A raiz do ciúme

O ciúme é um sentimento normal: não se deve reprimi-lo, mas sim resolver as causas por trás dele.
A raiz do ciúme
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Yamila Papa

Última atualização: 22 dezembro, 2022

“Se ele(a) está com ciúme, é porque te ama”, “eu sou ciumento(a) porque te amo”, “preocupe-se quando ele(a) parar de sentir ciúme, porque isso significa que ele(a) não está mais apaixonado(a) por você”... Estas são frases que todos nós certamente já ouvimos (e até mesmo dissemos em algum momento). Poucas emoções se tornam tão complexas quanto o ciúme, no qual revolvem sentimentos díspares e sempre intensos.

No entanto, devemos ter isso claro: o ciúme não é uma demonstração de amor. Na verdade, ele é uma resposta emocional ao medo de perder algo. Ao mesmo tempo, supomos que esse algo nos pertence, que é nossa propriedade. Uma ideia que é, sem dúvida, altamente preocupante e negativa.

O rival do ciúme não é alguém de “carne e osso”, mas sim a imagem do que a pessoa gostaria de ser…

O ciúme é um sinal de alarme que nos informa da existência de um perigo. Assim, esse risco nada mais é do que o medo de perder o afeto de alguém que amamos. Trata-se de realidades emocionais que geralmente são acompanhadas por sensações intensas, tais como abandono e exclusão; experiências internas que, como esperado, são vivenciadas de forma extrema e dolorosa.

É possível ter ciúme de muitas coisas, mas, acima de tudo, ele se relaciona com as áreas em que a pessoa se sente mais insegura. Assim, é comum vivenciar essa sensação quando vemos pessoas mais competentes que nós e sobretudo quando tememos perder o vínculo com os nossos parceiros amorosos e, por que não, até mesmo com os nossos amigos.

O ciúme ocorre não só dentro de um relacionamento amoroso (embora esse seja o caso mais típico), mas também entre irmãos, primos, amigos, parentes, colegas de trabalho, etc. É por isso que esse sentimento, presente em todas as culturas há milhares de anos, faz parte de canções, mitos, lendas, livros e, sem dúvida, pesquisas científicas.

Casal zangado por ciúmes

Partindo da ideia equivocada de que alguém nos pertence

Se deixássemos de lado a percepção de que o outro é nossa propriedade, o ciúme não existiria. Simples assim. Por natureza, o ser humano se desenvolve em um entorno no qual se apropria de tudo ao seu redor. Ficamos com algo porque gostamos, porque é algo que nos faz bem, que nos diverte e porque queremos que esteja à nossa disposição quando quisermos.

No caso específico do relacionamento amoroso, que é onde há mais casos de ciúme, os sentimentos e as opiniões de ambos deveriam ser igualmente considerados. Ou seja, é preciso alcançar um equilíbrio. Não podemos querer que o outro seja um objeto que faça o que quisermos, quando, como, onde e por todas as vezes que quisermos.

Por outro lado, algo que os psicólogos evolucionistas nos dizem é que o ciúme é um tipo de emoção que não deve ser reprimida. E isso não deve ser feito por uma razão muito simples: se o negarmos e escondermos, ele permanecerá em nós, latente e perigoso. Assim, devemos entendê-lo como o que ele é: um sinal de alerta que devemos administrar. Na maioria das vezes, ele surge a partir de medos infundados e inseguranças, dimensões psicológicas com as quais nós mesmos devemos lidar.

Qual é a raiz do ciúme?

Nos anos 90, realizou-se um extenso estudo da Universidade de Nova York que buscava entender a raiz do ciúme. Os resultados apontaram para algo que os próprios psicólogos já conseguiam intuir: por trás do ciúme está a insegurança, a baixa autoestima e, acima de tudo, uma criação na qual não houve apego saudável. Assim, conforme as pessoas crescem e amadurecem, passam a desenvolver comportamentos dependentes em relação aos parceiros e, por essa razão, o ciúme se torna muito frequente.

Por outro lado, um estudo publicado na revista Developmental Psychology alerta para algo que não podemos ignorar. Nossos adolescentes estão se tornando cada vez mais ciumentos e controladores. Atualmente, o ciúme e a agressividade, bem como o abuso e o controle em relação ao parceiro são realidades que vemos com cada vez mais frequência. Isso é algo para refletirmos a respeito.

Dependência, falta de autoestima e medo da solidão: a chave para o ciúme

Em um relacionamento amoroso, cada pessoa precisa da sua autonomia. Precisa poder decidir e crescer, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Criar um vínculo satisfatório com a pessoa amada implica saber crescer na relação, criando vínculos fortes, mas também sabendo se desapegar para que tanto um quanto o outro sejam capazes de alcançar os seus objetivos pessoais.

Você acha que existe maior demonstração de amor do que a pessoa ao nosso lado ser feliz e ter o livre arbítrio para fazer o que quiser?

Nesse momento, certamente pensamos: “Se eu “deixar” ele(a) fazer o que quiser, ele(a) sem dúvida vai me trair ou deixar de se comportar como deveria”. Assim, a razão ou a causa mais importante do ciúme é o sentimento de autodesvalorização, a baixa autoestima e o medo de ser abandonado.

Conforme podemos ver, essa presença de medos excessivos, bem como a falta de desenvolvimento emocional e pessoal gera altos níveis de infelicidade a longo prazo. Então, o que será que podemos fazer para “curar” o ciúme?

É fundamental ir diretamente à raiz do problema. É normal que todos nós tenhamos partes de que não gostamos ou que gostaríamos de melhorar em nós mesmos. O problema é quando rejeitamos essas partes de forma destrutiva e buscamos prejudicá-las através dos nossos pensamentos e ações.

É necessário, portanto, investir em nós mesmos e reforçarmos a nossa autoestima, bem como o nosso autoconceito e a nossa imagem pessoal. Além disso, também é vital aprendermos a dar espaço e a confiar nas pessoas que amamos.

Homem pedindo explicações à parceira

Não acredite nessa história de que o ciúme é um sinal de amor

Se o seu parceiro está controlando cada movimento seu, se ele critica como você se veste ou proíbe você de passar tempo com seus amigos e familiares, reaja e abra os olhos: esse amor não é saudável.

Se ele espia enquanto você está mandando mensagens ou e-mails, se ele se sente inquieto quando você vai trabalhar e procura desculpas para você ficar em casa, ou se quando você volta de algum lugar você precisa passar por algum tipo de interrogatório, reaja. Talvez seja hora de conversar e de deixar certas coisas claras.

Diz-se que é impossível recuperar uma pessoa que tem um ciúme doentio, mas o que pode ser feito é evitar que as coisas se agravem. Como? Falando sobre o assunto, fazendo com que a pessoa entenda que tem um problema (ainda que não tenha percebido) e também ajudando essa pessoa a entender que a confiança é muito importante em um relacionamento.

Aceitar os sentimentos que vivenciamos e tentar entendê-los, bem como conversar sobre eles com o nosso parceiro, é uma boa solução.

Portanto, vamos evitar que o ciúme sabote os nossos relacionamentos e não vamos hesitar em pedir ajuda quando acharmos necessário. Às vezes, por trás do comportamento ciumento, podem se esconder transtornos emocionais ou de personalidade que precisam ser trabalhados. Não vamos deixar para resolver amanhã a infelicidade que sentimos hoje.


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