A falta de sono reduz a empatia, de acordo com um estudo

O que acontece quando não descansamos bem? Como a falta de sono afeta nossa empatia? Uma pesquisa recente da Universidade da Califórnia nos oferece dados muito interessantes em resposta a essas perguntas.

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 19 setembro, 2022

A falta de sono tem efeitos significativos na saúde física e mental. Agora, uma nova investigação indicou que essa falta de descanso também tem uma consequência insuspeita: a redução da empatia.

A ciência coletou dados relevantes sobre os efeitos da falta de sono. Esta condição é conhecida por aumentar a concentração de um neuromodulador chamado adenosina. Isso aumenta a sensação de fadiga e causa uma redução nas habilidades cognitivas. Houve até testes em que pessoas que não dormem bem reagem como se tivessem um nível de álcool no sangue de 0,6 gramas por litro de sangue.

Sabe-se também que algumas pessoas sofrem menos com os efeitos da falta de sono, enquanto em outras têm efeitos negativos muito perceptíveis após uma noite ruim. O que é certo é que esta nova pesquisa mostra que mudanças visíveis no comportamento social também ocorrem quando você não descansa adequadamente.

O estudo da privação do sono

A pesquisa sobre os efeitos da privação do sono foi realizada pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos, em 2022, e publicada na revista PLoS Biology. A equipe de cientistas foi liderada pelos doutores Eti Ben Simon e Matthe Walker.

Os pesquisadores realizaram o estudo a partir de três experimentos. No primeiro deles recrutaram 24 voluntários. Todos concordaram em fazer uma ressonância magnética depois de dormir oito horas por noite e outra depois de passar a noite em claro.

Os cientistas descobriram que havia uma mudança notável nas redes cerebrais associadas à empatia, quando você dormia bem e quando não dormia nada. O líder da investigação, Eti Ben Simon, destacou a esse respeito: “a rede estava visivelmente prejudicada, como se essas partes do cérebro não respondessem quando tentamos interagir com outras pessoas depois de não termos dormido o suficiente”.

Um novo experimento

Após a abordagem inicial do assunto, com o primeiro experimento, os cientistas fizeram um teste adicional. Para isso, foram recrutados 136 voluntários, homens e mulheres. Todos eles foram solicitados a manter um “diário do sono” por quatro dias. Da mesma forma, todos tiveram que responder a um questionário pela manhã.

O teste incluiu perguntas sobre a vontade de se solidarizar com os outros, como: “Você ajudaria uma mulher que carrega sacolas pesadas de compras?”, “Você tiraria um tempo para ajudar essa pessoa?”, “Você levaria para casa um colega que perdeu o ônibus de volta? Os resultados indicaram que quanto menos as pessoas dormiam, menos dispostas estavam a ajudar os outros.

Dessa forma, verificou-se que os resultados de ambos os experimentos coincidiram no mesmo ponto: a falta de sono reduziu o desejo de ajudar os outros e, de fato, a capacidade emocional de fazê-lo.

O terceiro experimento

Para corroborar os dados obtidos até agora, os pesquisadores fizeram um terceiro experimento. Nele, foi extraído um banco de dados de mais de três milhões de doações beneficentes nos Estados Unidos, entre 2001 e 2016. Eles se concentraram em observar se a mudança de horário no verão afetava “a generosidade” das pessoas.

Como se sabe, ao fazer a mudança do horário de inverno para o horário de verão, perde-se uma hora de sono. Os cientistas queriam estabelecer se havia uma correlação entre essa diminuição e o volume de doações. Mais uma vez, os dados apoiaram sua hipótese: que uma hora de perda de sono fez com que as pessoas doassem, em média, 10% menos.

Os pesquisadores também descobriram que essa mudança não foi observada em estados onde não houve mudança de horário. Nem quando se passou do horário de verão para o horário de inverno e, portanto, havia mais uma hora para dormir.

Novos estudos são necessários para estabelecer por que esse fenômeno ocorre e se a situação oposta, maior repouso do que o habitual, produz o efeito contrário. De qualquer forma, a conclusão que se tira é que a falta de sono, mesmo que escassa, modifica o comportamento social das pessoas. Em particular, reduz a empatia.