A moralização, uma forma de violência

A moralização é uma forma de violência psicológica pois visa impor um discurso de valores pela via da aprovação e reprovação. Sustenta-se na geração de sentimentos de culpa nos outros, e não na construção de convicções éticas.
A moralização, uma forma de violência
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 02 julho, 2020

A moralização é uma forma de violência psicológica que costuma passar despercebida. Impor valores ou princípios, quando estes são compartilhados, em muitos casos é uma ação aplaudida. Assim, por vezes, atitudes agressivas e humilhantes podem chegar a ser admiradas e defendidas.

Há um pretexto favorito para aqueles que recorrem à moralização: o fazem pelo bem de todos. Querem que os outros se ajustem a determinados valores, mesmo que os meios utilizados sejam reprováveis. Se os destinatários da agressão não obedecem, frequentemente se tornam objeto de críticas, desprezo, denúncias públicas e perseguições.

Em geral, o ciclo da moralização começa com atitudes paternalistas. Pessoas vendendo conselhos com pouca informação e que ninguém está lhes pedindo. Avaliam o outro como se existisse uma varinha mágica que privilegiasse seu julgamento.

O fato mais desconcertante é que esse tipo de atitude é bastante característico de pessoas que não são exatamente um modelo de comportamento.  No entanto, elas costumam ocupar um cargo ou ter uma posição que, para elas, confirma a ideia de que são melhores que os demais.

“Aquele que não usa sua moralidade como se fosse sua melhor roupagem estaria melhor desnudo”.
-Khalil Gibran-

A moralização e a submissão

A principal característica da moralização é que quem a usa busca impor padrões de comportamento aos outros. A palavra-chave na dinâmica que descrevemos é exatamente esta: impor. A pessoa procura fazer com que seu discurso axiológico, ou de valores, seja adotado pelos outros, por uma simples e incontestável razão: isto é o que “deve” ser adotado.

Quem se utiliza desse tipo de atitude acredita que é portador de um tipo de superioridade moral. Porque é pai ou mãe, ou porque é chefe, psicólogo, padre, ou simplesmente porque tem mais habilidade verbal que os outros. Às vezes, pensa que ocupar essas posições ou cargos lhe concede patente para influenciar a conduta dos outros. E isso não é verdade.

A moral e a ética, quando são autênticas, devem contar com a reflexão e a convicção. Elas não são adotadas por pressão, nem são praticadas por medo ou coação. É verdade que durante a infância as crianças precisam da orientação dos pais para se integrar de forma construtiva à sociedade e à cultura. No entanto, há uma grande diferença entre educar e moralizar. O primeiro conceito visa criar consciência. O segundo, controlar.

Culpar o outro

A violência associada à moralização

A moralização contém em si mesma uma forma de violência psicológica. Em princípio, porque considera o outro moralmente inferior.  Esse tipo de hierarquia é completamente artificial. Quem pode dizer que um ser humano é moralmente superior a outro? Há plena certeza de que um é mais coerente eticamente que o outro? São completamente nítidas as motivações e intenções que regem suas condutas?

Não são poucos os casos de líderes religiosos que têm duas caras. Sobre os políticos, é melhor nem falar. A mesma coisa acontece com pais, professores, etc. Inclusive, se essas figuras fossem plenamente consistentes com o que pregam, sua primeira demonstração de elevação moral seria a capacidade de respeitar a individualidade e a integridade do outro.

Por outro lado, é preciso observar que esse tipo de conduta não se restringe somente a um discurso e a uma atitude proselitista. É comum que seja acompanhado por gestos de aprovação ou reprovação. Isso já entra no terreno da manipulação, algo que também agride o outro.

Mulher desesperada

Outras características

A moralização costuma aparecer acompanhada de outras condutas relativas ao controle e à falta de respeito. Por exemplo, é comum que os moralizadores se sintam no direito de interrogar ou questionar o outro. Aonde você vai? O que vai fazer? Por que você fez isso ou aquilo? O que você está me escondendo? Etc.

Também é comum que falem em tom imperativo. “Faça isso”. Querem mandar porque é uma forma de construir e ratificar sua suposta superioridade. Da mesma forma, normalmente se autoatribuem o direito de interpretar as ações do outro: “Você fez isso simplesmente porque era mais confortável para você”, etc.

O mais grave é que também ridicularizam, menosprezam e tentam repreender quem não pensa ou não se comporta como eles. Seu objetivo é provocar sentimentos de vergonha e culpa. Não tanto porque estejam verdadeiramente preocupados com a moral dos outros, mas porque querem que seu discurso se transforme na lei e que eles sejam os juízes. No entanto, a verdadeira moral não tem nada a ver com isso.


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  • Cubillos, S. Raíces Y Razones de la Violencia: cultuRa, podeR, géneRo. www.gacetauniversitaria.cl, 439.

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