A síndrome amotivacional, consequência do consumo de cannabis
Baseado, badego, fino, banza, bagulho, erva… Sim, senhoras e senhores, todas essas palavras dizem respeito ao consumo de cannabis (maconha). Hoje vamos falar da relação do consumo dessa droga com a síndrome amotivacional.
Nos últimos anos foram produzidas muitas evidências científicas sobre as propriedades terapêuticas dos canabinoides. Alguns exemplos são a analgesia, diminuição da pressão intraocular, efeito antiemético em vômitos induzidos por quimioterapia antineoplásica, propriedades relaxantes musculares em diversas doenças como esclerose múltipla, traumatismos medulares e alterações do movimento.
Não obstante, seu uso recreativo também é enormemente difundido na nossa sociedade. Ela é, na verdade, a droga mais consumida de todo o mundo. Isso é bastante preocupante, conforme você vai perceber a partir dos dados que vamos trazer a seguir.
A síndrome amotivacional tem uma maior probabilidade de aparecer em pessoas que têm um consumo regular de cannabis durante um longo período de tempo.
“A apatia é a solução, ou seja, é mais fácil se entregar às drogas do que enfrentar a vida, roubar o que se quer do que batalhar para ganhá-lo, bater em uma criança do que ensiná-la. Por outro lado, o amor requer esforço, trabalho”.
-Morgan Freeman-
O que é a síndrome amotivacional?
A síndrome amotivacional é definida como um estado de passividade ou indiferença que se caracteriza pela existência de dificuldades cognitivas, interpessoais e sociais generalizadas e que está relacionada com o consumo de cannabis durante anos – a intoxicação crônica por THC.
Esse estado pode se manter mesmo após a interrupção do consumo. A pessoa não sente vontade de fazer nada, fica em estado contínuo de anedonia, não tem motivação ou entusiasmo e apresenta uma falta de interesse generalizada ou apatia.
A motivação é o interesse em satisfazer uma determinada necessidade, que gera um impulso para realizar um comportamento que produz a dita satisfação. Ela está envolvida na ativação, direcionamento e manutenção do comportamento.
O consumo de cannabis faz com que toda motivação para realizar outras tarefas que não o próprio consumo de cannabis desapareça ou diminua em intensidade. O prazer oferecido pelo consumo da droga aumenta e as outras motivações – como trabalhistas, interpessoais, de relacionamento – diminuem.
“Necessariamente o entusiasta vence o apático. Não é a força do braço, nem a virtude das armas, mas sim força da alma que alcança a vitória”.
-Johann Gottlieb Fichte-
Qual é o efeito do consumo regular de maconha durante muito tempo?
Quando o consumo se prolonga por muito tempo, a droga ocupa o primeiro lugar na lista de interesses e se constitui como uma necessidade básica. Isso faz com que as outras necessidades fiquem em um segundo plano e toda a vida gire ao redor da droga.
Outros incentivos não exercem uma força suficientemente grande, já que as alterações cognitivas presentes por causa do vício fazem com que o sujeito relaxe e com que as outras motivações desapareçam.
O consumo prolongado da substância provoca um comprometimento cognitivo que, ainda que o consumo seja interrompido, persiste em algum nível e em relação a uma parte da sintomatologia.
Apesar de já estar clara a relação entre o consumo de maconha e a síndrome amotivacional, ainda não foi comprovado que essa problemática está diretamente causada pela cannabis, ainda que tudo aponte para que o consumo ajude a desencadear a condição.
“Deixar-se levar passivamente é impensável”.
-Virginia Woolf-
Sinais e sintomas da síndrome amotivacional
Os sinais e sintomas dessa síndrome são os seguintes, ainda que seja necessário lembrar que não é necessário que todos eles estejam presentes ao mesmo tempo.
Um deles é a apatia do tipo emocional, que consiste em:
- Redução da vontade para executar ações
- Incapacidade para finalizar tarefas
- Incapacidade para avaliar as consequências futuras dos atos
- Desinteresse
- Passividade
- Dificuldades para manter a concentração e a atenção
- Alterações da memória
- Indiferença
- Falta de introspecção (não há consciência do estado em que se está, da síndrome)
- Demora na realização de tarefas
- Despreocupação em relação ao futuro
- Desinteresse em fazer atividades duradouras ou que requerem maior concentração
- Baixa motivação para o trabalho ou para a escola
- Despreocupação pelo cuidado pessoal
- Desinteresse sexual
- Diminuição dos reflexos
- Frustração
- Lentidão para deslocamento e lentificação dos movimentos
- Redução generalizada de qualquer atividade (profissional, social, lazer, etc)
“A fraqueza de atitude se torna fraqueza de caráter”.
-Albert Einstein-
A nível cognitivo, a sintomatologia produzida pelo consumo de cannabis crônico produz alterações nas funções executivas. São elas:
- A antecipação do futuro e estabelecimento de metas
- O planejamento
- A inibição de respostas
- A seleção de comportamentos apropriados segundo o contexto
- A organização tempo-espacial
- A flexibilidade cognitiva
- O sequenciamento de comportamentos
- A tomada de decisões
- A memória de trabalho
A nível social, a sintomatologia descrita gera uma diminuição das interações com outras pessoas, gerada por uma perda de interesse em participar de situações sociais, em atividades de qualquer tipo, por uma apatia e uma passividade. Isso faz com que as redes de apoio do indivíduo sejam afetadas. Toda essa sintomatologia pode produzir:
- Baixo desempenho acadêmico e/ou laboral, devido a dificuldades para estudar e para aprender
- Isolamento social, ao diminuir as interações com outras pessoas
- Ausência de planos futuros
- Predisposição para se envolver em conflitos com as autoridades
- Não perseguir metas
O que pode ser feito para tratar a síndrome motivacional?
O primeiro objetivo de tratamento deve ser a diminuição progressiva do consumo de cannabis até sua eliminação total, já que se alguém tem uma síndrome amotivacional e consome maconha na fase de reabilitação, dificilmente reverterá a situação.
O vício pode ser superado através do trabalho psicoterapêutico para reabilitar os déficits que persistirem, sendo possível usar psicofármacos se for necessário.
O tratamento mais comumente usado são os fármacos antidepressivos, junto à terapia cognitivo comportamental, para estimular a pessoa a retomar as atividades diárias, melhorar as relações com os familiares e trabalhar sobre o tipo de pensamento que leva à apatia e inatividade.
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