sua capacidade de modular vários neurotransmissores (serotonina, dopamina, norepinefrina, histamina, glutamato e GABA) permite que ela atue em domínios como a cognição.

Por outro lado, seu perfil de efeitos colaterais é diferente do de outros antidepressivos convencionais. Isso porque ele está relacionado a uma baixa incidência de disfunção sexual, ganho de peso ou distúrbios cardiovasculares.

Mulher tomando um comprimido.

A relação entre vortioxetina e cognição

A vortioxetina é uma boa alternativa no tratamento dos déficits neurocognitivos no TDM, de acordo com estudos pré-clínicos e clínicos. Este antidepressivo melhora as dificuldades para aprender e previne déficits de aprendizagem induzidos pelo estresse.

Existe um efeito positivo da vortioxetina nos déficits de flexibilidade cognitiva, um dos principais sintomas cognitivos no TDM. Também foi observado um efeito positivo na memória, maior do que com o escitalopram ou a duloxetina.

Além disso, a vortioxetina promove a neuroplasticidade mais rapidamente do que os outros SSRIs. Em estudos clínicos ela demonstrou não ter efeitos negativos na cognição.

As análises indicam que este medicamento não parece atuar em um domínio cognitivo específico, mas sim em uma ampla variedade de domínios, e que é mais útil em pacientes que têm um emprego ativo.

A vortioxetina demonstrou ser um tratamento inicial e de manutenção eficaz para o transtorno depressivo maior.

Além disso, ela parece ter um perfil mais seguro em comparação com os outros antidepressivos tradicionais. No entanto, as taxas de náusea tendem a ser numericamente mais altas nos estudos com a vortioxetina. Com uma eficácia e tolerabilidade estabelecidas em vários ensaios clínicos, a vortioxetina pode ser considerada uma alternativa a outros antidepressivos disponíveis no mercado.


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