A carga mental na maternidade

O que é carga mental? como ela nos afeta? O que isso tem a ver com a distribuição de tarefas no cuidado das crianças? Neste artigo te contamos!
A carga mental na maternidade
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 14 outubro, 2022

Tente responder a esta pergunta: como está distribuída a carga de trabalho em sua casa e em sua família? Muitos casais são rápidos em responder que as tarefas são divididas igualmente por ambos os parceiros: um cozinha e o outro lava, um dá banho nas crianças e o outro lhes dá o jantar. À primeira vista, a situação parece justa e equilibrada, mas quem realmente carrega o fardo mental?

Se formos além da análise superficial, veremos que um lar não se sustenta apenas por esforços físicos. Manter a dinâmica diária requer um esforço mental deliberado para planejar, organizar, antecipar e tomar decisões. E essa tarefa geralmente recai principalmente sobre as mulheres.

Se nos atermos aos afazeres domésticos da vida a dois, já é comum observar desequilíbrios. No entanto, quando uma família é formada, quando os filhos chegam, essa lacuna aumenta e a carga mental assumida pelas mães é muito maior do que a dos pais. Exploramos essas diferenças abaixo.

Mulher exausta de estresse
A carga mental na maternidade pode gerar estresse e ansiedade.

Qual é a carga mental na maternidade?

A carga mental a que nos referimos inclui todos aqueles processos prévios e invisíveis que são necessários para poder realizar tarefas físicas. Por exemplo, em uma empresa, um funcionário está limitado a chegar ao seu trabalho e cumprir sua missão. Porém, por trás dele está todo o trabalho realizado por um analista ou grupo de analistas: analisar, processar informações, planejar, organizar, traçar metas, antecipar possíveis falhas e soluções, distribuir tarefas…

Quando traduzimos isso para o dia a dia do lar e da família, ambos os membros são “empregados”, trabalhadores que realizam tarefas visíveis. Mas, além disso, as mulheres cumprem uma dupla função, pois todas essas tarefas de gestão recaem sobre elas. Para diferenciar os dois conceitos, vejamos alguns exemplos. Os trabalhos físicos e visíveis podem ser os seguintes:

  • Lavar roupas.
  • Preparar o jantar.
  • Colocar o bebê para dormir.
  • Levar a criança à escola ou ao médico.
  • Limpar o chão.

Por sua vez, a carga mental se reflete em tarefas da seguinte natureza:

  • Lembrar em que dia e hora é a consulta médica.
  • Planejar menus e refeições semanais.
  • Identificar e reabastecer os produtos necessários que estão acabando.
  • Assinar a autorização para a viagem escolar de uma criança.
  • Organizar as roupas para que as crianças tenham as necessárias disponíveis quando chegarem as atividades que as exigem.

As consequências da carga mental sobre a mulher e o casal

Como podemos ver, a primeira parte das tarefas pode ser distribuída igualmente, mas não a segunda parte. De fato, a ideia de que essa tarefa corresponde à mulher é tão normalizada que até se espera que seja ela quem diga ao parceiro o que fazer.

Não se espera que tenham esta iniciativa, que se envolvam igualmente nas necessidades familiares e que saibam antecipar, organizar e assumir este trabalho mental. Estamos falando de um fato que tem consequências a vários níveis.

Estresse e ansiedade

Sem dúvida, assumir o fardo de uma vida familiar é pesado. Cuidar das necessidades de cada membro, organizar para que tudo corra como um relógio, lembrar compromissos e datas, antecipar, decidir e resolver é um trabalho de tempo integral. Mas, além disso, hoje muitas mulheres devem combinar esse trabalho com um trabalho fora de casa.

As mulheres ingressaram no mercado de trabalho, mas a divisão das tarefas e responsabilidades domésticas não progrediu de acordo. Por esse motivo, é comum que muitas delas se sintam saturadas, sobrecarregadas e estressados no dia a dia. Uma situação que se agrava significativamente quando as crianças nascem, e é que o trabalho mental se multiplica exponencialmente para cumprir seus cuidados e educação.

Invisibilidade

Um dos aspectos mais difíceis da carga mental é que ela é invisível. Ninguém nota ela, quão importante ela é e quão cansativa ela é. Muitas mulheres nem percebem que estão realizando sozinhas uma tarefa que deve ser compartilhada, simplesmente assumem que isso é natural. Além disso, o meio ambiente não reconhece nem valoriza o tempo e a energia investidos neste cuidado.

Problemas de casal

Essa situação não é apenas desvantajosa para a mulher, mas para ambos, pois pode facilmente levar a discussões entre o casal. A exaustão, o sentimento de iniquidade e a desvalorização do próprio trabalho podem gerar insatisfação e ressentimento e acabar alienando ambas as pessoas.

Casal discutindo na sala de estar
A percepção de que todo o trabalho e esforço envolvidos na carga mental não são valorizados pode causar problemas de relacionamento.

Dividir a carga mental em casa e na maternidade

Para evitar as consequências descritas, é fundamental estar ciente de que a carga mental existe e começar a distribuir essa responsabilidade de forma justa. Embora existam diferentes maneiras de conseguir isso, uma das mais simples é dividir as responsabilidades em áreas (por exemplo: cozinhar, saúde, pós-escola, higiene…) tanto física como mentalmente.

Assim, “cozinhar” não consistirá apenas em preparar refeições, mas também em planejar cardápios e comprar comida. E a “saúde” não consistirá apenas em levar as crianças ao médico, mas também em saber quando as visitas devem ser feitas e marcar uma consulta. Com esta divisão de tarefas a um nível mais profundo e completo, se criará uma situação mais justa e satisfatória que beneficiará todo o núcleo familiar.


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