A atenção: uma faculdade mental decisiva, segundo vários pensadores

A profundidade e a intensidade com as quais vivemos dependem, em grande parte, da atenção que damos para cada experiência. Atualmente, os estímulos são tantos que deixamos de prestar atenção e acabamos fragmentando a nossa consciência.
A atenção: uma faculdade mental decisiva, segundo vários pensadores
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 25 janeiro, 2021

A atenção é uma faculdade humana essencial não apenas para a aprendizagem, mas também para a própria vida. Nos dias de hoje, tudo parece conspirar para impedir que estejamos atentos. Recebemos muitos estímulos de uma só vez e isso faz com que a nossa consciência fique fragmentada, de modo que focar em algo pode se tornar uma tarefa imensa.

Quase todas as atividades que realizamos são interrompidas constantemente. Quando paramos para pensar, percebemos que são raras as vezes em que conseguimos realizar uma sequência de ações completa, de forma contínua. Quando iniciamos uma tarefa, não demora até surgir alguma notificação no celular ou ouvirmos algum barulho que tire a nossa atenção. As distrações estão disponíveis a todo instante.

“O amor instrui os deuses e os homens, porque ninguém aprende sem querer aprender. A verdade é buscada não como verdade, mas como bem. A atenção está ligada ao desejo. Não à vontade, mas ao desejo. Ou, mais exatamente, ao consentimento ”.
-Simone Weil-

O exemplo mais claro da nossa falta de atenção é o celular, que verificamos várias vezes, ainda que sem motivo. No entanto, essa relação ansiosa com o celular é apenas a ponta do iceberg dos problemas que temos quando tentamos ficar realmente atentos às coisas. Nos dias de hoje, estamos programados estruturalmente para nos distrairmos com facilidade. Nossos pensamentos e nossos sentimentos são erráticos em boa parte do tempo. 

A contribuição de William James

William James foi um dos pioneiros na psicologia e um dos pesquisadores que mais estudaram o tema da atenção. Ao contrário do que pensavam muitos de seus contemporâneos, James ressaltou que as experiências que vivemos só podem ser convertidas em experiências de fato se forem mediadas pela atenção. Não estar atento ao que se vivencia é o mesmo que não vivenciar.

Ele ressaltou que aquilo que chamamos de real não é nada além do que aquilo a que damos atenção. Se as coisas são válidas para nós, é porque lhes damos atenção; caso contrário, é como se não existissem. Portanto, a realidade que percebemos é sempre uma realidade que nós mesmos delimitamos. Decidimos focar nossa atenção em certos aspectos, ignorando outros. Dessa forma, a atenção é o que define totalmente a nossa consciência.

William James
William James

Para William James, os gênios são caracterizados pela sua capacidade de manter e sustentar a atenção. Ele sugere que toda pessoa capaz de se concentrar de maneira decisiva em um assunto pode se tornar alguém com domínio e maestria acima da média. Seja por força de vontade ou por interesses espontâneos, o fato é que seguir constantemente uma linha de raciocínio faz com que tenhamos um conhecimento profundo sobre o assunto, abrindo caminho para a criatividade, a invenção e a descoberta.

A atenção monetizada

Hoje em dia, a atenção das pessoas é um bem que gera dinheiro. Há muito tempo deixamos de ser pessoas, indivíduos ou sujeitos e passamos a ser “usuários”. E a atenção dos usuários é um fator capitalizável. Os likes , a busca por certos conteúdos e o público-alvo são coisas com as quais alguém acaba capitalizando. O mercado disputa a nossa atenção.

E é justamente no mercado que está a primeira fonte de bombardeio dos nossos estímulos. Toda a economia digital tem como pilar reter a atenção das pessoas. Essa é uma rede na qual, infelizmente, caímos com frequência. Se há uma coisa que nos distrai nos dias de hoje é todo esse mundo digital cheio de notícias virais, redes sociais e comunicação frenética.

O resultado disso é que a consciência fica dispersa. E quando a consciência está dispersa, nossas vivências também estão. É quando passamos por milhares de situações cotidianas e nenhuma delas se torna uma experiência plena. Nesses casos, percebemos tudo por alto, sem notarmos elementos ou aspectos específicos. É como se olhássemos sem enxergar, ou como se ouvíssemos sem escutar.

Como manter a atenção

A atenção: um objetivo

Sim, é possível nutrir e disciplinar a atenção. Não é uma questão de força de vontade, nem algo que se induz à força. Todas as filosofias orientais falam da importância que a atenção plena possui, promovendo métodos para desenvolvê-la. O primeiro desses métodos é a meditação.

As crianças, quando estão descobrindo o mundo, são muito atentas a tudo que as cerca. Elas são capazes de passar muito tempo examinando um brinquedo ou observando o comportamento de outras pessoas. Prestar atenção é um exercício de contemplação que é acompanhado pela capacidade de se surpreender e pelo interesse em descobrir.

Além da meditação, a melhor forma de desenvolver a atenção é reduzir o número de estímulos de forma consciente. Ou seja: trabalhar para desativar a tendência de acumular informações, amigos, conhecimentos, etc. É menos quantidade e mais qualidade. Menos barulho e mais silêncio. Menos vivências superficiais e mais experiências plenas.


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  • Estévez-González, A., García-Sánchez, C., & Junqué, C. (1997). La atención: una compleja función cerebral. Revista de neurología, 25(148), 1989-1997.

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